Conferência do RS reafirma compromisso do PCdoB com frente ampla antibolsonarismo

O PCdoB do Rio Grande do Sul realizou em Porto Alegre, neste sábado (13), sua Conferência Estadual Agenor Castoldi, preparatória para o 16º Congresso, e na qual elegeu sua nova direção. A atividade contou com a presença de lideranças comunistas e de outros partidos e escolheu Edson Puchalski o novo presidente do comitê gaúcho.
O nome da conferência homenageou o histórico comunista e professor de Ijuí, Agenor Castoldi (“Gurjão”), falecido no dia 8 de agosto, aos 85 anos. Ele iniciou sua luta política no início dos anos 1960, foi perseguido durante a ditadura e viveu um longo período na clandestinidade. Após a redemocratização, foi candidato a prefeito da cidade do Noroeste gaúcho e dirigente da seccional do Sinpro (Sindicato dos Professores do Ensino Privado) de sua região.
Ao todo, a conferência contou com cerca de 300 participantes, dos quais cerca de 250 eram delegados eleitos em 50 outras conferências e atividades de mobilização em âmbito municipal, realizadas nos últimos meses pelo RS.
Segundo a direção estadual cessante, na mobilização geral, houve um crescimento de 13% no número de participantes em todo o estado, com destaque para Porto Alegre e Caxias do Sul, cidades em que o partido elegeu dois jovens vereadores em cada. O processo também resultou na indicação de 50 delegados e suplentes do RS para a etapa nacional do 16º Congresso, que acontece de 16 a 19 de outubro, em Brasília.
A conferência do PCdoB gaúcho teve a presença das deputadas do RS Daiana Santos (federal) e Bruna Rodrigues (estadual), além de vereadores e lideranças de todo o estado. Também recebeu importantes nomes da política aliados do partido: a deputada estadual Sofia Cavedon (PT) e o ex-prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PV) — legendas que compõem a Frente Brasil da Esperança, juntamente com o PCdoB —; Vicente Selistre, dirigente do PSB e da CTB-RS, além do vereador Márcio Bins Ely e Giovana Gonçalves (Ação da Mulher Trabalhista, AMT-RS), ambos do PDT. A dirigente levou uma mensagem de saudação da ex-deputada estadual Juliana Brizola.
Em comum, as lideranças políticas parabenizaram a atuação do PCdoB e reafirmaram a disposição e importância da formação de uma frente ampla também no estado para quebrar o ciclo neoliberal que há 12 anos está no comando e barrar aventuras bolsonaristas.
Na véspera da conferência, o PCdoB de Porto Alegre também realizou sua atividade municipal e elegeu o jovem Airton Silva, co-vereador no mandato coletivo de Giovani Culau, como novo presidente.
Análise conjuntural

Ao iniciar a Conferência do RS, a secretária de Organização do PCdoB, Nádia Campeão, representando a direção nacional, falou sobre o Projeto de Resolução Política (PRP) e sobre os desafios colocados para o próximo período.
Ela salientou que em 2026, uma das prioridades dos comunistas é contribuir para reeleger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva através de uma frente ampla forte que permita impedir o retorno da extrema direita. “Esse é um fator essencial para garantir a soberania do nosso país e os direitos de nosso povo, além de ser condição básica para implantarmos as transformações estruturais que o Brasil necessita por meio de um novo projeto nacional de desenvolvimento”, argumentou.
Sobre a condenação de Jair Bolsonaro (PL) e outros sete aliados por tentativa de golpe de Estado, Nádia ressaltou se tratar de um fato histórico, “em que o Brasil acerta parte de suas contas com o passado autoritário”.
Ela lembrou que, apesar dos ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e das chantagens do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que esperavam acuar o país e sua Corte, o processo que levou à condenação foi bem-sucedido, entre outros fatores, porque uniu diferentes setores da sociedade em uma ampla frente em defesa da democracia e da soberania.
Tal processo, salientou, “também foi fundamental para desmascarar, perante à população, o falso patriotismo dos bolsonaristas, que são, na verdade, traidores da pátria”. Além disso, contribuiu para fortalecer o governo — que teve uma acertada e altiva atuação em relação ao tarifaço — e o campo democrático, popular e de esquerda
No entanto, ela alertou para a importância da batalha contra a anistia aos golpistas, que deve mobilizar tanto os parlamentares quanto os movimentos sociais e a população, a fim de que o perdão seja barrado.
Também salientou a importância de se manter e ampliar a mobilização e a pressão para que o Congresso aprove medidas centrais para o povo, como a taxação BBB (Bilionários, Bancos e Bets), a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais e sua redução para quem ganha até R$ 7,2 mil, assim como a regulação das redes sociais e o fim da jornada 6×1.
Cenário internacional
Ao falar sobre o cenário internacional, Nádia Campeão ironizou o tarifaço de Trump contra o Brasil e outros países. “A nação símbolo do neoliberalismo está, agora, com uma política altamente protecionista”, declarou.
A dirigente lembrou que as atitudes cada vez mais agressivas dos EUA são um reflexo de seu declínio progressivo e contribuem para isolá-lo. Ao mesmo tempo, criam e fortalecem alianças entre outros países em torno do multilateralismo, como vem acontecendo com o Brics, abrindo importante oportunidade para a luta dos povos contra o imperialismo.
Cabe destacar ainda o papel central da China no tabuleiro geopolítico mundial. Defendendo a paz e sem interferir em assuntos internos de outras nações, mas apoiando aliados como o Brasil contra intromissões dos EUA, o país asiático tem se destacado não apenas como potência econômica e tecnológica e por reduzir sensivelmente a pobreza e a desigualdade social, mas também como um novo polo aglutinador das nações do Sul Global.
Nádia também enfatizou a necessidade de os comunistas seguirem denunciando o genocídio em Gaza e apoiando o povo palestino: “Esse conflito está cada vez mais cruento, é algo completamente abjeto e uma vergonha para a civilização e a humanidade que não podemos aceitar”.
O papel do PCdoB
Nádia Campeão, por fim, salientou o papel central que tem o revigoramento e fortalecimento do PCdoB para embalar a luta dos comunistas no atual contexto nacional e internacional. “Devemos colocar a política e o nosso partido no comando desse processo de lutas, aumentando sua influência na sociedade. Tudo vira nada se não tivermos um partido forte e atuante”, destacou.
Ela completou dizendo que o PCdoB existe para liderar as massas, e para isso, deve estar cada vez mais presente no dia a dia dos trabalhadores, da juventude, das periferias, fator fundamental para ampliar as conquistas do povo e fazer frente à extrema direita.
Parlamentares atuantes
Ao fazer sua fala, a deputada federal Daiana Santos destacou o perigo iminente de aprovação da anistia. “Apesar da vitória que tivemos nesta semana (a condenação dos golpistas), isso não se traduz na tranquilidade que deveria. A gente está vendo no Congresso Nacional — e a bancada do PCdoB já está tratando disso — que a proposta de anistia é uma realidade”.
Daiana salientou que o voto do ministro Luiz Fux, do STF, contrário às condenações, deu maior legitimidade para os bolsonaristas pleitearem a aprovação do perdão. “Tudo isso passa pela nossa luta e é importante que todos estejamos atentos para que possamos alinhar nosso discurso e a nossa ação”, disse.
Ela apontou que, como foi possível comprovar durante o governo Bolsonaro, o fortalecimento e o retorno da extrema direita ao poder “amplia ainda mais a fragilidade de setores já vulnerabilizados da sociedade”, entre os quais as mulheres, os negros e os LGBTs, o que reforça a necessidade de barrar o retorno desse grupo político ao poder central.
A deputada estadual Bruna Rodrigues, por sua vez, pontuou, em sua fala, aspectos importantes da ação comunista, salientando as diferentes desigualdades que afetam as pessoas e o trabalho da militância para mudar essa realidade.
“Ser comunista é ser solidário e ser sensível”, destacou, acrescentando que a luta revolucionária também se dá no dia a dia. “Quero ser comunista cotidianamente. Quero ser uma comunista que transforma a vida do povo, que olha para esse partido e vê o papel revolucionário que ele tem tido na história desse país”.
Bruna enfatizou que, no atual cenário político, “temos de ser ainda mais revolucionários, porque essa próxima eleição não está dada. Continuo acreditando que nós temos a política que muda a vida das pessoas. A política comunista é o caminho para um país justo e igualitário”.













