Campanha de Lula discute como ser mais cirúrgica no enfrentamento às fake news
A presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, participou do primeira reunião de coordenação da campanha da Frente Brasil da Esperança deste segundo turno, com Luis Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSB). Ele avaliou com entusiasmo este início de campanha.
“Estamos todos animadíssimos. É um feito extraordinário, apesar de toda a máquina utilizada descaradamente, com orçamento secreto, passando por esse pacote eleitoreiro. Não foi simples chegar até aqui, com uma resiliência grande do pensamento conservador no país”, analisou, citando um fenômeno de extrema-direita, que avança pelo mundo.
“Podemos dizer que foi por um triz que não resolvemos já essa parada”, afirmou Luciana, fazendo referência aos 48,43% dos votos obtidos por Lula (contra 43,2% de Jair Bolsonaro). Mais 1,57% de votos e a eleição terminaria no primeiro turno.
Ela destacou também o fato deste resultado ser maior que outros obtidos pelas forças do campo progressista. “Em todas elas, nós ganhamos no segundo turno, estando no governo. No caso especifico, é a primeira eleição que quem está no governo já parte perdendo”.
A dirigente partidária também avaliou o sentimento de que as demais candidaturas podem se incorporar, pelo seu caráter democrático. “Já há uma forte operação política para o anúncio de mais adesão a nossa candidatura”.
Enfrentamento à extrema-direita
Nunca houve uma subestimação da força da direita, na opinião da vice-governadora de Pernambuco. “Porque já vimos o que aconteceu há quatro anos atrás”, disse ela, sobre o fenômeno internacional das fake news, que foi largamente utilizado na eleição de 2018, levando à eleição fraudulenta de Bolsonaro.
“Os mecanismos que eles utilizam são o jogo sujo das fake news. É preciso ver como nós somos mais cirúrgicos e como fazer uma abordagem com conteúdo e forma para enfrentar isso”, declarou.
Segundo ela, a campanha prepara uma estratégia para enfrentar o problema de maneira mais assertiva e eficaz, a fim de evitar que se consolide essa campanha baseada nas mentiras e em conceitos que nada têm a ver com o campo progressista. “Temos que fazer o bom debate de ideias, com uma abordagem concreta do que nós somos e do que representamos”.
No meio evangélico, onde se dissemina um pânico moral, Luciana diz que o governo Lula foi quem mais valorizou este segmento religioso, ao criar a Marcha para Jesus e instituir o Dia Nacional do Evangélico.
“São questões comportamentais, que nós não temos que temer, pelo contrário. Nós somos quem mais cuidamos da família”, disse ela, citando as políticas sociais e econômicas que garantem o bem estar e o futuro da família.
Luciana também não fica alarmada, como fez a imprensa, ao apontar um avanço da extrema-direita no parlamento. Segundo ela, não há uma homogeneidade entre os parlamentares eleitos. Ela contabilizou 187 deputados da soma de PP, Republicanos e PL, enquanto o campo progressista soma 107, sem considerar PDT e União Brasil (de Ciro e Simone). “Tenho pra mim que podemos estabelecer uma base política que dê mais condições de governabilidade”, apostou.
Construir maioria na política
O deputado federal reeleito, Renildo Calheiros (PCdoB-PE) também estava otimista com o cenário de campanha e do Congresso. Ele mencionou a grande vantagem de Lula sobre Bolsonaro na votação do primeiro turno.
“Combinamos como fazer essa campanha hoje. A partir de amanhã, vai estar todo mundo nas ruas”, disse ele, após sair da reunião, em São Paulo.
Quanto ao Congresso, ele também lembra que, historicamente, tem sempre uma posição mais conservadora. Mesmo quando o Lula e a Dilma venceram duas vezes, o Congresso era majoritariamente conservador.
“Mas a política existe para isso. Para buscar os entendimentos e negociações e ampliar a base de sustentação política do governo dentro do Congresso. Não há como fugir, e isso precisa ser encarado com naturalidade”, ponderou.
O líder do PCdoB na Câmara sabe que há uma necessidade política de que esses movimentos sejam feitos para construir uma maioria “com quem está lá, não com quem está fora”.
Mas ele considera equivocado e exagerado esse jogo com as emendas parlamentares que ocorre, hoje, na base de sustentação de Bolsonaro. “Isso não pode continuar assim. Sou a favor que o Congresso tenha uma participação na elaboração do orçamento, com apresentação de sugestões e emendas, mas hoje há um exagero. Mas esta análise cabe ao presidente da República estabelecer como quer trabalhar”, observou.
Pernambuco
Renildo admite que é preciso decantar uns três dias para enxergar o novo quadro eleitoral em seu estado. “Tínhamos cinco candidaturas fortes, em que qualquer uma poderia ir para o segundo turno. Muito diferente da polarização tradicional que sempre se deu em Pernambuco. Criou-se um quadro novo. Lá, o segundo turno será outra eleição”.
Ele também lamentou o resultado proporcional de Pernambuco. No legislativo, varios parlamentares importantes para a política regional ficaram sem mandato, o que ele considera “uma pena”. Citou Daniel Coelho (Cidadania), Raul Henri (MDB), Volney Queiroz (PDT), Tadeu Alencar Milton Coelho Gonzaga Patriota, todos do PSB, e Ricardo Teobaldo (Pode).
“Há uma mudança muito grande. Difícil fazer a comparação, mas acredito que seja um prejuízo muito grande não terem conseguido renovar seus mandatos, porque são parlamentares que contribuem com o debate no Congresso e a elaboração política”, declarou.
Em Pernambuco, o PSB elegeu 5 deputados. O PL ficou com 4, assim como o PP. O União Brasil elegeu 3, os Republicanos ficaram com 2 e os demais (PT, PV, MDB, PCdoB, Avante, Solidariedade e Rede) elegeram um cada. A candidata ao governo do estado, Marília Arraes (Solidariedade) teve 23,97% dos votos, contra Raquel Lyra (PSDB) com 20,58%. Três outros candidatos ficaram com cerca de 18% dos votos.
(por Cezar Xavier)