Ocupar espaços e disputar consciências: caminho para a construção do Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento
Ocupar espaços não é apenas uma metáfora política. É um ato concreto de resistência, disputa e transformação. Em tempos de ataque às instituições, à democracia e à soberania, a política é desconstruída, como um campo a ser rejeitado, cabe a nós cotidianamente reafirmá-la como a via capaz de garantir direitos, preservar a democracia e abrir caminhos para um futuro mais justo. Para tanto, o que se propõe aqui é contribuir para aprimorar o Projeto de Resolução Politica, destacando que a ocupação de espaços precisa ir além de sindicatos, parlamentos ou governos: é disputar cada arena da vida social onde se organizam as consciências: das associações de bairro às redes digitais, das universidades às entidades representativas, das igrejas aos coletivos sociais, esportivos e culturais.
Grande parte da população ainda ecoa um sentimento de negação da política, resumindo-a a expressões como “não quero me meter nisso” ou “todos são iguais”, como se fosse possível viver fora dela. No entanto, os últimos acontecimentos no Brasil têm revelado um cenário paradoxal: quanto mais se nega a política, mais se participa dela, notadamente pessoas identificadas com a direita. Diante de atentados contra as instituições e contra a economia nacional, como no atual episódio das tarifas impostas pelos Estados Unidos, setores diversos da sociedade, a exemplo do setor de agronegócio, reconheceram o desgaste e os prejuízos concretos que tais ações causam ao país. Isso demonstra que, quando ameaças ou danos reais se impõem, o povo brasileiro reage coletivamente, tornando-se sujeito político diante das contradições e pressões que atravessam a vida social.
É diante desse cenário político e social complexo, determinado em última instância pela predominância das redes sociais e suas implicações devidamente delineadas no Projeto de Resolução, que precisamos examinar nossas formas de atuação. É preciso alargamos o nosso horizonte para as formas de atuação e os espaços que podemos e devemos ocupar, uma vez que a política não se resume à partidária, eleitoral ou social (aqui no sentido das lutas sociais tradicionais), ela está em todos os lugares, até nas escolhas cotidianas de convívio, porque somos, como dizia Aristóteles, “zoon politikon”, seres políticos por natureza.
Numa perspectiva de ocupação de espaços, fazendo um paralelo entre política e poder, temos que a política nasce da pluralidade humana e o poder se distribui em micro-relações presentes em todas as instituições sociais, da convivência entre diferentes. Isso significa que participar é inevitável: ou ocupamos os espaços com consciência e propósito, ou eles serão ocupados por outros interesses. E, para nós, que defendemos um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, esse movimento de participação é também pedagógico: ao mesmo tempo em que levamos nossas ideias à sociedade, aprendemos e transformamos nossa prática no diálogo e na disputa real de todos os espaços da vida social.
O Projeto de Resolução Política reafirma a construção de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento como o caminho brasileiro ao socialismo, tendo como eixo estratégico o fortalecimento da nação e a realização de reformas estruturais e rupturas. Também, reafirma a luta institucional, a luta social e a luta de ideias como vetores para o acumulo de forças para o rumo traçado. E aqui acrescento que esses três vetores ganham força quando traduzidos em presença concreta, quando nossas ideias, propostas e bandeiras se materializam nos espaços onde a vida acontece.
Ocupar espaços, portanto, não é apenas complementar aos vetores, mas a condição para que eles existam de fato. É ali, nos espaços da sociedade, que se formam identidades coletivas, se disputam princípios e se consolidam vínculos capazes de sustentar o Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento. Por isso, precisamos estar em todos os lugares: associações comunitárias, clubes, conselhos locais, coletivos culturais, instituições profissionais, ambientes de trabalho – de um grupo de convivência às redes digitais – organizando anseios, esperanças, momentos de lazer, apoio e cooperação. Ocupar esses espaços não tradicionais das lutas é parte essencial do processo formativo e transformador da política.
Para tanto, o que a vida quer de nós é cada vez mais coragem. A coragem é elemento essencial e que transforma o aprendizado em prática transformadora. Ela pode começar de forma individual, em gestos simples da vida cotidiana, como: a disposição de se expor, de propor, de aceitar responsabilidades, mesmo quando isso significa estar só diante de um desafio. Muitas vezes, essa coragem faz com que pessoas comuns, como nós, se sobressaiam em espaços onde menos se espera ou até em lugares cuja importância talvez nem elas mesmas imaginassem ocupar. Mas também se fortalece no coletivo, quando essa mesma coragem se traduz em participação organizada e compartilhada. É o que se vê, por exemplo, nas experiências de conselhos populares onde jovens, adultos e idosos assumem papéis de força em prol dos interesses da comunidade local. A democracia se renova a partir desses gestos, individuais e coletivos, de participação, que alimentam a vitalidade política e ensinam cidadãos comuns a deliberar, decidir e transformar.
Escrevo essa contribuição ao debate do 16º Congresso Nacional do PCdoB não apenas do lugar político e social de mulher que, não por acaso optei por levar minha consciência da esfera individual para a coletiva em um partido com as características do PCdoB, a partir de onde busco exercer a representatividade em cada espaço que ocupo, mas também de um lugar geográfico e politicamente específico do ponto de vista do sentido objetivo da presença das mulheres em múltiplos espaços. Em Contagem, é evidente a força e o papel das mulheres: o executivo é liderado por uma mulher pela quarta vez, assim como os vários órgãos que o compõem, em diversos níveis de hierarquia, e essa marca de protagonismo se estende também à Câmara Municipal, à Ordem dos Advogados (onde atuamos com presença destacada), aos conselhos tutelares, às organizações sociais, às representações de classe (dos trabalhadores e dos empresários) e aos movimentos populares de modo geral.
É a partir desse olhar e dessa experiência concreta de um lugar onde nós, mulheres, historicamente impedidas de exercermos nossos plenos direitos, ocupamos, com nossas ideias e rebeldias, todos os espaços ao longo dos últimos anos e reconhecemos a transformação ocorrida no conjunto da cidade de Contagem. É um caso onde essa participação não se limita aos espaços tradicionais da política. Nossa cidade é marcada por uma cultura de engajamento, onde a disputa se expressa em múltiplas formas, e o PCdoB em Contagem tem buscado se inserir nessa dinâmica política e social, valorizando essas oportunidades e procurando não se restringir ao institucional, mas estar presente em cada arena onde a sociedade se organiza — dos conselhos e entidades representativas às equipes de gincanas, associações comunitárias, clubes recreativos, igrejas e outras expressões coletivas.
O Congresso do PCdoB é um espaço de troca de ideias e aprendizado coletivo. A experiência da ocupação de espaços mostra-se essencial para a estratégia do Partido, que deve ser institucional, comunitária, simbólica e cultural. Para consolidar o Projeto Nacional, é necessário que as orientações gerais se traduzam em cada realidade local, de modo que experiências específicas enriqueçam a linha nacional e garantam presença nos espaços em que se formam consciências e se formam vínculos. Quando essa diretriz se firma nacionalmente, fortalece-se o diálogo interno e a unidade estratégica, sem perder a vitalidade das práticas locais.
Ocupar espaços é um chamado coletivo. Mais do que presença física, trata-se da vida em comunidade e da participação ativa em cada esfera da sociedade. É estar presente para propor, construir e defender a liberdade, as minorias, a igualdade e o bem comum. É afirmar que a política presta e é por meio dela que se garantem saúde, educação, moradia, cultura e dignidade.
Ocupar espaços e disputar consciências é, em última instância, afirmar que o Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento só será possível com coragem, presença e a convicção de que o povo brasileiro pode reinventar o seu futuro.
*Advogada; Diretora de Licitações, Contratos e Parcerias da Prefeitura de Contagem/MG; Dirigente Municipal do PCdoB Contagem/MG.