O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro (PL), acredita que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), terá uma relação harmoniosa com as Forças Armadas ao longo de seu terceiro governo. Em entrevista à CartaCapital, Santos Cruz afirma que não há motivos para “ficar com apreensão nessa área”.

“O governo Lula não vem com grande surpresa. Por duas vezes, ele já foi presidente”, lembra o general. “Ter muita expectativa de surpresa é fugir da realidade. Das outras duas vezes não me lembro de ter problema nenhum das Forças Armadas ou do Ministério da Defesa com o governo do presidente Lula. Não vejo nada disso.”

Para Santos Cruz, Lula e sua equipe precisam “reconhecer algumas coisas que fez de errado lá nos outros dois governos, gente que se comportou de maneira errada”. Mas essa autocrítica não envolve Exército, Marinha e Aeronáutica. “Na área militar, não me lembro de nada marcante que tenha prejudicado as Forças Armadas. Pelo contrário, foi uma convivência normal – e acredito que vai ser normal também.”

O ex-ministro critica o atual presidente, que o levou ao poder. E critica especialmente o “o silêncio de Bolsonaro” após a derrota para Lula nas eleições 2022. Na visão do general, esse silêncio “é inaceitável” para um chefe de Estado. “Um presidente da República – ou qualquer autoridade pública – ganha para trabalhar e tem de se manifestar sobre os principais problemas nacionais. É uma obrigação.”

Segundo Santos Cruz, Bolsonaro “tem de se manifestar, tem de dizer o que ela pensa. Tem a obrigação de transmitir paz social ou uma orientação segura, mesmo que seja errada. Ela tem de ter convicção daquilo que vai transmitir à população. Não tem cabimento, não se pode aceitar o silêncio de uma pessoa que está nesse nível do Poder Público”.

A seu ver, a troca de Bolsonaro por Lula deve ajudar a pacificar o Brasil. “Ele tem de ser um governo de diálogo, de união nacional – não todo mundo pensando igual, mas um governo que restabeleça o respeito nas discussões, nas diferenças de posicionamento. Até para diminuir esse clima de animosidade e de confrontação que existe hoje”, afirma. “Ele tem de ter essa visão de ser um governo para todos os brasileiros, inclusive para sua grande oposição. Que isso seja construtivo para o País.”