Dificuldades financeiras fazem brasileiros desistirem da casa própria 
Projeto de vida da maioria dos brasileiros, a compra da casa própria está mais difícil para boa parte da população. A soma de inflação e juros altos, além do desemprego, da informalidade e da corrosão da renda, leva ao endividamento e à crescente dificuldade das famílias honrarem seus compromissos. Neste ano, aumentou em 16% a desistência de aquisição de imóveis vendidos na planta na comparação com igual período de 2021, segundo análise da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
Esse índice envolve principalmente a classe média e camadas mais populares, mais propensas a terem suas contas comprometidas diante do atual cenário socioeconômico.
“O segmento econômico, acima do Casa Verde Amarela (programa de habitação social do governo federal que substituiu o Minha Casa Minha Vida), assinou contratos com taxas de juros baixas e agora enfrenta altas”, explicou Paulo Pôrto, professor de Negócios Imobiliários da FGV e diretor de Negócios da Arqos Incorporadora ao jornal O Globo.
Para piorar a vida de quem sonha em ter seu lar, a nova lei do distrato, de 2018, estabelece que o comprador que desiste de uma transação tem direito a receber apenas 50% de volta — antes, o percentual era de 90% —, regra que beneficia as construtoras, mas não o cidadão comum.
A este cenário adverso, soma-se os altos juros praticados no país. Após a 12ª alta seguida, a taxa Selic está em 13,75%. E o Banco Central sinalizou que poderá haver novo aumento em setembro, o que poderá elevar os juros para 14%, dificultando ainda mais o pagamento de contas a prazo.
Além disso, embora o país tenha registrado alguma deflação, a elevação da inflação desde o segundo semestre de 2021 levou ao aumento no número de inadimplentes em 4,6 milhões, de maneira que atualmente, de acordo com a Serasa Experian, há mais de 66,8 milhões de brasileiros nessa situação, um recorde bastante negativo para o país. Dessa forma, a população adulta inadimplente saiu de 38,9% em agosto para 41,4% em junho.
Ao mesmo tempo, embora tenha registrado queda, o desemprego segue alto, assim como é grande o número de brasileiros ganhando a vida na informalidade e em trabalhos precários, situação que muitas vezes inviabiliza qualquer planejamento para uma aquisição de maior fôlego, como um imóvel. No segundo trimestre deste ano, o Brasil chegou a um contingente de 39,3 milhões de trabalhadores informais, o maior da série histórica iniciada no quarto trimestre de 2015.