Numa das pré-estreias de Malês, Antônio Pitanga fez um vigoroso discurso em defesa do audiovisual brasileiro. Relembrando o Cinema Novo, o veterano ator e diretor, de 86 anos, afirmou que “resgatar a brasilidade” é a missão dos filmes produzidos no País – ontem e hoje. “Mergulhamos no século 19. Malês traz o farol e a luz para que nós possamos discutir e até querer saber mais sobre esse século – o século mais importante do Brasil”, afirmou Pitanga.

Em cartaz nos cinemas, Malês é um drama histórico ambientado na Salvador de 1835 e reconstitui um dos mais extraordinários levantes antiescravagistas na História do Brasil – a Revolta dos Malês. Com roteiro assinado por Mariana Dias – a autora da nova versão de Vale Tudo, na TV Globo –, o longa é dirigido por Pitanga, que idealizou esse projeto há 29 anos.

O filme estreou num momento elevado do cinema nacional, que teve como divisor de águas a entrega do Oscar de Melhor Filme Internacional para Ainda Estou Aqui, de Walter Salles. Em comum com Malês, Ainda Estou Aqui também usa fatos históricos como sua matéria-prima.

A tendência é que essa onda de “brasilidade” – para usar o termo evocado por Pitanga – se estenda por mais tempo. O Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, que vai de 2 a 12 de outubro, marca a estreia de outros filmes nacionais inspirados em fatos verídicos. É a História do Brasil invadindo as telonas do cinema.

Nesta quinta-feira (9), estreou no Festival do Rio o docudrama Honestino, que lembra a história do líder estudantil Honestino Guimarães. Em 1973, quando era presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), o ativista foi sequestrado e morto pela ditadura militar. O filme, estrelado pelo ator Bruno Gagliasso (de Marighela) e coproduzido pela própria UNE, mostra arquivos inéditos e depoimentos exclusivos sobre Guimarães.

Operação Condor, de André Sturm, é uma ficção que conta a história do pacto entre os Estados Unidos e as ditaduras do Cone Sul, na década de 1970, para eliminar “inimigos políticos”. O elenco do filme tem à frente Mel Lisboa, no papel de uma jornalista que investiga as misteriosas mortes dos ex-presidentes Juscelino Kubitscheck e João Goulart.

Em tom leve e descontraído, Renato Terra e Arnaldo Branco lançam O Brasil Que Não Houve – As Aventuras do Barão de Itararé no Reino de Getúlio Vargas. Narrado pelo humorista Gregorio Duvivier, o documentário gira em torno do jornalista Apparício Torelly, o Barão de Itararé, que chegou a ser vereador do Rio de Janeiro pelo Partido Comunista. Ele é considerado um dos precursores do humorismo político no País, numa época em que esse tipo de manifestação dava cadeia.