Refletindo sobre a linha política revolucionária no Brasil e o papel do PCdoB
Terceira parte
O Partido Comunista do Brasil – PCdoB, desde sua fundação e reorganização, cumpre seu papel de vanguarda no movimento político-social do país. São 103 anos de presença ininterrupta nas lutas do povo pelo fortalecimento da nação soberana, por democracia e desenvolvimento, direitos e emancipação da classe trabalhadora, pelo socialismo. Nesse intervalo de tempo, nos diversos momentos históricos, o Partido propôs bandeiras de luta mobilizadoras, liderou grandes manifestações de massa e de trabalhadores em suas conquistas; com sua visão civilizacional aglutinou o que havia de mais avançado e progressista nas áreas cultural e intelectual. Nas grandes encruzilhadas políticas, com raras exceções, o Partido esteve atento a mostrar o rumo em defesa do povo brasileiro. Em cada período histórico responderam e destacaram-se frentes e formas de luta ancoradas na unidade política, sempre interligadas. Registre-se que essa trajetória vitoriosa marcada pelo heroísmo está sendo realizada com mais de sua metade na clandestinidade. O PCdoB é uma organização preparada teórica e politicamente para os grandes embates.
O XVI Congresso oportuniza-nos refletir, na atual quadra histórica, como reposicionar o Partido no cenário das respectivas frentes de luta, objetivando torná-lo de fato referência de mudanças perante o povo. Essa tarefa de magnitude implica em preparar o Partido à recuperação de espaço perdido na disputa ideológica com a social-democracia no campo das forças progressistas, pós-regime militar. Se as classes dominantes sabem seu inimigo principal, hoje, o povo nos confunde, quase desconhece nossos feitos, não tem acesso aos nossos objetivos e programa. O grau de visibilidade do PCdoB é muito diminuto perante as massas mesmo com a excelente atuação da bancada federal. Temos capacidade e conteúdo para nos diferenciarmos, mas precisamos saber fazê-lo. A principal arma são nossas ideias, a força está em nossa unidade e o alcance de realização está em nosso exército de quadros e militantes com capacidade e habilidade política posicionados em todas as áreas de atuação.
Ao falar em revigoramento, antes de tratar de bases e instrumentos com alcance de comunicação, precisamos nos preocupar com o ânimo das tropas e de seus comandantes, com a gestão política e orgânica do exército, com o conhecimento do front. Há uma expectativa do XVI Congresso ao reafirmar a perspectiva do socialismo com bases atuais e concretas; enfatizar o papel do PCdoB enquanto liderança indispensável em todo o processo de transformação social. O Partido precisa preparar o caminho, tarefa intransferível, e estar sempre pronto para cumprir seu desiderato. Se as contradições objetivas se agudizam o grau de consciência revolucionária é determinante e só o Partido a possui. Portanto, o Partido precisa desde já se colocar perante o povo como alternativa liderando todas as frentes possíveis não só dirigindo entidades, mas sim fincando raízes entre as massas. O seu desempenho depende do grau de convencimento e este depende da importância da ação para o projeto. Essa dinâmica precisa atingir com a mesma disposição coletiva todas as frentes de luta, sem subalternizar uma a outra, compreendendo a importância de cada uma no devido momento.
Ao tratar a construção e importância das organizações de base partidária, faz-se necessário passar em revista o funcionamento das instâncias superiores; a gestão da tática em ambiente político dinâmico e instável; do sistema de direção com os devidos acompanhamentos das aplicações da linha em realidades locais diversas. Não há bases organizadas sem comitês municipais funcionando, não há comitês municipais sem um comitê estadual organizando ação política nos municípios e não há comitê estadual desenvolvendo a contento sem uma atenção do comitê central no campo político-ideológico e de estruturação. O revigoramento para ser completo precisa partir do comando, na sua capacidade de estabelecer prioridades, mas de ver o todo; responder com rapidez às demandas políticas e elevar as tarefas estruturantes à altura das necessidades. É preciso um corpo coletivo dinâmico e unificado em todas as instâncias de direção.
Por outro lado, não há melhor encontro com o povo, saindo do imaginário para a realidade, e participar de suas lutas sem a capilaridade que as OBs proporcionam. A influência e o crescimento partidário, a conquista de espaços institucionais e as mobilizações de massa mais eficientes são possíveis quando temos junto ao Partido a presença ativa de inúmeras lideranças populares envolvidas em sua luta diária por direitos, elevando sua consciência e organização. A ação nas bases oxigena a política e a organização partidária, trazendo elementos da realidade para reelaboração e novos militantes. Possibilita uma oportunidade ímpar para estabelecer diferenças, marcar nossa identidade e levar perspectivas de mudanças apresentando o Programa como alternativa de vida melhor.
O reposicionamento do PCdoB está condicionado à postura de uma organização que de fato almeja o poder político; que disputa ideias, disputa espaços, disputa liderança, apresenta e disputa projeto de nação. De um Partido que se prepara política e estruturalmente para a hegemonia de um pensamento mais avançado e consequente na sociedade brasileira. De um Partido que compreende que as tarefas de reformas estruturantes não serão realizadas sem mudanças significativas na correlação de forças e na composição do poder. Que para isso precisa de sua presença mais proativa no cenário político e ir contribuindo desde já com o desenvolvimento das condições subjetivas para a revolução socialista.