Manifestação em defesa da democracia e contra o golpismo em Brasília | Foto: Gustavo Alves

O ciclo de debates que aprofunda as propostas do Projeto de Resolução do partido rumo ao 16º Congresso do PCdoB chega ao Rio de Janeiro com um tema painel crucial: “Mundo em transição: multipolaridade, declínio dos EUA, BRICS, papel da China e tensões geopolíticas”. A mesa será formada pelos professores Ana Penido (UFRJ), Elias Jabbour (UERJ e IPP), Luis Fernandes (IRI/PUC-Rio) e mediado pela dirigente nacional do PCdoB, Conceição Cassano.

A multipolaridade e o socialismo chinês como alternativa

Para Elias Jabbour, a análise do PCdoB em seu Projeto de Resolução tem uma “forte aderência com a situação atual”, especialmente no que diz respeito à perda de dinamismo da economia americana. Segundo ele, essa perda de força dos EUA abre espaço para um mundo multipolar, cuja contrapartida é a “consolidação do socialismo chinês”. A tendência da multipolaridade, para Jabbour, é inegável, e o socialismo emerge como uma opção viável.

Nascido na Zona Leste de São Paulo há 49 anos, Elias Jabbour é filho de imigrante libanês e trabalhadora nordestina. Sua trajetória na militância comunista começou na juventude, ingressando no PCdoB após encontrar uma barraquinha do partido na Praça Ramos de Azevedo. Graduado, mestre e doutor em Geografia Humana pela USP, Jabbour é hoje professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ. Com 15 visitas à China, atuou no Novo Banco de Desenvolvimento (BRICS) em Xangai. Ele defende o modelo chinês — com sua soberania, crescimento e infraestrutura impressionante (45 mil km de trem de alta velocidade) — como alternativa ao neoliberalismo. Elias Jabbour, que desenvolveu a teoria da Nova Economia do Projetamento, enfatiza a necessidade de o Brasil “constituir uma maioria política para um projeto nacional”, como aborda em obras como “China: o socialismo do século XXI”.

As nuances do declínio norte-americano e as tensões geopolíticas

A pesquisadora Ana Penido analisa o declínio da economia americana e a perda de hegemonia dos EUA, que, segundo ela, é “descompassada”. Os EUA perdem força econômica e tecnológica, mas mantêm influência militar e cultural. Essa transição de um mundo bipolar para multipolar é, portanto, matizada e repleta de complexidades. “Mesmo em países como Cuba ou Venezuela, que sofrem sanções americanas, há um aspecto cultural pautado pelos Estados Unidos”, observa.

Ana Penido, pesquisadora do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social e integrante do Grupo de Estudos em Defesa e Segurança Internacional (GEDES – UNESP), é graduada em Ciências Sociais pela UFMG, mestre em Estudos Estratégicos da Defesa e da Segurança pela UFF e doutora em Relações Internacionais pelo programa San Tiago Dantas (Unesp/Unicamp/Puc-SP). Sua pesquisa foca em militarismo, soberania e geopolítica latino-americana.

Penido alerta para o fato de que o capitalismo em crise leva nações a aumentar os gastos com armamentos, em detrimento das necessidades da população. Ela cita o aumento de 5% do PIB europeu em gastos militares. A pesquisadora critica a “guerra híbrida”, que, segundo ela, é uma estratégia que combina ações militares e não-militares, como sanções econômicas, judiciais (lawfare), desinformação e ciberataques, utilizada, atualmente, pelos EUA para evitar a aproximação de países como o Brasil com a China e o sucesso do BRICS. “A estratégia estadunidense para a América Latina se reorganiza diante da ascensão da China e da Rússia, intensificando mecanismos de controle político, econômico e informacional sobre os países do continente”, afirma em seu livro “Ninguém Regula a América”. Ela defende uma política externa que priorize a integração sul-americana e a soberania militar do Brasil, hoje dependente dos EUA e da OTAN.

Multipolaridade e soberania brasileira

Luis Fernandes, Secretário-Executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), traz uma análise aprofundada da economia política internacional, focando nos desafios da inovação e desenvolvimento. Com sólida formação em Relações Internacionais pela Georgetown University e doutorado pelo IUPERJ, ele também é professor na PUC-Rio e UFRJ.

Fernandes, também, analisa que o mundo pós-Guerra Fria está se consolidando em uma ordem multipolar. Essa transição é impulsionada pela perda de poder de EUA, Europa e Japão, em contraste com a ascensão da China. Nesse cenário, o Brasil ganha margem de manobra para interagir com nações fora da influência americana.

O cientista político observa o impacto das medidas coercitivas do governo Trump que visam manter a hegemonia americana. Apesar das vulnerabilidades brasileiras em tecnologia e defesa, existem alternativas, inclusive, em curso,  para o país superar as dependências e fortalecer sua soberania. Ele defende que o Brasil deve “completar sua independência” por meio do investimento em ciência e tecnologia, pilares essenciais para uma inserção autônoma e estratégica no cenário global.

Mundo em transição: a visão do PCdoB

O Projeto de Resolução do PCdoB para seu 16º Congresso analisa a crise sistêmica do capitalismo e a transição global para uma nova ordem multipolar, impulsionada por novos centros de poder. O partido destaca o avanço da multipolaridade e o declínio da hegemonia dos EUA, criticando suas tentativas de “restaurar sua hegemonia com guerra comercial, autoritarismo e manipulação digital”.

O documento ressalta o papel do BRICS e da China como protagonistas da multipolaridade, com a China liderando o crescimento e a inovação global. O BRICS é visto como um bloco em fortalecimento, promovendo a desdolarização e a cooperação tecnológica. As tensões geopolíticas são abordadas como consequência dessa mudança, com “guerras e conflitos marcando transições de hegemonia”, como a “nova guerra fria” imposta pelos EUA para conter a China. A política externa brasileira sob Lula é elogiada por buscar uma “inserção soberana” e promover a paz.

SERVIÇO

Ciclo de Debates – MESA 2

  • Tema: Mundo em Transição: Multipolaridade, declínio dos EUA, BRICS, papel da China e tensões geopolíticas
  • Data: Segunda-feira, 4 de agosto, às 18h
  • Local: Sociedade dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro (SEAERJ), Glória, Rio de Janeiro
  • Participantes: Professores Elias Jabbour, Ana Penido e Luis Manuel Rebelo Fernandes
  • Mediação: Conceição Cassano

Inscrições gratuitas: https://comunicacao.grabois.org.br/ciclo-de-debates-rj-mundo-em-transicao