Em queda nas pesquisas de intenção de voto à Presidência, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) convocou uma live, na segunda-feira (26), para dizer que não estava morto. A agenda, batizada exageradamente de “importante pronunciamento à nação”, pareceu mais um grito de desespero para conter a debandada da própria base cirista.

Após um sem-número de críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e, sobretudo, ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro afirmou que sua candidatura “está de pé”. E emendou: “Meu nome continua posto”.

A novidade das últimas pesquisas não é apenas a possibilidade, cada vez mais viável, de Lula crescer e derrotar Bolsonaro já no primeiro turno. Segundo Malu Gaspar, colunista do jornal O Globo, levantamentos internos já apontam o risco de Ciro se desidratar ainda mais, a ponto de ser ultrapassado, nesta reta final, pela presidenciável do MDB, Simone Tebet.

Assim como o tempo passou na janela e só Carolina não viu, tudo indica que o movimento do “voto útil” já é uma realidade em curso – e Ciro não quer ver. Ao dizer que a candidatura “está de pé”, o pedetista se comporta como aquele dono de restaurante que diz não haver ratos ou baratas em sua cozinha. Se ninguém lhe perguntou nada, a primeira imagem que a mensagem desperta é justamente a de baratas e ratos circulando onde não devem.

No caso de Ciro, a perda de adesões fala por si. Nas últimas semanas, diversas celebridades que o apoiaram em 2018 ou pensavam em votar nele em 2022 mudaram de lado. Foi o caso de Caetano Veloso, Gregorio Duvivier, Fabio Porchat, Vanessa da Mata, Tico Santa Cruz, Melamed e Nelson Motta – só para ficar em nomes do meio artístico. Todos o trocaram por Lula.

Descortês, o ex-ministro apregoou que parte desses artistas já está com “a vida ganha”. Tico Santa Cruz reagiu: “Ciro está deixando de ouvir quem estava ao seu lado na trincheira e passou a se juntar com gente que não só ajudou a criminalizar a esquerda, como está usando suas falas e não lhe dará voto, ainda cuspirão no seu projeto. Eu lamento. Perder com dignidade seria mais honrado”. A réplica de Caetano foi o vídeo #TiraGomes, em que se sugere abertamente o voto útil dos eleitores de Ciro, num aceno mais direto.

Não foi um caso isolado. Na semana passada, intelectuais e políticos latino-americanos, como Rafael Correa, Adolfo Pérez Esquivel e Piedad Córdoba, lançaram uma carta aberta ao candidato do PDT. No texto, disseram ao “querido companheiro Ciro Gomes” que ele, mantendo sua candidatura, “infelizmente não está em condições de fazer o bem, nenhum bem, e sim de causar grandes danos ao Brasil e ao seu povo”.

Na live, Ciro disse ser alvo “das mais violentas campanhas de intimidação, mentiras e de operações de destruição de imagem”. Muitos dos que deixaram sua campanha e aderiram agora a Lula já falam em “Ciro 2026”. Não se trata de um movimento anti-Ciro. O voto útil é tão-somente anti-Bolsonaro.