Super Live de Lula com artistas vira celebração da amplitude da campanha
Mesmo chovendo canivete no Complexo do Anhembi, apareceu mais gente que em comício com show sertanejo. Entrar no auditório Celso Furtado assemelhou-se a andar desavisado pelo metrô Brás, em horário de pico. Filas em que apenas se segue a multidão torcendo para estar indo para o lado certo.
O credenciamento de jornalistas já somava 250 profissionais, mas a “fila da geral” impressionava pelo clima de festa com gente muito diferente vestida para uma festa democrática. As pessoas celebrando como se a eleição já tivesse passado.
Dentro do auditório já se via drag queens com perucas altíssimas, e indígenas com seus cocares coloridos, esperando pelo começo do evento. Todo mundo vestindo alguma peça vermelha para colorir as imagens, quando a câmera filmasse. Cada vídeo que passava, cada artista que subia ao palco arrebatava mais aplausos e gritaria, num crescente de emoção e alegria. A produção caprichada enchia os olhos com imagens hipnóticas nos painéis de LED.
Mas havia também uma outra entrada, por onde entravam personalidades famosas. Uma espécie de tapete vermelho “instagramável”, do jeito que influenciadores gostam para brilhar em suas redes. Todo mundo posou ao lado do totem do Lula “fazendo o L e um coração grandão”.
Ali era a oportunidade da imprensa para fazer o tradicional “quebra-queixo” com os famosos. Ninguém estava tímido. Todo mundo apareceu na super live, atendeu aos pedidos de fotos de jornalistas e fãs e deu uma palavrinha com os jornalistas.
E não se dourou a pílula. Quem falava, expressava abertamente seu repúdio ao adversário de Lula. Argumentavam sobre a necessidade urgente de eleger o ex-presidente no primeiro turno. Contavam um pouco de suas vidas nos governos progressistas, e tudo com muita alegria. Sem rancor, mas apelando ao diálogo para que os indecisos “não vacilem num momento tão grave”.
Os artistas esperavam pacientes no tapete até chegar sua vez de passar e dar uma entrevista rápida ao ex-BBB, professor João Feitosa, e a jornalista youtuber Foquinha, para depois falar com a imprensa. Primeiro apareceram os influencers, que ficaram com os jornalistas “produzindo conteúdo” para seus perfis. Os humoristas foram os que mais tiravam selfies com os fãs. Teve Mônica Martelli e Paulo Vieira falando sério. Daniela Mercury e Pabllo Vittar, mais reservadas diante do tumulto. E Valeska Popozuda que fez a alegria dos fotógrafos e cenografistas ao cantar um funk para Lula e ainda posar fazendo graça com o totem de Lula.
Depois vieram os músicos, os apresentadores de TV, modelos, e até políticos deram uma passadinha. Nessa hora, Lula e Alckmin foram as estrelas que tumultuaram o tapete. Só se sabe o que falaram no meio da balbúrdia, aqueles que gravaram com microfone e ouvirão depois.
Após a passagem dos candidatos, as atenções de voltaram para dentro do auditório, onde o desfile de depoimentos divertidos, emocionados e reveladores se seguiram noite adentro, como um espetáculo raro, de curta temporada, para o qual não há ingresso que pague e que não se repetirá caso Bolsonaro e seus extremismos sejam silenciados da política.
Veja o clima de abertura em fotos:
Paulo Vieira: Não podemos vacilar e deixar para o 2o. turno
Um comediante que tem feito o Brasil mais feliz, com sua verve popular de quem conhece bem a realidade dos cantinhos mais remotos do país, é Paulo Vieira. Um artista vindo do Tocantins, que se tornou conhecido na pandemia e virou figura onipresente em programas da Rede Globo.
Ele foi entrevistado na entrada da Super Live Brasil da Esperança, em que artistas, personalidades, políticos e movimentos sociais se reuniram para celebrar o final da campanha de Lula e Alckmin, neste primeiro turno.
Sem meias palavras, respondeu à reportagem uma pergunta sobre a gestão da cultura neste governo, dizendo que “não houve governo”. “Houve desgoverno e destruição da cultura. Por isso, estamos todos juntos aqui. Ele tem medo da cultura e sabe que a arte e os artistas têm o poder de destruir seu governo”.
Paulo tem esperança numa gestão cultural de Lula. “Ele tem histórico de escolher bem seus ministros da Cultura”. E também defende uma derrota de Bolsonaro no primeiro turno. “Uma semana desse ser no poder consegue destruir muita coisa. Não podemos vacilar e deixar para o segundo turno”.
O humorista também disse que tem um mantra de que “heroismo é uma coisa que você só pode cobrar de você mesmo”. Para ele, cada artista que tem dificuldades para se expor eleitoralmente tem “seus motivos, seus dinheiros, suas coisas” para isso. “Estou feliz de ver amigos que nunca tinham feito isso e agora estão fazendo. Prefiro celebrar as pessoas que se juntaram a luta e saíram de cima do muro.”
Ele também defendeu a necessidade de chegar nas pessoas que votaram em Bolsonaro um dia e se sentem enganadas, em alguma medida. Para ele, não se trata de culpar essas pessoas, pois ele as enxerga como vítimas de uma enorme campanha de desinformação. “é a hora de chegar nessas pessoas e dizer, deu errado, a vida piorou, vamos voltar a reconstruir o Brasil”.
Mais do que sempre ser lulista ou eleitor de Lula, Paulo disse que sempre foi uma pessoa atenta às demandas do povo. “Nessa eleição, não tem como não votar Lula, porque ele é quem mais representa a vontade e está alinhado com o que povo precisa.”
Mônica Martelli: Não tem duas opções nessa eleição. Só tem Lula
A atriz Mônica Martelli deixou sua “vida em Marte” para dizer que não tem duas opções nessa eleição. Só tem uma. “Eleger Lula define a nossa existência. Se quiser fazer oposição a Lula, faça a partir de janeiro”. Para ela, não é o momento de votar em outro candidato para fortalecer uma terceira via. “Precisamos votar em Lula, agora, para fortalecer a democracia”, disse ela.
Ela foi entrevistada na entrada da Super Live Brasil da Esperança, em que artistas, personalidades, políticos e movimentos sociais se reuniram para celebrar o final da campanha de Lula e Alckmin, neste primeiro turno.
Ela enfatizou a necessidade das mulheres olharem para os avanços do governo Lula, enquanto a misoginia e o machismo do governo Bolsonaro grita contra elas. Mônica passou por momentos difíceis no governo negacionista e antivacina de Bolsonaro, quando seu amigo Paulo Gustavo foi atingido pela pandemia.
Além disso, ela precisava falar da necessidade de Lula para a cultura, assim como diz compreender porque alguns artistas não tomam uma posição explícita. “Medo! As pessoas estão sendo agredidas. Por isso, tem candidato que gosta de propagar o medo”, concluiu.
Anna Muylaert: Lula precisa proteger profissionais do audiovisual dos streaming
A cineasta Anna Muylaert é conhecida pelo seu engajamento político. Por isso, não poderia deixar de se posicionar neste fim de primeiro turno eleitoral. Ela foi das centenas de personalidades das artes que lotaram o Anhembi, nesta segunda (26) chuvosa e fria, para a super live Brasil da Esperança, que reuniu personalidades das artes com Lula e Alckmin.
Autora do comovente longa-metragem Que Horas Ela Volta?, Anna dirigiu com Lô Politi, em 2021, o documentário Alvorada, em que traz o dia-a-dia da presidenta Dilma Rousseff durante seu processo de impeachment, em que revelou o ambiente misógino e reacionário que sabotou o governo daquela mulher. Ao falar rapidamente com o Portal Vermelho, ela sinalizou suas principais angústias sobre este governo pós-golpe.
Ele qualifica o governo Bolsonaro como um “desgoverno da destruição” da Ancine, a agência nacional do cinema, e outras instituições culturais. Ela mencionou o modo como a luta pela Lei Aldir Blanc, de fomento cultural foi tratada pelo Executivo, dificultando sua implementação. Todo o setor cultural foi atingido pelo desmonte desse governo, especialmente na pandemia.
Ela fez referência aos eleitores que ainda resistem em votar em Lula pela polarização e a violência política que a acompanha. “São pessoas que não queriam o mesmo líder de 20 anos atrás. Eu entendo e respeito quem queira votar nesses candidatos intermediários, mas esse voto leva Bolsonaro ao segundo turno. Acredito que só tem uma possibilidade, e acho que o Lula vai ganhar”.
Novo paradigma do audiovisual
A entrada do streaming com capital estrangeiro sem qualquer regulação é sua preocupação principal. Ela espera que um futuro governo se comprometa em estabelecer regras para o funcionamento dessas corporações estrangeiras no Brasil, como Netflix, Amazon, HBO, entre outras. “Eu confio muito no Lula e em sua equipe”, afirmou.
Para a cineasta, o audiovisual deixou de ser uma área da cultura, para ser um mercado internacional. Novas regras, novo jogo, novo paradigma, de acordo com ela, em que o profissional da cultural é muito mais desvalorizado que nos anos anteriores. “A obra deixou de ter valor pelo autor, e só quem manda é o imediatismo de mercado, os patrocínios, os executivos, que não se sabe quem são”, criticou.
“A obra deixa de ter importância como cultura, para ser um produto que tem que fazer sucesso instantâneo numa semana, para que outra entre no lugar na semana seguinte. Um volume muito grande de dinheiro, que é conduzido de uma maneira muito superficial.”
Ela admite que o streaming tornou a área muito aquecida, com muita produção nacional, como ocorreu com a Lei que regulamentou a TV Paga nos governos anteriores. “Porém, como não tem regulamentação, as formas de trabalho estão sendo muito abusivas, com as pessoas tendo burnout (esgotamento profissional), sem proteção trabalhista. Virou uma terra de ninguém”, concluiu.
Valesca Popozuda: Inacreditável cogitarem votar em alguém que não seja o Lula
A funqueira carioca Valesca Popuzuda agitou o Anhembi, nesta segunda (26), quando chegou para a super live Brasil da Esperança, com Lula e Alckmin. Muito animada, falou com a reportagem e até cantou em homenagem ao ex-presidente, que disputa a Presidência da República, no domingo (2).
Para ela, é um absurdo ter que argumentar para convencer indecisos, que rejeitam Jair Bolsonaro (PL), a votar em Lula no primeiro turno. “Acho inacreditável ainda cogitarem votar em outra opção, com o governo que está aí.”
Para ela, quando Lula fala que quer ver o pobre comer churrasco, ele está falando de muito mais que isso. Está falando de educação, saúde e dignidade para os mais pobres. “Está falando de quem está sofrendo na pele, porque quem tem dinheiro não sabe o que é isso”, disse a cantora. Ela enfatizou sua origem nas periferias, assim como relata que não é rica e está na luta por seu sustento na música.
Ela também comentou esse movimento de artistas se posicionando politicamente a favor de Lula, mesmo sabendo da violência política envolvendo o bolsonarismo. “Chega uma hora que não dá pra ficar em cima do muro, porque quem sofre somos nós. Eu não vim aqui pra passar glamour, pra dar uma pinta. Vim aqui pra dizer que estou junto com ele, como disse em 2002”, afirmou.
Ela se diverte ao contar que conheceu Lula no Complexo do Alemão, quando ele foi para inaugurar obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Depois posou para a revista Playboy com uma foto de Lula na cama, que virou um enorme sucesso.
Com isso, veio a ideia de compor uma música que, depois de 14 anos, viralizou, mesmo sem ter ido para os streaming e redes. “Os fãs catam lá do fundo e, quando termino os shows gritam muito para eu cantar o Funk do Lula. Óbvio que eu canto, né?!”
Ela terminou cantando um trecho da música, a pedidos, e fazendo poses divertidas com o Lula de papelão em tamanho natural. Veja o que diz a estrofe da música:
“Conheci o Lula no Complexo do Alemão
E ele não tirou o olho do meu popozão
Com todo respeito, senhor presidente
Você gostou de mim, e o seu olhar não mente
Mas, senhor presidente, o meu papo é outro
Sou popozuda e represento a voz do morro
O Lula é do povo, escuta o que ele diz
A favela tem muita gente, que só quer é ser feliz”
(por Cezar Xavier)