Apoio de Zema a Bolsonaro terá pouco efeito eleitoral em Minas
A adesão do governador reeleito de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), à campanha de Jair Bolsonaro (PL), anunciada nesta terça-feira (4), foi tratada pelo presidente como um “apoio decisivo” neste segundo turno das eleições 2022. Mas lideranças apontam que a parceria é essencialmente simbólica e terá pouco efeito eleitoral.
No domingo (2), Zema recebeu mais de 6 milhões de votos – o equivalente a 56,18% dos votos válidos – e garantiu já no primeiro turno sua recondução ao Palácio Tiradentes. Apesar da expressiva votação, o governador se revelou, novamente, um péssimo cabo eleitoral.
Essa marca já estava escancarada em 2020, quando seu partido, o Novo, não elegeu nenhum prefeito sequer em Minas. Detalhe: trata-se do estado brasileiro com o maior número de municípios (853). Agora, nas eleições 2022, sua capacidade de transferir voto foi novamente testada – e reprovada. Entre os eleitores mineiros, Felipe D’Avila (Novo), o candidato a presidente apoiado por Zema, teve apenas 98.526 votos (0,82% dos válidos).
O desempenho do Novo na eleição proporcional é outro indício dessa limitação do governador. Em 2018, em sua primeira eleição estadual, o partido recebeu 461.859 votos dos mineiros na disputa à Câmara dos Deputados, foi o sexto com melhor desempenho no estado e elegeu dois deputados federais – Lucas Gonzalez e Tiago Mitraud.
Quatro anos depois, a votação do Novo despencou para 185.099 – uma queda de 60%. A legenda não atingiu o quociente eleitoral e ficará sem representante do estado no Congresso. Por sinal, a sorte do partido não foi diferente no restante do País. A bancada do Novo na Câmara, na próxima legislatura, cairá de oito para apenas três deputados.
Bolsonaro buscou em vão o apoio de Zema no primeiro turno. Na visão do governador, a elevada rejeição do presidente mais atrapalhava do que ajudava. Com a reeleição assegurada, Zema topou aparecer ao lado de Bolsonaro e manifestar seu apoio.
Ainda que a aliança possa trazer votos, a margem para a migração é pequena. Boa parte dos eleitores de Zema votou igualmente em Lula no último domingo. Em Minas, o ex-presidente teve 48,29% dos votos válidos no primeiro turno, contra 43,60% de Bolsonaro. Ao atrair Zema para seu palanque, o presidente tenta reverter – ou ao menos reduzir – a desvantagem.
Em entrevista à CartaCapital, o deputado estadual Cristiano Silveira, presidente do PT-MG, relativiza a cartada bolsonarista. Ele sugere que a parceria entre govenador e presidente já existia na cabeça do eleitores – tanto que D’Avila, o presidenciável do Novo, conquistou no estado uma votação ínfima.
“Não muda nada. Essa vinculação de Zema a Bolsonaro nós já fazíamos durante a campanha”, afirma Silveira. A seu ver, como em Minas o Novo não tem prefeitos, não elegeu deputado federal e só conquistou duas cadeiras na Assembleia Legislativa, Zema não tem capilaridade para turbinar o desempenho de Bolsonaro no estado. O PT de Lula, em contrapartida, elegeu dez deputados federais e 12 deputados estaduais, além de estar à frente de prefeituras importantes, como as de Contagem e Juiz de Fora.
O deputado federal reeleito Rogério Correia (PT-MG) endossa a posição de Silveira. Para ele, a dobradinha Bolsonaro-Zema não altera a percepção do eleitor. Muitos mineiros que optaram por Bolsonaro não votaram no candidato a governador apoiado oficialmente pelo presidente, Carlos Viana (PL), que ficou com 7,23% dos votos. Bolsonaro teve sete vezes mais votos em Minas do que Viana.
“O candidato que oficialmente seria do Bolsonaro, que é o Carlos Viana, praticamente não teve voto”, afirma Correia. “O mineiro tem uma forma peculiar de cruzar votos. O povo de Minas entendeu que o melhor para o Brasil é o Lula, preferiu a continuidade do Zema e entendeu que o (candidato bolsonarista) Cleitinho seria a melhor opção para o Senado”.
Nos primeiros discursos após o primeiro turno, Lula já se comprometeu a priorizar o eleitorado mineiro e anunciou que deve ir a cidades que ele ainda não visitou nesta campanha. Para o próximo domingo (9), de manhã, já está prevista uma caminhada em Belo Horizonte.
Segundo Cristiano Silveira, um dos desafios no segundo turno é disputar os eleitores da terceira via. Juntos, Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT) tiveram 810 mil votos no estado. “Queremos falar com os eleitores do Ciro, com os da Simone – e queremos conversar com lideranças do mundo político mineiro que talvez não tenham se posicionado ainda.”
O deputado federal André Janones (Avante-MG) foi outro parlamentar a minimizar a nova conjuntura eleitoral em Minas. “Não se preocupem com o apoio de Zema. Andei pelo Estado todo e posso garantir a vocês que a maioria aqui sempre foi ‘Luzema’”, tuitou Janones, que coordena o trabalho de redes sociais da campanha lulista. “Povo mineiro não é bobo e não se deixa enganar! Ontem Lula confirmou que intensificará presença em MG no 2º turno. Vamos trabalhar muito por aqui e vencer.”
A coligação Brasil da Esperança quer combater, ainda, a abstenção. Embora Minas seja o segundo maior colégio eleitoral do País, com mais de 16 milhões de brasileiros aptos a votarem, 22,21% desses eleitores não foram às urnas no primeiro turno. A taxa de abstenção no estado foi superior à média nacional (20,95%).