Passados 40 anos da ditadura militar no Uruguai (1973–1985), um agente do período autoritário cumprirá mais uma pena de prisão perpétua pelos crimes de sequestro, tortura e assassinato. O ex-fuzileiro naval e ex-comandante militar Jorge Néstor Troccoli, de 78 anos, foi condenado na Itália por envolvimento na morte de três pessoas. Como oficial do serviço secreto da Marinha uruguaia (Fusna), ele era o elo com o Ocoa (órgão de coordenação de operações antissubverssivas).

A Terceira Corte de Assis do Tribunal de Roma proferiu a decisão nesta terça-feira (21). Além da prisão perpétua, o ex-oficial terá de passar um ano e seis meses em isolamento diurno. Todos os crimes atribuídos a Troccoli ocorreram no âmbito da Operação Condor – a rede de repressão que unia as ditaduras do Cone Sul para eliminar opositores aos regimes nas décadas de 1970 e 1980. Países como Argentina, Brasil, Chile e Uruguai participaram da aliança.

Duas das três vítimas – o casal Raffaella Giuliana Filippazzi e Augustin Potenza – eram perseguidas pelo governo do ditador paraguaio Alfredo Stroessner. Conforme a Ansa, eles “foram sequestrados em Montevidéu em 27 de maio de 1977 enquanto estavam em um hotel local. Depois de presos, foram entregues à unidade S2 Fusna, os fuzileiros da Marinha liderados por Troccoli”, que os assassinaram. Seus restos mortais só foram encontrados no ano de 2016, numa vala comum de Assunção, capital do Paraguai.

A terceira vítima descrita pela acusação é a da professora uruguaia e militante do Partido para a Vitória do Povo (PVP) Elena Quinteros, considerada desaparecida política. Sequestrada em 24 de junho de 1976, a ativista foi levada para um centro de detenção ilegal em Montevidéu, de onde conseguiu fugir. Porém, ao procurar refúgio na embaixada do Uruguai no dia 30, ela foi presa, torturada e morta pela S2 Fusna na própria representação diplomática.

Não é a primeira condenação de Troccoli, que está detido na Itália desde julho de 2021. Uruguaio de nascimento, ele se naturalizou italiano e passou a viver no país europeu em 2007. Mesmo sem ter sido extraditado, o ex-comandante foi condenado anteriormente pelo desaparecimento e pela execução de cerca de 20 pessoas. Outros 13 agentes da ditadura foram condenados.

Ao site Opera Mundi, Alessia Merluzzi, representante do Estado uruguaio, disse que a nova condenação “recupera o tempo perdido” e os “anos de ausência de justiça”, por se reafirmar “a importância do ser humano, a necessidade de proteger a dignidade que cada corpo e cada vida devem ter”.