O 16º Congresso do PCdoB se realiza em um momento decisivo para o povo brasileiro. O Projeto de Resolução Política aponta corretamente que 2026 não será apenas mais uma eleição, mas uma disputa de rumos para o Brasil. Estará em jogo a continuidade do processo de reconstrução nacional ou o retorno da extrema-direita, agora mais articulada com o trumpismo e com setores entreguistas das classes dominantes. Nesse contexto, é fundamental refletirmos sobre dimensões que precisam ocupar centralidade na estratégia do Partido: a Amazônia, a luta antirracista e a educação.

A Amazônia como questão de soberania nacional

A Amazônia é a principal fronteira estratégica do Brasil. Concentra 59% do território nacional, abriga a maior floresta tropical do mundo, gigantescos aquíferos, biodiversidade incomparável e minérios estratégicos. No entanto, a região segue marcada por índices de desenvolvimento humano abaixo da média nacional, expressando as contradições de um modelo que combina riqueza natural e pobreza social.

O Projeto de Resolução aponta com acerto que a Amazônia é alvo permanente da cobiça imperialista. É imperativo compreendê-la não apenas como espaço a ser preservado, mas como território a ser defendido e desenvolvido de forma soberana e sustentável, articulando proteção ambiental com justiça social. A COP30, que será realizada em Belém, não pode se limitar a negociações diplomáticas entre países; deve ser um momento de denúncia do racismo ambiental e de afirmação dos direitos de povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos. O PCdoB, com sua tradição anti-imperialista, precisa se apresentar como força política que defende a Amazônia não como “patrimônio da humanidade”, mas como parte inalienável da nação brasileira.

O antirracismo como eixo transversal

O racismo antecede o capitalismo, mas foi aprofundado e instrumentalizado por ele. A escravidão moderna, a colonização e a exploração do trabalho negro e indígena estão na base da acumulação capitalista mundial. Hoje, a extrema-direita segue se alimentando do racismo para dividir a classe trabalhadora, justificar a violência policial e legitimar a exploração.

O Projeto de Resolução acerta ao tratar a pauta antirracista como parte indispensável do Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento. Mas precisamos dar um passo adiante: o combate ao racismo não pode ser apenas um eixo temático, precisa ser transversal a toda a estratégia do Partido. Sem enfrentar o racismo estrutural, não haverá unidade popular verdadeira. É necessário compreender que a vitória em 2026 e a construção de um Brasil socialista dependem de uma luta antirracista consequente, capaz de dialogar com a juventude negra das periferias, com as mulheres negras que sustentam a vida em meio à desigualdade e com os povos quilombolas e indígenas que resistem há séculos.

Educação como trincheira da luta ideológica

A guerra cultural promovida pela extrema-direita tem na educação um de seus principais alvos. A tentativa de deslegitimar a ciência, atacar professores, criminalizar a Lei 10.639/2003 e naturalizar desigualdades faz parte de um projeto de obscurantismo e dominação. Por isso, a defesa de uma educação democrática, laica, antirracista e de qualidade deve estar no centro da estratégia do PCdoB.

A experiência de implementação da Lei 10.639/2003 revela contradições: avanços importantes, mas também resistências institucionais. Cabe ao Partido assumir a bandeira de que não há emancipação nacional sem emancipação do povo negro, e que esta só é possível com uma educação que combata o racismo estrutural desde a escola básica.

Além disso, ciência, tecnologia e inovação precisam ser compreendidas como instrumentos de soberania. O protagonismo do MCTI, sob a direção da camarada Luciana Santos, demonstra que é possível articular políticas industriais, transição ecológica e inclusão social. Mas é preciso avançar: investir na formação de jovens em áreas estratégicas, reduzir as assimetrias regionais e democratizar o acesso ao conhecimento.

Concluo dizendo que:

A Amazônia, a luta antirracista e a educação não são temas setoriais. São pilares estratégicos de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento que queira, de fato, derrotar o neofascismo, enfrentar a dependência e abrir caminho ao socialismo. A Amazônia nos coloca o desafio da soberania frente ao imperialismo. O antirracismo nos convoca à unidade popular real, que não se constrói sobre a exclusão da maioria negra do povo brasileiro. A educação nos oferece a trincheira mais decisiva da guerra de ideias contra a extrema-direita.

Que o 16º Congresso do PCdoB seja o momento de reafirmar essas bandeiras e projetar um Partido cada vez mais enraizado na vida do povo, capaz de combinar a luta eleitoral com a mobilização de massas, para conquistar uma nova vitória em 2026 e seguir avançando rumo a um Brasil socialista.

*Mestre em educação pela UFPA e Coordenador Nacional da UNEGRO