Traído por Bolsonaro, Sergio Moro pode perder mandato de senador
Antes mesmo de tomar posse, o ex-juiz Sérgio Moro pode perder o cargo de senador conquistado pelo União Brasil, no Paraná, nas eleições 2022. Tudo porque o PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, foi à Justiça Eleitoral para pedir a cassação de seu mandato.
A ação cita irregularidades contábeis na candidatura de Moro ao Senado, como as falhas em sua prestação de contas apontadas pelo TRE-PR (Tribunal Regional Eleitoral do Paraná). Ao longo da campanha, o ex-juiz também foi notificado por produzir materiais que não respeitavam as especificações impostas pela legislação eleitoral.
Moro venceu a eleição em 2 de outubro com 33,50% dos votos válidos. Sua campanha focou no discurso antipetista e foi marcada por críticas constantes ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que viria a derrotar Bolsonaro na eleição presidencial. A parceria inesperada com Bolsonaro – que havia lhe humilhado no governo – foi decisiva para garantir uma vitória apertada. Paulo Martins (PL), em tese o candidato bolsonarista, teve 29,12% dos votos e terminou a disputa em segundo lugar.
Uma vez eleito, Moro se incorporou à campanha de Bolsonaro no segundo turno e teve papel de destaque na estratégia definida pela coligação – o ex-juiz chegou a acompanhar o presidente nos debates televisivos. Como Bolsonaro não foi reeleito, Moro se guardava para o papel de senador anti-Lula.
Porém, o União Brasil trabalha para compor a base do presidente eleito, o que inviabiliza a permanência de Moro no partido. O ex-juiz sondou o próprio Bolsonaro sobre a possibilidade de se filiar ao PL – mas, nesse caso, é o próprio partido que rejeita Moro por seu passado de abusos e ilegalidades à frente da Operação Lava Jato.
Agora, depois que o PL foi à guerra para anular a eleição e tomar sua vaga no Senado, Moro acusou o golpe. “Soube pela imprensa que Fernando Giacobo, Presidente do PL/PR, e @PauloMartins10, segundo colocado nas eleições paranaenses, ingressaram com ação buscando cassar meu mandato de Senador”, tuitou.
Como de praxe, o texto partiu para ataques sem lógica nenhuma ao PT. “Anote esses nomes. Maus perdedores que resolveram trabalhar para o PT e para os corruptos”, esbravejou Moro. “Impressiona que há pessoas que podem ser tão baixas. O que não conseguem nas urnas, tentam no tapetão.”
Mas, após saber (também pela imprensa) que a ação teve o aval da direção nacional do PL – e, portanto, o conhecimento do próprio Bolsonaro –, Moro não deveria ter mais dúvidas da traição. O caso corre em segredo de Justiça e provavelmente não vai prosperar. Seus primeiros efeitos simbólicos, porém, estão à vista de quem quiser ver.