A Chacina da Lapa, em dezembro de 1976, foi objeto de um podcast produzido por um grupo de estudantes de Direito da Fundação Getúlio Vargas que busca, além de contar a história do episódio, discutir o direito à memória e à verdade sobre os crimes da ditadura, bem como as dificuldades em garantir esse direito ao longo da história, e como essa questão se cruza com o direito à cidade.

“Lapa, 1976” foi elaborado pelas alunas Elis Suzuki, Isabella Dallolio e Sophia Iliadis no âmbito da disciplina Projeto Multidisciplinar “Território e Custódia Estatal: direito à cidade, direito à memória e direito à vida”, ministrada pelas professoras Bianca Tavolari e Maíra Machado no primeiro semestre de Direito de 2025, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo.

O podcast está disponível no sistema de bibliotecas da instituição e resulta de pesquisa desenvolvida pelas alunas a respeito do Massacre da Lapa, episódio ocorrido em 16 de dezembro de 1976, quando agentes do Exército executaram dois membros do Comitê Central do PCdoB — Ângelo Arroyo e Pedro Pomar — e prenderam João Batista Drummond, morto depois sob tortura no DOI-Codi.

As estudantes partem da demolição da casa— na Rua Pio 11, 767, na Lapa, em São Paulo —, anos depois do episódio, para se tornar uma clínica médica. “As paredes que foram atravessadas por centenas de tiros das forças militares foram derrubadas e, com elas, muito da história e memória desse evento”, diz a parte introdutória do podcast, que questiona: “quando a memória se perde dessa forma, o que nos sobra como país?”.

O trabalho mostra as dificuldades que o Brasil vem enfrentando — como Estado e sociedade — tanto para punir os perpetradores dos crimes durante a ditadura quanto para tornar compreensível para a maioria da população, ao longo das gerações, por meio de instrumentos de memória e verdade, o que de fato ocorreu nos anos em que o país esteve submetido ao autoritarismo.

Ao mesmo tempo, discute o domínio da visão militarista e a herança que a violência estatal daqueles anos deixou e que ainda hoje influencia fortemente a atuação das forças de segurança, que vêem no cidadão comum — especialmente o negro e periférico — um inimigo a ser alvo de suas ações.

Obras sobre a Chacina

O podcast procura fazer frente ao processo de apagamento de momentos importantes da história, assim como outras obras que, ao longo do tempo, trazem à tona acontecimentos que ficaram de fora da “história oficial”.

Sobre a Chacina da Lapa, vale destacar o a biografia “Pedro Pomar – ideias e batalhas”, escrita pelo jornalista Osvaldo Bertolino. O livro reconstitui parte da vida do dirigente comunista desde a juventude até seu assassinato pela ditadura.

Além disso, um dossiê da Fundação Maurício Grabois também traz artigos, análises e reportagens de jornalistas e historiadores que contam o contexto e desdobramentos da Chacina da Lapa, além de textos produzidos na época.