Belluzzo participa de Ciclo de Debates do PCdoB

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo é um dos convidados para o primeiro de cinco debates que aprofundam as propostas do Projeto de Resolução do PCdoB para seu 16º Congresso. Belluzzo afirma que “o documento do PCdoB trata corretamente das questões atuais”. Ele participará da mesa 1, abordando a Crise do Capitalismo e da Globalização Neoliberal, com foco em financeirização, big techs, concentração de poder e os rumos do desenvolvimento. A mesa contará também com Ergon Cugler (pesquisador do CNPq), Davidson Magalhães (economista, professor da Uneb e dirigente nacional do PCdoB) e Sergio Cruz (jornalista), com mediação de Rosanita Campos (jornalista e membro do Comitê Central do PCdoB).
A Indissociabilidade entre Economia e Política na Visão de Belluzzo
Conhecido por sua análise crítica e alinhado ao pensamento desenvolvimentista de Celso Furtado e Maria da Conceição Tavares, Belluzzo oferece uma perspectiva progressista sobre a crise atual do capitalismo global e seus impactos no Brasil. Ele aponta para a necessidade urgente de um novo paradigma econômico, onde a política reassuma seu papel central e a diversidade seja o norte. Para Belluzzo, a compreensão da crise exige ruptura com a visão utilitarista da economia, que tenta separá-la da política. “Vejo os comentários na televisão e nos jornais e observo que tem uma coisa grave, como se a economia fosse destacada da política”, disse. Essa dicotomia artificial obscurece as forças que moldam o cenário econômico. Ele critica a ideia de que a “Faria Lima é que governa a economia”, e ressalta a existência de relações de poder que são desconsideradas no debate público.
Crítica à Globalização Neoliberal, Financeirização e o Declínio Industrial
O economista relata ter testemunhado decisões políticas que moldaram a crise atual. Ele remonta ao choque do petróleo de 1973 e à estagflação até 1979. Relembra o encontro com Paul Volcker, então presidente do Federal Reserve, que anunciou um choque de juros para valorizar o dólar. Essa decisão, alinhada às políticas de Thatcher e Reagan, visava fortalecer a moeda americana. No entanto, Belluzzo argumenta que isso provocou um êxodo da produção industrial dos EUA para locais com custos mais baixos, como a China. “Hoje, a participação da Indústria nos EUA é de apenas 12% do PIB”. “Você teve uma ação que pretendia uma coisa, mas provocou resultados diferentes. A indústria arrefeceu, e isso explica em parte o campo de força social que alavanca Trump com seu slogan ‘Make America Great Again’ (MAGA).”
Para ele, “a questão é estrutural. É a forma de composição da economia, que se manifesta na relação entre a política financeira e a ‘economia real’”. Ele pontua que “o capitalismo não entrega o que promete e transforma as pessoas em ressentidas”, ao explicar como o neoliberalismo fomenta frustração e abre caminho para a extrema direita.
A Deterioração do Sistema e a Urgência da Diversidade
Belluzzo expressa preocupação com a conjuntura: “Estamos assistindo à deterioração das regras que mantêm o sistema.” Ele compara a descoordenação dos investidores à crise de 29, mas mais longa e prejudicial. Destaca fatores como o avanço tecnológico, especialmente a Inteligência Artificial (IA), e a “grave queima de postos de trabalho”. Lembra Marx e sua crítica à base miserável do capitalismo, afirmando que o pensador “percebeu que chegaríamos no ponto em que chegamos”. A realidade de 40 milhões de americanos na pobreza e a precariedade de trabalho nos EUA exemplificam o “exército de mão de obra que não consegue ser absorvido”, tornando a ideia de “empreendedorismo e forças pessoais” quase uma piada.
Para Belluzzo, o sistema atual, onde “os sindicatos estão enfraquecidos” e a organização social é fragmentada pelas redes sociais, exige que se “coloquem os movimentos sociais nas ruas” para reverter o quadro.
Uma Trajetória de Pensamento e Ação pela Soberania Nacional
Com 82 anos, Belluzzo vivenciou a transformação do capitalismo desde o pós-guerra até o estado atual, marcado pela financeirização e globalização neoliberal. Sua trajetória como acadêmico e agente público lhe confere uma perspectiva única sobre decisões históricas que moldaram a economia nacional. Como professor titular da Unicamp por décadas, formou gerações de economistas e consolidou uma escola de pensamento que questiona os dogmas neoliberais e defende o desenvolvimento produtivo. Foi Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e consultor de instituições financeiras. Participou do planejamento do Plano Cruzado, demonstrando sua capacidade de transitar entre teoria e prática. Belluzzo tem sido articulador entre academia, governo e sociedade civil, contribuindo para debates sobre os rumos do Brasil.
A defesa da produção nacional é um pilar inegociável em sua visão. Ele lamenta a desindustrialização do Brasil, que enfraquece a geração de valor agregado e empregos de qualidade. Para Belluzzo, “não existe nenhuma experiência de crescimento sem articulação entre estado e mercado”. A queda da participação da indústria no PIB brasileiro é um alerta: sem base produtiva forte e diversificada, o país permanece vulnerável às flutuações externas.
Ciclo de Debates do 16º Congresso do PCdoB
**Mesa 1 – 28/07 (segunda-feira)**
Tema: Crise do capitalismo e da globalização neoliberal – Financeirização, concentração de poder, Big Techs e os impactos das transformações tecnológicas
Com: Luiz Gonzaga Belluzzo, Ergon Cugler, Davidson Magalhães e Sergio Cruz
Mediação: Rosanita Campos
Local: Sindicato dos Engenheiros, Rua Genebra, 25, ao lado da Câmara Municipal de São Paulo
Horário:19h
Inscreva-se para participar:
https://m.pcdobsp.org.br/crise-do-capitalismo-e-da-globalizacao