Por uma campanha popular: só pago com pix
As agressões do Sr. Trump ao Brasil vêm sendo repudiadas e enfrentadas com firmeza e sobriedade pelo governo Lula e pelo Supremo Tribunal Federal. O STF manteve inalterado o cronograma do julgamento do golpismo bolsonarista, e nada sugere que as punições trumpistas possam afetar seus vereditos.
O governo Lula atuou para minimizar o prejuízo das taxações, mas decidiu não retaliar simetricamente, aumentando as tarifas dos produtos estadunidenses importados, pois isto tenderia a provocar inflação e a frear investimentos dependentes de maquinário daquela origem. Em contrapartida, o presidente Lula afirmou e reiterou que o Brasil vai regulamentar e taxar as big techs de informática, o que é uma excelente medida.
Além de correta retaliação contra um núcleo fundamental do poder trumpista, a regulamentação do conteúdo das plataformas de comunicação contribui para um ambiente político mais saudável, menos sujeito à desinformação. Por outro lado, a taxação destas empresas e a regulamentação da remuneração dos criadores de conteúdo contribuem para as finanças públicas e para a economia em geral. Esses temas encontraram resistência no Congresso quando o deputado Orlando Silva encaminhou projeto a respeito. É importante fortalecer a nova iniciativa.
Mas há um aspecto da agressão trumpista que pode ser retaliado sem depender de qualquer iniciativa governamental, nem de negociação no Congresso: é sua negação do nosso sistema de pagamento eletrônico, o pix. Este sistema já é valorizado pela população, particularmente por comerciantes e prestadores de serviço, por ser imediato e isento de taxas. Mas a população em geral pode aderir à idéia de valorizar nosso pix em resposta à agressão do Sr. Trump.
A investida do Sr. Trump contra o pix atendeu às empresas de cartão de crédito, particularmente Visa e Mastercard, que se sentiram prejudicadas pela “concorrência desleal do pix”.
Estas empresas abocanham parcela relevante do faturamento de empresas brasileiras, cobrando taxas da ordem de 1,5% a 2% para compras a vista (débito) e de 3% a 4% para compras a crédito, segundo ouço de comerciantes e prestadores de serviço. O prof. Ladislau Dowbor menciona valores ainda mais altos, de 2,5% para débito e 5% para crédito. Assim, uma percentagem do que se paga por cada produto, ainda que seja de fabricação inteiramente nacional, vai para fora do país, pelo simples uso dos cartões de débito e crédito.
O prof, Dowbor também lembra que não há gasto com as operações físicas de transferência de recursos, que se resumem a rapidíssimas mensagens eletrônicas, de forma que todo este volume de recursos vai para as empresas de cartões e os bancos associados. Só há algum gasto pelas vantagens, como descontos em viagens aéreas, que os cartões oferecem ao consumidor para favorecer a opção pelo crédito. Não é de espantar que a Visa venha tendo 55% de lucro anual. Os interessados em aprofundar-se no assunto podem ler o artigo “O dreno financeiro dos cartões de crédito” de Ladislau Dowbor, na revista eletrônica A Terra é Redonda, em 31/7/2025.
Os lucros destas empresas estadunidenses são uma das múltiplas formas de “perdas internacionais”, como falava o saudoso Leonel Brizola. Grande parte da dívida pública brasileira, altamente remunerada pela Selic, é propriedade estrangeira. Quase metade das ações da Petrobras são propriedade estrangeira. Sob Bolsonaro, a Petrobrás remunerou por anos seguidos seus acionistas com mais de 90% dos lucros da empresa, e ainda tratava como lucros os recursos obtidos com a privatização de subsidiárias, para distribuí-los. Atualmente os acionistas ainda são remunerados com 50% dos lucros, quando o mínimo legal é 25%. Vê-se que a luta contra a ditadura do capital financeiro é também uma luta anti-imperialista.
Embora estejam longe de ser as únicas empresas financeiras que sugam a economia brasileira, as empresas de cartões de crédito estadunidenses tornaram-se um alvo justo para uma retaliação brasileira quando decidiram alvejar o pix. A valorização do pix contra as empresas de cartões de crédito e débito é uma proposta pertinente, tanto como forma de retaliação contra o tarifaço trumpista, como pelas conseqüências benéficas para a economia brasileira, através do balanço de pagamentos.
Relato a experiência que tive após tomar a decisão de que minhas compras não mais irrigariam o sistema financeiro estadunidense. Quando comento com os caixas de padarias ou mercados que, desde quando o Trump implicou com nosso pix, eu só pago com pix, quase sempre recebo um sorriso de aprovação. Uma caixa relatou que outro cliente dissera o mesmo. Um cliente em um restaurante concordou, e acrescentou a sugestão de uso do cartão ELO, brasileiro.
Por esta experiência, creio que uma campanha pelo pix como resposta popular ao Sr. Trump, se bem divulgada, pode envolver ativamente milhões nesta luta pela soberania nacional contra a arrogância imperialista.
Proponho a adesão do PCdoB a esta campanha: doravante, só pago com pix!