Derrotados, bolsonaristas se retiram das últimas rodovias
O bloqueio ilegal de rodovias federais nasceu fadado ao fracasso no último domingo (30), tão logo se confirmou a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra Jair Bolsonaro (PL) nas eleições presidenciais. Com uma pauta difusa, apesar de um clamor crescente por “intervenção federal”, a derrota desse movimento bolsonarista era questão de tempo – e está prestes a se confirmar.
Desde domingo, conforme a PRF (Polícia Rodoviária Federal), os golpistas chegaram a interditar ou bloquear 949 pontos de rodovias em 26 das 27 unidades federativas do Brasil. Na madrugada desta quinta-feira (3), o número já havia caído para 86 em 11estados. Pela manhã, estava ainda menor: 73 ocupações em estradas de sete estados.
O fator que mais contribuiu para as desobstruções foi a resposta firme e célere do STF (Supremo Tribunal Federal), especialmente a do ministro Alexandre de Moraes. Em menos de 24 horas, a Corte já havia deliberado pela desocupação das vias, com ordens diretas à omissa PRF e às forças locais de segurança. Moraes estipulou, ainda, multas elevadas para lideranças e veículos que permanecessem à margem da lei. Até torcidas organizadas que precisavam se deslocar para outros estados ajudaram a “limpar” parte das estradas.
A rede de desinformação que abastecia – e animava – o movimento golpista sustentou, sem provas, que houve fraude nas eleições. Uma parte dos manifestantes pouco se importava com o processo eleitoral em si – mas queria porque queria impedir a chegada ao poder dos “comunistas”, dos “ladrões”.
Os organizadores procuraram, em vão, capitalizar o silêncio de Bolsonaro nos dois dias que se seguiram à apuração, seguido de seu pronunciamento propositadamente dúbio sobre as manifestações. Uma das ideias ventiladas era a de que o presidente não apenas apoiava a manobra – mas também precisava de 72 horas para poder acionar as Forças Armadas e iniciar uma intervenção militar.
Conforme essa narrativa, a regra estaria prevista no o artigo 142 da Constituição. “72 horas para o Exército tomar conta”, berrava um bolsonarista em vídeo que viralizou nas redes sociais. “Não tem político nenhum que vai chegar perto de nós – e só saímos da rua quando o Exército intervir.” Uma consulta básica à Carta Magna é o suficiente para ver que o artigo 42 se limita à organização das Forças Armadas, sem dar margem nenhuma – nem prazo – para eventuais intervenções.
As 72 horas se passaram – e nada mudou, a não ser o refluxo dos bloqueios de rodovias. Na terça, Bolsonaro declarou a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) que reconhecia a derrota nas urnas e que não contestaria a eleição. Na quarta, ele divulgou vídeo com um apelo para que o movimento “desobstrua as rodovias” federais. “Isso daí não faz parte, no meu entender, dessas manifestações legítimas. Não vamos perder nós, aqui, a nossa legitimidade”.
Mesmo sem ter alcançado nenhum efeito positivo para Bolsonaro, muito menos a intervenção federal, o golpismo se esvaziou. Com o vídeo no qual pede a desobstrução das rodovias federais, Bolsonaro tenta se mostrar na linha de frente dos acontecimentos. Era preciso difundir que, se os bolsonaristas estavam desbloqueando as estradas, não foi de modo humilhante, mas por uma orientação do presidente. À espera das próximas diretivas, o bolsonarismo fica mais distante de uma reviravolta vitoriosa. Está provado que o movimento é organizado, massivo e engajado – mas como dar o próximo passo se todas as premissas para o golpe são falsas?