EUA fragmentou e marginalizou o espaço de segurança europeu, afirma Lavrov
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, denunciou nesta quinta-feira (1) que a ação inescrupulosa dos Estados Unidos, exacerbada neste ano com sua intervenção no conflito militar com a Ucrânia, fez com que tenham se acirrado os problemas na chamada Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
O fato, assinalou o chefe da diplomacia russa, é que “o espaço de segurança na Europa está definitivamente se fragmentando e a própria OSCE está se tornando, para dizer de forma branda, uma entidade marginal”.
De acordo com Lavrov, esta é uma boa ocasião para se olhar e refletir quanto ao papel que a organização tem desempenhado desde sua criação. “Desde então, tem havido mais e mais problemas”, advertiu, sendo que hoje se acumularam tantos e tamanhos que colocam a existência da OSCE em xeque.
Existe um quadro muito claro, alertou o ministro russo, em que a presidência da Suécia na OSCE não é a de um “agente honesto”, mas de “participante ativo da política ocidental”, submetido às orientações de Washington. A seu lado, a Polônia no ano passado “cavou o túmulo”, o fim, da organização, através da destruição dos restos da cultura de diálogo e consenso.
DIPLOMACIA DA SUBSERVIÊNCIA
O fato de estar sendo criado um espaço de segurança sem a Rússia e a Bielorrússia, condenou Lavrov, é uma demonstração de que “toda a segurança da Europa está agora reduzida a ser totalmente subserviente em relação aos Estados Unidos”. Todas essas ações, apontou Lavrov, são explicadas pela tentativa estadunidense de capturar a organização por meio de uma “privatização”.
“Até agora, ouvimos dos principais diplomatas europeus declarações no mesmo espírito das de Josep Borrell, [chefe das Relações Exteriores da União Europeia], que tem repetido como um mantra desde o início da operação militar especial que ‘este conflito deve terminar com a vitória da Ucrânia no campo de batalha’. É esse um diplomata europeu”, lembrou Lavrov.
“Se é isto que é entendido como diplomacia europeia, não creio que precisemos ir lá”, constatou o ministro russo, enfatizando que seu país aguarda para participar, mas no momento em que houver “pessoas sãs na diplomacia europeia”. Segundo Lavrov, a Rússia trabalha com afinco para que as pessoas que promovem uma política de ódio na Ucrânia e na Europa sejam afastadas.
Para Lavrov, é mais do que evidente que os EUA e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) estão envolvidos na guerra da Ucrânia, estão diretamente envolvidos, não apenas fornecendo armas, mas também treinando pessoal. Vocês estão treinando militares em seu próprio território, no território do Reino Unido, Alemanha, Itália e outros países”.
POSIÇÃO RUSSÓFOBA E RACISTA DA OTAN
No entendimento do ministro, há uma posição russófoba e até racista de países como a Polônia e dos países do Báltico, que vem sendo utilizada pelos EUA para alargar a Otan. “O que [o secretário de Estado dos EUA] Antony Blinken disse é muito revelador em termos de quem está dirigindo a orquestra na Otan. Esta ideia dos três mares, construir um cordão contra a Rússia do mar Negro ao mar Báltico, é originalmente polonesa, apoiada ativamente pelos países do Báltico, e promovida como uma conceção para restabelecer a grandeza polonesa”, citou.
Sergei Lavrov chamou de “mentira descarada” as declarações da União Europeia de que não há sanções contra a exportação de alimentos e fertilizantes russos. Embora a rubrica de “Fertilizantes e alimentos da Rússia” não esteja nas listas de sanções, protestou, há uma proibição de transações bancárias, incluindo as realizadas pelo principal banco russo, o Rosselkhozbank, que responde por mais de 90% dos pagamentos das exportações de alimentos da Rússia.
As sanções também incluem a proibição de navios da Rússia acessarem portos europeus, de navios estrangeiros acessarem portos russos, além de impedirem o fretamento e seguro de navios, condenou Lavrov, acrescentando que, apesar do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, estar tentando desbloquear as exportações russas, os EUA e a UE há cinco meses vêm reagindo muito lentamente. Na prática, esta também “é a maneira de mostrar quem manda na casa”.
“Aqueles que durante décadas defenderam a liberdade do mercado, a liberdade de concorrência, agora ditam os preços. Este é certamente um desenvolvimento interessante, que, entre outras coisas, envia um sinal muito poderoso a longo prazo a todos os Estados, sem exceção, de que é preciso pensar em como deixar de usar as ferramentas impostas pelo Ocidente como parte de seu sistema de globalização”, concluiu o ministro.
PAPIRO
(BL)