Uma multidão lotou o centro da capital espanhola (Oscar Del Pozo/AFP)

A manifestação que ocupou as avenidas centrais de Madri reuniu cerca de 200 mil pessoas “em defesa da saúde pública” e contra um modelo que visa privatizar os serviços básicos e desmantelar os centros de cuidados primários, que são os de primeiro contato com o paciente. A marcha, uma das mais massivas dos últimos anos, tornou-se um repúdio público à gestão da atual dirigente da Comunidade de Madri, Isabel Díaz Ayuso, por sua gestão na saúde e pelos cortes que realiza.

O protesto aconteceu pouco antes de uma greve anunciada por pelo menos cinco mil médicos para 21 de novembro, condenando “a sobrecarga de trabalho, a lista interminável de consultas médicas e o tempo insuficiente gasto com os pacientes”. Um dos coordenadores do protesto, o profissional de saúde Luis Lopez, diz que está começando uma luta para manter as pessoas na profissão.

A Associação de Médicos e Graduados de Madri (AMYTS) afirmou que os serviços de atenção primária à saúde na área de Madri estão sob enorme pressão há anos, devido à escassez de recursos e de funcionários que, por sua vez, é resultado das medidas de arrocho impostas durante a crise financeira do país há uma década.

Os sindicatos de médicos, enfermeiros, funcionários administrativos do sistema público de saúde da capital espanhola e associações de moradores começaram a se mobilizar há alguns meses, quando foi ativado o novo plano de “atenção primária”, cujo objetivo é manter e melhorar os centros clínicos de bairro como o primeiro encontro com o paciente, incluindo serviços de emergência. O problema é que após o colapso do sistema de saúde como resultado da pandemia de Covid-19 aumentou a saturação dos hospitais e o crescimento das listas de espera para intervenções cirúrgicas, exames médicos e análises. E, o mais grave, cresceu a dificuldade de encontrar médicos ou pessoal de saúde para contratar, especialmente porque há algum tempo há uma fuga massiva de profissionais para outros países onde os salários são melhores, como o Reino Unido, Alemanha e França.

A isso tudo se soma a aceleração inflacionária a corroer os salátios, situação agravada desde a adesão espanhola às sanções impostas à Rússia o que incidiu nos preços de energia cobrados aos consumidores do país e de toda a União Europeia.

Além de mais investimentos em saúde, os manifestantes também exigem a renúncia da chefe de governo regional de Madri, Isabel Díaz Ayuso, do reacionário Partido Popular. “Ayuso: privatizar é roubar”, estava escrito em muitas faixas carregadas na marcha.

A União Geral dos Trabalhadores (UGT), a Confederação Geral do Trabalho (CGT) e todas as organizações que convocaram a manifestação, às quais se juntaram também os principais partidos de centro e de esquerda, e o próprio presidente, o socialista Pedro Sánchez, lançaram uma mensagem de repúdio face ao que chamaram de “ataque sem precedentes” à saúde pública.

No manifesto, as entidades apontaram que a gestão de saúde da capital “fortalece o modelo de colaboração público-privada que supõe que por cada dois euros orçados para a saúde pública em Madri, um acaba nos bolsos privados”. E criticaram que a Comunidade de Madri, sendo a região mais rica do país, “é a que menos investe dinheiro em cuidados primários, a que gasta menos dinheiro por habitante e a que tem menos centros de saúde por 100.000 habitantes.”

Em maio próximo haverá eleições regionais e municipais em Madri, onde os neoliberais têm uma grande maioria. Essas mobilizações são um passo importante, segundo declarações do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), para vencer a direita, que governa a região há mais de 20 anos.

Papiro

(BL)