Renda dos 10% mais ricos no Brasil é 63,5 vezes maior que a dos 50% mais pobres
Cinco países em desenvolvimento lideram o ranking das nações com mais desigualdade de renda – e o Brasil está entre eles. É o que aponta a nova edição do “Relatório sobre a Desigualdade Mundial 2026”, elaborada pela rede World Inequality Lab, da Universidade de Paris. Um dos coordenadores do estudo é o economista francês Thomas Piketty, autor de O Capital no Século 21.
Na comparação com dados de uma década atrás, a renda ficou mais concentrada no País. Hoje, os 10% mais ricos tiveram, em média, uma renda anual de € 74,1 mil (cerca de R$ 468 mil), enquanto os 50% mais pobres registaram de € 1,2 mil (R$ 7.574) de renda média. Assim, os brasileiros mais ricos ganham 63,5 vezes mais que os mais pobres.
“No Brasil, a desigualdade segue entre as mais altas do mundo e cresceu ligeiramente ao longo da última década. Os 10% mais ricos capturam cerca de 59% da renda nacional, enquanto os 50% mais pobres recebem apenas 9%”, indica o relatório. “A concentração de riqueza é ainda mais alta, com os 10% mais ricos acumulando 70,1% de toda a riqueza, e o 1% mais rico, mais de um terço (37%).”
Para comparar a desigualdade de renda, o ranking da World Inequality Lab mede o patrimônio líquido das pessoas, somando ativos financeiros (ações, títulos e outros) com ativos não financeiros (como imóveis e terras). Partindo desses dados – e descontando as dívidas –, o estudo estabelece a chamada “paridade de poder de compra” em 216 países. Nessa disputa, o Brasil só perde para África do Sul, Colômbia, México e Chile.
O cenário mundial é igualmente desolador. Um grupo privilegiado de apenas 60 mil ricaços – o equivalente a 0,001% da população global – ganha três vezes mais do que 2,8 bilhões de pessoas. Os 10% mais ricos respondem por 75% da riqueza global, e os 50% mais pobres, por 2%.
Para Piketty, a emergência da inteligência artificial (IA) deve aprofundar ainda mais a desigualdade no Planeta. Tudo porque os ricos têm acesso mais facilitado ao conhecimento já produzido e agora reaproveitado pela IA. “É uma nova forma de privatização do conhecimento público acumulado pela humanidade no passado”, afirma o economista.
Para atacar a desigualdade e melhorar a distribuição de renda, o relatório propõe uma tributação global das grandes fortunas, com um imposto anual de 3% sobre o patrimônio de 100 mil bilionários e milionários. A arrecadação – projetada em US$ 750 bilhões por ano – corresponde ao orçamento destinado à educação em todos os países de baixa e média renda. “A regressividade no topo não é algo inevitável. Com uma taxação mínima, os governos podem restaurar a progressividade do sistema, mobilizar uma soma relevante de recursos e reconstruir a legitimidade da tributação em uma era de fortunas individuais extremadas”, aponta o relatório. “Implantar esse imposto é, em última análise, uma questão de vontade política, de confrontar a concentração de riqueza e exigir uma contribuição mais justa daqueles que estão no topo.”




