O que o sindicalismo quer do governo Lula?
“O caminho da mudança passa pela reconstrução do que foi destruído ao longo dos últimos anos.” Esta é a síntese da resolução política aprovada pela direção nacional da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), em reunião encerrada na sexta-feira (9), a 22 dias da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Os rumos do futuro governo estavam no centro do debate da reunião, que também avaliou a importância da vitória de Lula nas eleições 2022. “Cansado, o povo votou por mudança e derrotou toda a máquina pública, usada de forma escandalosamente ilegal, o obscurantismo religioso, a diabólica rede de fake news, as arbitrariedades da Polícia Rodoviária Federal e Polícia Federal, manipuladas pelo presidente, o criminoso assédio eleitoral dos patrões e as artimanhas fascistas do Clã Bolsonaro. Foi uma vitória gigante”, aponta a resolução.
Para a CTB, há urgência em uma série de medidas a serem tomadas pelo futuro governo: “novo Bolsa Família no valor de R$ 600; redução substancial das taxas de juros; salário igual para trabalho igual; resgate dos símbolos nacionais como a bandeira e o hino; a restauração da política de valorização do salário mínimo, de forma a assegurar seu aumento real; a garantia do Piso Nacional da Enfermagem; revogação das reformas trabalhista e previdenciária; proibição da terceirização das atividades-fim; bem como a recomposição da fonte de financiamento do movimento sindical”.
A resolução avança: “Políticas públicas de geração de emprego, passando pela redução da jornada de trabalho e recuperação da economia, são também inadiáveis, assim como o fortalecimento do SUS, o socorro à ciência, às universidades, ao meio ambiente, a valorização da agricultura familiar e o resgate de programas de assistência social e combate à fome e miséria. Urge garantir direitos trabalhistas e previdenciários para trabalhadores e trabalhadoras das plataformas”.
Na visão da CTB, a reconstrução “requer forte protagonismo do Estado e substancial ampliação dos investimentos públicos, o que por vez pressupõe a mudança da política econômica, desarmando a bomba do tripé macroeconômico”. É preciso contrariar os interesses da burguesia, diz a central. “Defendemos o fortalecimento dos bancos públicos como instrumentos indutores do desenvolvimento, a retomada de uma política industrial e investimentos em pesquisa para construirmos uma verdadeira soberania tecnológica”.
Mas como chegar à “reconstrução nacional” e à um “Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, com democracia, soberania e valorização do trabalho”? De acordo com a resolução da CTB, é necessária “uma grande mobilização e unidade das forças democráticas e populares para isolar a extrema direita, criar uma nova correlação de forças e reunir uma ampla frente política e social em apoio às mudanças, sob a liderança da classe trabalhadora”.
Além disso, “é preciso fortalecer a nossa comunicação com o povo para enfrentar em melhores condições a guerra cultural contra o neofascismo, cuja força, traduzida na votação em Bolsonaro e na extrema direita, não deve ser subestimada. É fundamental lutar pelo êxito do governo Lula para deter o avanço da barbárie neofascista”.
Na política externa, a prioridade, segundo a CTB, é garantir “a integração democrática e solidária dos povos, o fortalecimento das relações econômicas, culturais e políticas, bem como da Unasul, que terá de ser reconstruída, e a Celac. A integração é estratégica para o desenvolvimento nacional do Brasil e demais países latino-americanos e caribenhos”.