PSDB perde relevância nacional e pode não se levantar
O PSDB, que governou o Brasil duas vezes com Fernando Henrique Cardoso, decidiu pela primeira vez desde a sua fundação não ter candidato a presidente. Serviu de apoio quase nulo à campanha nanica de Simone Tebet (MDB).
A legenda estava na coligação de Simone Tebet (MDB) e tinha Mara Gabrilli (PSDB) como candidata a vice. Na prática, poucos tucanos se engajaram na campanha de Simone, se dividindo entre Lula e Bolsonaro. A senadora obteve 4,2% dos votos para presidente.
O partido perdeu pela primeira vez em 28 anos o governo de São Paulo, última esperança de manter uma relativa relevância nacional. Rodrigo Garcia, que fez carreira no DEM (hoje União Brasil) e entrou no PSDB para a disputa deste ano, ficou em terceiro na disputa, atrás de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT).
Agora começa a disputa entre Eduardo Leite (RS) e Aécio Neves (MG) pela herança/ruína do partido. Leite a maior aposta jovem do partido, e Aécio pelo que representou nacionalmente, e a reeleição por um triz à Câmara em meio as perdas eleitorais do PSDB. Mas Tarcísio também está na disputa pelo voto conservador paulista, diante do vácuo tucano.
Quase nanico no Congresso
Mesmo tendo polarizado com o PT a disputa nacional por 20 anos, o PSDB saiu do primeiro turno da eleição de 2022 com um quarto do tamanho na Câmara que tinha antes do bolsonarismo. Até então, o partido estava entre as três maiores bancadas, disputando protagonismo com PT e MDB. Para efeito de comparação, a federação dos tucanos com o Cidadania obteve 18 deputados federais, contra 99 do PL e 80 da federação que integra PT, PCdoB e PV. Com menos de 10 deputados, já seria considerado um partido nanico.
Nenhum tucano foi eleito senador neste ano e nenhum governador foi eleito no primeiro turno. Em 2018, o PSDB elegeu quatro senadores, em SP, DF, AM e AL. Foi também a sigla que governou para mais habitantes considerando as projeções da população do IBGE, desde 2019. No total, 59,6 milhões de pessoas foram comandadas por governadores tucanos em São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Agora, resta disputar o segundo turno com desvantagem no Mato Grosso do Sul, na Paraíba, em Pernambuco e no Rio Grande do Sul.
A bancada na Câmara, que já havia diminuído em 2018 para 29 deputados (era de 54), agora vai ser de 18 deputados a partir de 2023, contando com os quatro do Cidadania, que faz parte da federação com os tucanos.
A crise em São Paulo começou com uma guerra interna entre tucanos tendo o governador João Doria como pivô em 2018. Doria quase desistiu de concorrer à Presidência diante da possibilidade de não ter o apoio da legenda para disputar a Presidência. A cúpula nacional do partido convenceu Doria a sair para que Garcia assumisse o governo. Pela primeira vez, desde 1994, um tucano não comandará o maior Estado do País.
O definhar do PSDB também é percebido pelas votações pífias de suas lideranças históricas. O senador José Serra e o ex-governador do Paraná, Beto Richa, não conseguiram se eleger deputado federal, enquanto o senador Tasso Jereissati (CE) nem concorreu e se aposentou da política. Geraldo Alckmin saiu do partido e se filiou ao PSB para ser candidato a vice de Lula.
Por pouco, Aécio Neves não consegue se reeleger deputado federal. O PSDB de Minas conseguiu duas vagas para a Câmara e Aécio ficou em segundo. Aécio também teve conflitos épicos com João Doria, que tentou expulsá-lo do PSDB. Passou de principal nome da oposição, após abrir a sabotagem contra a posse da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) em 2014, para a rejeição total, após o escândalo da JBS.
Resta ao PSDB se acomodar em negociações com seus 18 deputados, seus quatro prefeitos de capitais (São Paulo, Natal, Palmas e Porto Velho), da influência no interior de SP e tentar se reorganizar a partir de Eduardo Leite e Aécio Neves. Ou correrá o risco de cair no esquecimento e na nostalgia dos gloriosos tempos de FHC e dos governos paulistas.
(por Cezar Xavier)