Foto: Marcelo Camargo ABr

Com as taxas de juros nas alturas sangrando recursos da União, Estados e municípios e extorquindo as pessoas físicas e jurídicas, os três maiores bancos privados do Brasil (Itaú Unibanco, Bradesco e Santander) embolsaram a quantia de mais de R$ 16,4 bilhões no terceiro trimestre de 2022.

Entre julho a setembro deste ano, o espanhol Santander obteve um lucro líquido de R$ 3,122 bilhões, o Bradesco registrou um lucro líquido de R$ 5,211 bilhões e o Itaú Unibanco mais R$ 8,1 bilhões.

Os bancos Bradesco e Santander tiveram reduções em seus lucros no terceiro trimestre em comparação com o mesmo período do ano anterior e culpam o aumento de inadimplência por tal feito – como se o sistema financeiro não tivesse nenhuma responsabilidade sobre a explosão da inadimplência no país.

No Brasil, campeão mundial de juros reais (descontada a inflação), os bancos passaram a extorquir ainda mais os cidadãos após o Banco Central (BC) – que está sob controle total do mercado financeiro por decisão do governo Bolsonaro – ao elevar a taxa básica de juros da economia (Selic) em março de 2021, de 2% ao ano para os atuais 13,75% ao ano. Com esse choque de juros altos, realiza-se cobranças de juros que não se praticam em nenhum outro lugar do mundo. De acordo com dados do BC, divulgados no dia 27 de outubro, instituições bancárias estão cobrando juros de quase 400% ao ano no rotativo do cartão de crédito (388,7% a.a.) e de 134,6% a.a. no cheque especial.

Os bancos buscam engordar suas riquezas num ambiente de estagnação econômica com a inflação, a queda da renda e o desemprego pesando sobre os ombros da maioria dos brasileiros.

Em outubro, a proporção de famílias que se declararam inadimplentes chegou a 30,3%, o maior nível da série histórica da pesquisa de endividamento e de inadimplência da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), iniciada em janeiro de 2010. Em um ano, o indicador da inadimplência avançou 4,7 pontos percentuais – o maior desde março de 2016. A grande maioria das dívidas atrasadas dos brasileiros são com as instituições financeiras.

“Nunca tínhamos tido uma proporção tão alta de famílias com dívidas atrasadas”, afirmou a economista e responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, ao alertar que os “juros altos têm dificultado o pagamento das contas dentro de um mês”.

Segundo a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), mais de 64 milhões de brasileiros estão com dívidas atrasadas, a maior parte devendo a bancos. Cartão de crédito, cheque especial e empréstimos respondem por 61,18% das dívidas.

O efeito dos juros altos também é maléfico para o setor produtivo, já que o crédito mais caro dificulta o consumo de bens de consumo, além de travar os investimentos e elevar o endividamento e a inadimplência das empresas. De acordo com a Serasa, mais de 6 milhões de empresas estão com contas atrasadas, a grande maioria são pequenas e médias empresas.

A produção industrial brasileira caiu -0,7% em setembro, a mesma queda que registrou em agosto (-0,7%), segundo o IBGE. No terceiro trimestre, enquanto os bancos lucraram, e muito, a produção industrial recuou -0,3%. No acumulado do ano caiu 1,1% na comparação com o mesmo período de 2021, obtendo resultados negativos em todas as grandes categorias econômicas, 15 dos 26 ramos, 56 dos 79 grupos e 61,0% dos 805 produtos pesquisados. Neste período, destaca-se ainda, os resultados negativos para as produções de Bens de consumo duráveis (-5,3%) – reflexo das reduções na fabricação de eletrodomésticos (-16,4%), especialmente os da “linha branca” (-20,3%).

Enquanto os bancos lucraram, e muito, as vendas do comércio varejista também recuaram. No terceiro trimestre, o comércio varejista restrito caiu -0,3%. No acumulado do ano até setembro, as vendas apresentaram um crescimento de apenas 0,8% e nos últimos doze meses registram queda de -0,7%. Quando analisada de modo ampliado (incluindo as atividades de veículos, motos, partes e peças e Material de construção), as vendas do setor tiveram recuo de -0,6% no acumulado de nove meses e, nos últimos 12 meses, queda de -1,6%.

“O varejo apresentou deterioração em jul-set/22 quando comparado ao mesmo período do ano passado, movimento que foi liderado por ramos que tendem a sentir mais a piora das condições de crédito, devido à alta de juros e da inadimplência”, destacou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi).

Os juros altos, em valores reais, o mais elevados do mundo, propiciou a transferência de recursos da União, Estados e municípios para o setor financeiro, por meio dos encargos da dívida pública. Em 12 meses até setembro, o governo Bolsonaro passou para os bancos a soma de R$ 591,996 bilhões, montante que representa R$ 239,4 bilhões a mais do que foi pago em juros para o mesmo período de 2021 – recursos que, certamente, estão fazendo falta para os serviços públicos e para alavancar investimentos no setor produtivo.

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(BL)