Foto: @xuniorl/Facebook da UNE

É impossível não se emocionar com a plenária final de um Congresso da UNE. Repleto de forças políticas, com estudantes de todas as regiões do país, são 12 mil corações que pulsam em defesa de suas teses, ideias e movimentos. Jovens de norte a sul que enfrentaram um longo processo democrático de eleições em cada universidade deste país, mobilizam, conduzem credenciamentos exaustivos, organizam crachás, debates, estrutura e toda metodologia de um congresso construído por estudantes para estudantes.

A UNE é uma das poucas entidades do movimento estudantil mundial e do movimento social brasileiro que ainda preserva esse caráter unitário, que consegue manter em suas fileiras a diversidade e a pluralidade de organizações que atuam no movimento estudantil. Isso quer dizer muita coisa. Este ano foram mais de 500 eleições em grandes universidades que tiveram mais de uma chapa. Cerca de 29 organizações políticas estiveram presentes em Goiânia e com suas ideias no caderno de teses. A UNE segue honrando a Carta de Princípios aprovada em seu Congresso de reconstrução em 1979. O Plenário do sexagésimo congresso expressou isso!

O congresso, que começou com uma terrível tragédia do acidente envolvendo o ônibus dos estudantes da UFPA, conseguiu render as justas homenagens a Welfeson, Ana Letícia, Leandro e Adriano Militão, e prestar solidariedade aos seus familiares e companheiros. Além de apresentar as contradições do neoliberalismo, que submete trabalhadores que conduzem veículos de carga a jornadas exaustivas e insalubres, em nome do lucro de poucos. A estes companheiros, nenhum minuto de silêncio, mas uma vida inteira de luta!

O debate político que se expressou durante esses quatro meses de campanha foi apresentado nas mesas de debates, grupos de discussões, nas palavras de ordem, panfletos  e na agitação e propaganda. Todos esses ingredientes já fariam deste congresso um congresso marcante, mas alguns outros elementos aumentaram a importância dele para a história da UNE e do Brasil.

A começar pela conjuntura política em que este Congresso da UNE se insere: um momento em que o campo da esquerda se reorganiza taticamente e aposta na agitação e no embate político para alterar a correlação de forças. A taxação dos super-ricos e o fim da escala 6×1 foram as pautas que deram capacidade de materializar esta tática. As mesmas pautas que a UNE apostou no começo do ano em seu CONEB, onde começou a construir o Plebiscito Popular, junto de demais movimentos sociais em torno destas duas demandas.

Ao mesmo tempo, o cenário internacional impõe novos elementos à luta. Os recentes ataques de Donald Trump, aliado da extrema-direita brasileira, escancaram o caráter global da ofensiva conservadora e oferecem uma oportunidade concreta de mobilizar o povo brasileiro em torno de uma pauta anti-imperialista, de defesa da soberania nacional e do futuro do Brasil.

Foi nesta virada, e por esta virada, que o Lula confirmou presença no Congresso da UNE. O ato com o presidente foi um momento de apresentar as reivindicações dos estudantes para educação brasileira. Ela não pode ter teto e tem de estar fora do arcabouço. Foi o momento também que o presidente assinou uma lei que dava prioridade aos recursos do pré-sal para assistência estudantil, mas principalmente foi o momento que o Lula pôde ouvir dos estudantes que ele poderia contar com nossa força para empreender a luta em defesa do Brasil e da nossa soberania. Este ato pode significar a retomada da esquerda do uso e da defesa dos símbolos nacionais, do verdadeiro patriotismo, aquele que é acima de tudo anti-imperialista, pela integração da América Latina e do Sul global, e solidário aos povos oprimidos, pois como disse a presidenta da UNE em seu discurso: América, só se for Latina. A luta pelo Brasil nos UNE. 

Além disso, foi aprovada a carta unitária, convocando um agosto de lutas. Iremos abrir o mês já ocupando as portas das embaixadas e escritórios de negócios dos EUA, no dia que começa o tarifaço do Trump ao nosso país. Na semana do dia 11 de agosto vamos comemorar o dia do estudante com luta pelo investimento na educação e no final do mês faremos um mutirão de votos pelo Plebiscito Popular nas universidades do Brasil. Um congresso que sai com uma agenda definida e conectada com o curso da luta política do país.

Presenciamos a formação de uma nova aliança histórica. A convergência de todos movimentos ligados à Juventude do PT, do Levante Popular da Juventude, da Juventude Pátria Livre, da Juventude do PSB, do PDT, que agora recebem neste campo a entrada dos companheiros da Juventude Sem Medo, do Psol. Essa é uma aliança programática, alicerçada na relação entre os movimentos sociais, como MST, MTST, Centrais sindicais, e forjada na construção do Plebiscito Popular e na luta das ruas.

É preciso saudar cada uma das forças que construíram esta unidade, pois todas elas abriram mão de auto-construção mesquinha, para construir a luta mais importante neste momento, que é de enfrentamento à extrema direita e de fazer avançar as pautas em defesa do Brasil, da educação, da justiça tributária, do fim da escala 6×1. Será esta nova síntese política, que foi capaz de produzir este grandioso congresso, a responsável por conduzir a União Nacional dos Estudantes nesta intensa luta política. 

Sobre a oposição burocrática: onde falta agenda política sobra denuncismo, pós-verdade, criação de factoides e redução da pauta para aspectos burocráticos do processo. A briga pelo espaço do plenário no sábado (19), ilustra bem a postura da oposição – que criou a narrativa nas redes sociais de que estavam sendo impedidos de entrar na plenária final. No domingo (20), ao ficarem com a “oposição unificada” nas arquibancadas, brigaram entre si, se agrediram e chegaram ao episódio lamentável do uso de gases de efeito moral – que colocou em risco todos estudantes presentes no congresso. Nunca terão capacidade política para conduzir uma entidade com a História e a dimensão da UNE.

Por fim, como diriam os meninos mineiros do Clube da Esquina, se muito vale o que foi feito, mais vale o que será. A força dos estudantes sempre foi maior que qualquer conjuntura adversa. Será essa geração a responsável por colocar de vez a extrema-direita imperialista na lata do lixo da História, e caminhar em direção a construção de um Brasil Democrático, Soberano e Popular, e seguir agigantando o legado da União Nacional dos Estudantes, que chegará aos seus  90 anos, mais jovem e corajosa do que nunca. 

Rafael Leal é presidente da UJS Brasil

Camila Ribeiro é diretora de movimento universitário da UJS Brasil