Campanha bolsonarista usa prova de vida para induzir voto no presidente
Para tentar ganhar as eleições deste ano, a campanha de Jair Bolsonaro (PL) tem se utilizado de todo tipo de expediente, inclusive de teor enganoso e legalmente questionável. Um dos alvos são os milhões de idosos que recebem do INSS. Propaganda eleitoral do candidato à reeleição estabeleceu, por meio de um malabarismo discursivo, uma falsa ligação entre o voto em Bolsonaro e a prova de vida, usada para garantir que os idosos possam continuar recebendo seu benefício.
Em vídeo, a propaganda de Bolsonaro dizia: “Agora é lei. Nessas eleições, você que é aposentado ou pensionista pode fazer sua prova de vida direto nas urnas”. Depois, complementa: “Apenas o seu voto já é suficiente para garantir os benefícios do INSS, para você exercer seu direito à cidadania com menos burocracia”. Ao final, induzia o espectador a votar no número do presidente “pelo bem do Brasil”. A malandragem retórica leva, portanto, a uma falsa associação entre o voto no candidato, com o seu número exposto, e a realização da prova de vida.
Ainda no primeiro turno, a então candidata à presidência, senadora Simone Tebet (MDB-MS), apresentou ação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a suspensão da propaganda, alegando que a mensagem distorcida remetia à votação em Bolsonaro.
Conforme noticiou o jornal O Estado de S.Paulo, “a ministra do Tribunal Superior Eleitoral, Cármen Lúcia acatou o pedido e determinou sua proibição, ao concluir que a mensagem sobre a prova de vida foi ‘descontextualizada’ e ‘induz’ os eleitores a acharem que procedimento depende do voto no presidente. Acontece que essa decisão do TSE só foi dada em 7 de outubro, após o primeiro turno de votação”. No entanto, a peça segue circulando nos aplicativos de trocas de mensagens.
Ainda segundo a publicação, o vídeo parece ter de fato surtido o efeito desejado pela campanha bolsonarista, mesmo que não seja possível aferir quantos dos aposentados votaram ou não no presidente. “No primeiro turno das eleições deste ano, um total de 6,119 milhões de eleitores com mais de 70 anos comparecem às urnas de votação no dia 2 de outubro de 2022. É um volume quase 36% superior ao verificado em 2018, quando 4,477 milhões de pessoas com mais de 70 anos confirmaram seus votos”, diz a reportagem.
O jornal explica, ainda, que buscou esclarecimentos do INSS a respeito de medidas para combater a propaganda irregular, mas até esta segunda-feira (17) não havia recebido nenhuma posição do órgão, da mesma forma como não houve comunicação pública a respeito.
No dia 12, o TSE publicou um “alerta de fake news” em suas redes em que dizia: “É mentira que eleitor deve votar em determinado candidato à Presidência para validar prova de vida junto ao INSS. Mensagem enganosa foi compartilhada pelo aplicativo WhatsApp.”