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Como retaliação por ter perdido as eleições na região, os cortes feitos por Bolsonaro nas verbas destinadas à Operação Carro-Pipa (OCP) já afetam a vida der mais de 1,6 milhões de pessoas em oito estados do nordeste. Moradores das zonas rurais do Nordeste estão sobrevivendo de doações para continuar a ter água em suas casas.

Esse é a segunda vez que Bolsonaro corta verbas do programa. O primeiro corte ocorreu logo após o segundo turno das eleições presidenciais. O governo só liberou os R$ 21,4 milhões, para Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) tentar normalizar a operação, após repercussão negativa. Mas em dezembro, enquanto contratava empresa de mudança para sair do palácio do planalto, Bolsonaro fez outro corte deixou novamente a região sem água. A operação é uma parceria de duas décadas entre o MDR e o Exército.

Geralmente os pipeiros visitam os sítios de três a quatro vezes por mês, em dezembro, mas, de acordo com reportagem da Folha PE, houve um único abastecimento até o domingo (18). A água da ‘OCP’ serve principalmente para beber, cozinhar e fazer a higiene pessoal, destinando cerca de 20 litros de água por pessoa ao dia.

Pernambuco é o estado com maior número de pessoas atendidas, com cerca de 530 mil beneficiados em 105 municípios. No Rio Grande do Norte, segundo o site do Exército, são 56.593 pessoas atendidas por 167 pipeiros em 41 municípios. O programa atende os oito estados do Nordeste, além de Minas Gerais, mas os dados deste estado e de Alagoas não estão disponíveis. Ao todo, os beneficiários chegam a 1.038.122 pessoas em 240 municípios.

Em Santa Cruz (RN), cidade a 117 km de Natal, são 3.677 as pessoas beneficiárias do programa e 12 pipeiros, segundo informações da plataforma do Exército Brasileiro. Contudo, de acordo com o portal UOL, apesar da situação no município aparecer como “em execução” na plataforma, famílias da zona rural não viram até agora a situação se regularizar e muitas estão sendo obrigadas a banhar-se com água salobra.

Diante do corte, dez senadores acionaram o Ministério Público Federal (MPF) e o Tribunal de Contas da União (TCU) para garantir a continuidade da Operação Carro-Pipa e condenaram a interrupção do programa no plenário da Casa na última semana. Em plenário, diversos senadores reagiram à interrupção.

A senadora Zenaide Maia (PROS-RN) condenou os corte e fez um apelo para que o Governo Federal retome rapidamente a distribuição de água. “ Aqui a gente diz: quem tem fome tem pressa. Imagine quem tem sede, gente! É, no mínimo, essa sensibilidade. É um programa de 20 anos, por favor. As pessoas não têm culpa de chover menos no Nordeste, de não reservar água, porque a gente está vendo que a situação do clima está assim. Agora, suspender o carro-pipa é de uma crueldade difícil de a gente acreditar! Estão todos desesperados, porque não está chegando água nem para beber.”

Segundo a senadora Daniella Ribeiro, do PP da Paraíba, os prefeitos das cidades que mais dependem desse serviço estão preocupados, pois alguns só têm condições de manter o abastecimento de água por mais 15 dias. “Venho aqui para fazer um apelo ao governo federal para que não abandone o nosso sertanejo, o nosso povo, que depende dessa água, não apenas para beber, como também para manter as pequenas lavouras de subsistência. Não é possível que agora os nordestinos sofram as consequências dessa falta de serviço”, disse Daniella.

Já a senadora Eliziane Gama, do Cidadania do Maranhão, afirmou que é inadmissível quaisquer retaliações aos nordestinos em função do resultado das eleições.

“Pasmem! Quando você pegava as redes sociais, você via lá os memes, os comentários nas redes sociais: ‘A Região Nordeste não votou, em sua maioria, neste Presidente Bolsonaro. Agora vão lá prejudicar a Região Nordeste’. E há, inclusive, de forma até com xenofobia, várias palavras em relação à Região Nordeste, mas eu não imaginava, que o governo federal ia cortar recursos do programa Operação Carro-Pipa para as famílias da Região Nordeste. E é a informação que nós estamos obtendo agora. Isso aqui não é nem uma questão política; isso aqui é uma questão humana”, disse Eliziane.

Os senadores pedem a retomada imediata do serviço, com aplicação de multa e sanções em caso de descumprimento, além da abertura de um inquérito para investigar os motivos que levaram à suspensão dos repasses e punir eventuais responsáveis.

Assinam o documento os senadores: Randolfe Rodrigues (Rede-AP); Dario Berger (PSB-SC); Zenaide Maia (Pros-RN). Também assinaram os senadores Paulo Rocha (PR), Jean Paul Prates (RN), Humberto Costa (PE),  Fabiano Contarato (ES), Jaques Wagner (BA), Paulo Paim (RS) e Rogério Carvalho (SE), todos da bancada petista.

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(BL)