Formação de quadros. Precisamos pensar a formação política e teórica da militância em estreita e íntima conexão com as tarefas políticas centrais e do dia a dia do partido. Essencial. É o que faz mais sentido. A “teoria” que a militância precisa dominar e participar da construção, de modo primordial, é a “Teoria da Revolução Brasileira” – nacional, democrática e socialista.  As formulações de Marx, Lenin e outros “clássicos” do marxismo são saberes de suma importância e necessários, não se discute! Pois, sobretudo, constituem ferramenta e método, ciência, para a compreensão da luta de classes, no presente e em suas raízes históricas, em nosso país e no mundo. No entanto, dispor da ferramenta, do método, sem exercitar seu uso, não nos garante muita coisa.  A “formação marxista” fundamental é essa, voltada para a transformação da sociedade, superação de explorações e opressões, não é outra. Conhecer transformando.

Esmiuçar o conhecimento sobre as obras de Marx, Lenin e outros formuladores importantes dos séculos 19 e 20 é complemento relevante, mas não prioritário. O marxismo, por definição, não é erudição teórica, mas, antes, desenvolvimento e transformação. 

Dedicar tempo a conhecer a situação do movimento operário lá da Inglaterra na década de 1870, ou sobre o ano de 1905 lá na Rússia, ou dominar as raízes hegelianas e gregas da dialética de Marx, é absolutamente secundário para 90% dos militantes socialistas brasileiros do ano de 2025. Bem mais importante e urgente para nós é conhecer:

1 – Nossas realidades concretas, os problemas de nosso povo, as classes sociais, quem compõe o povo, as classes dominantes, as contradições correntes; 

2 – As formulações marxistas sobre o imperial-capitalismo e o neocolonialismo na quadra histórica em que vivemos; 

3 – Sobre a experiência de luta política dos trabalhadores e povos de nossa região, nosso país, continente e mundo nesse nosso tempo; 

4 – Métodos e instrumentos do marxismo-leninismo para identificar os modos de produção, os processos de exploração, opressão e poder operantes em nossa sociedade. 

Por aí. Conhecimentos básicos para nortear a compreensão do mundo em que vivemos e guiar a luta pelo socialismo e as específicas. Deve estar por aí o eixo de nossa política de formação. Em todos os níveis de complexidade dos cursos de formação. Nos níveis mais elevados, natural que se alarguem as ramificações e lateralidades dos conhecimentos, mas o eixo deve ser mantido.

Acrescente-se a necessidade crucial de compreender e difundir o caráter universal e científico do método marxista, suas leis, princípios, e sua aplicabilidade à realidade concreta no espaço e no tempo. Vacinarmos contra o decalque.  Na prática, cultivar, consciente ou inadivertidamente, uma aura eurocêntrica (ou ocidentocêntrica) para o marxismo-leninismo é contraditório e contraproducente.  Promover a libertação de povos e nações do Sul Global – América Latina, África, Ásia e Oceania – vítimas do Imperialismo e Colonialismo brutais das nações ocidentais mais desenvolvidas, a partir de uma formação política eurocentrada só atrapalha o processo. 

Mandatos. Os mandatos públicos conquistados pelo partido, no legislativo e no executivo, precisam passar por novo tipo de abordagem que lhes permitam maximizar eficiência na conquista de resultados políticos. Para tanto, um caminho que nos parece eficaz está em buscar ganhos substantivos de entrosamento orgânico permanente com o partido e com os movimentos sociais, via mecanismos eficientes de mobilização, engajamento, permeabilidade, interação e consulta, para alcançar maior e melhor produção política, mais agilidade e avanços na linha das definições táticas e estratégicas do Partido e do movimento popular. 

O partido poderia criar comitês políticos que se encarregassem da direção e participação democrática de/em cada mandato ou conjunto de mandatos. Uma estrutura distinta das estruturas de assessoramento custeadas pelo poder público, mas, claro, articulada com essas. As assessorias profissionais atuais se concentrariam em apoio aos respectivos comitês políticos tal como já fazem para os titulares do mandato. Os comitês seriam o trabalho político do partido, militante, independente de remuneração, até porque a participação da militância seria ampla, ilimitada. Cada comitê teria uma equipe de coordenação e secretariado (enxuta, na maioria dos casos), designada pelo Partido, e um número variável de membros voluntários e militantes ativos cadastráveis atuando em rede social e reuniões, plenárias, etc. Comitê Militante de Mandato Popular.

Segurança.  É absolutamente urgente e inadiável que o Partido adote normas e práticas internas de segurança avançadas.  Inaceitável uma postura liberal que subestime os riscos de segurança pessoal, coletiva e institucional do Partido. 

Sabemos que os problemas de segurança devem ser vistos primordialmente pelo aspecto e contexto político. Até concordamos que, embora vivendo um momento de relativa força política e midiática, a direita anticomunista internacional tem menor folga para promover golpes e agressões a forças e lideranças progressistas, se compararmos com momentos anteriores, como as décadas de 1960 e 70, por exemplo. Há, entretanto, elementos novos no ar: a natureza fascista crescente dos poderes reacionários num cenário de imperialismo em crise; a consolidação de uma webesfera mundial controlada pelo imperialismo e sediada nos EUA, com capacidade para espionar, identificar e “fichar” massivamente pessoas, grupos e organizações populares de esquerda em todo o mundo.  O fascismo é menos constrangível, nele o nível de escrúpulos e cumprimento de acordos e normas cai consideravelmente. A racionalidade e o bom senso idem. Temos visto recorrentemente o expediente de serviços secretos criminais do imperial-fascismo, notadamente a CIA e o Mossad, de assassinar friamente lideranças políticas antiimperialistas de quaisquer países. Métodos sofisticados de última geração são usados para isso. A “ficha” de todos nós, sobretudo de nossas lideranças, eles já tem, com reconhecimento facial, monitoramento digital, etc, etc.

Uma deficiência programática que nos enfraquece. O tempo passa, o erro persiste, as dificuldades políticas também. No Brasil há uma mania simplória, preguiçosa e reducionista, na análise de classes e contradições do setor primário da economia.  Não se analisa criteriosamente a realidade e infere-se uma dualidade simplificada: trabalhador rural e camponês (agricultor familiar) de um lado e, de outro, “oposto”, tudo é “latifúndio”, ou “burguesia rural”. Há uma vasta classe média rural que é solenemente desprezada. De fato, pequenos e médios fazendeiros, assim como camponeses, em geral proprietários, são detentores de meios de produção. A questão da propriedade fundiária (e imobiliária) assume um aspecto simbólico e ideológico de grande importância em nossa sociedade, como resultados de fatores históricos ligados à persistente mentalidade colonialista, escravocrata e racista. Mas o que move a história não são “costumes”, e sim os interesses e conflitos de classe.

O que chamam de “agronegócio” – uma invenção política astuta da grande burguesia que domina o setor – é um balaio de contradições, com os grandões, em geral, exportadores, comerciantes e industriais, sugando o sangue de pequenos e médios produtores agropecuários. Não faz nenhum sentido que tais agricultores e criadores marchem politicamente com seus algozes. A menos que as lideranças progressistas do país se mostrem incompetentes. A esquerda e o os governos de esquerda praticamente não apresentam políticas específicas voltadas para o fortalecimento real da produção agropecuária sustentável e a quebra de monopólios mercantis e agroindustriais. Ao contrário, há muitas políticas de fomento a grandes monopólios. O resultado político-eleitoral é o que temos visto, desastroso para o campo progressista.