A ofensiva genocida de Israel sobre a Faixa de Gaza e a Cisjordânia comoveu a opinião pública internacional e acabou por fortalecer ainda mais o apoio à causa palestina. Levantamento feito pela BBC revela que 147 países já reconhecem o Estado Palestino formalmente – e o número crescerá ainda mais nos próximos meses.

Desde o início do conflito entre o Hamas e Israel, em outubro de 2023, nove nações formalizaram esse apoio: Armênia, Bahamas, Barbados, Eslovênia, Espanha, Irlanda, Jamaica, Noruega e Trinidad e Tobago.

Para os próximos meses, outras seis adesões são aguardadas. Até setembro, Canadá, França e Reino Unido devem oficializar o reconhecimento junto à ONU (Organização das Nações Unidas). Já Finlândia, Nova Zelândia e Portugal encaminham uma decisão no mesmo rumo.

Se todos esses movimentos se concretizarem, o cenário que se projeta muda em definitivo a correlação de forças na ONU, onde 80% dos países membros estarão do lado palestino. A mudança mais relevante, porém, será no Conselho de Segurança da organização, que tem como membros permanentes Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, China e França.

Em novembro de 1988, quando a OLP (Organização para a Libertação da Palestina) proclamou a independência de seu Estado, chineses e russos saíram imediatamente em defesa de sua criação. Os Estados Unidos, ao contrário, sempre mantiveram o alinhamento à postura conservadora de Israel, avessa à solução dos dois Estados. Para não desagradar aos norte-americanos, Reino Unido e França se omitiam.

Assim, durante 37 anos, o Estado Palestino nunca foi a posição majoritária dentro do Conselho de Segurança da ONU. Com França e Reino Unido mudando agora de posição, a criação formal do novo Estado passa ser apoiada por quatro dos cinco membros do órgão, numa evidência do isolamento crescente de Israel e dos Estados Unidos.

Números do genocídio

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um dos aliados da causa. Em 3 de dezembro de 2010, durante o segundo mandato de Lula no Planalto, o Brasil passou a reconhecer formalmente o Estado Palestino. Além disso, ele sobressai como uma das vozes mais críticas ao genocídio.

Em julho, o número de mortos em decorrência dos ataques israelenses ultrapassou a marca de 60 mil, conforme as autoridades de Saúde de Gaza. Uma investigação conduzida por um pool de veículos, como o britânico The Guardian, apontou que, segundo o próprio serviço de inteligência militar de Israel, 83% das vítimas são civis. Além dos mortos em bombardeios, há milhares de perdas relacionadas à fome ou à desnutrição.

Embora esse cenário de privação de alimentos esteja em curso desde 2024, foi apenas nesta sexta-feira (22) que a ONU declarou oficialmente o estado de fome em Gaza. “Fazer as pessoas passarem fome por objetivos militares é um crime de guerra”, enfatizou o chefe de direitos humanos da ONU, Volker Türk, lembrando que mais de meio milhão de pessoas enfrentam condições “catastróficas”, de insegurança alimentar na região, correndo risco de morte.

A consternação garante mais apoios à causa palestina, mas, como lembra a BBC, o caminho dos palestinos ainda é longo: “O reconhecimento por parte de outros países é um dos quatro fatores importantes — mas não o mais determinante — para a existência de um Estado. Na teoria das relações internacionais, considera-se que os três elementos constitutivos-chave para um Estado são: território, população e soberania”.