Manifestação de militantes do Partido Comunista Israelense em maio de 2024 exige cessar-fogo em Gaza

Na edição desta quinta (30), o Entrelinhas Vermelhas recebeu Yoav Goldring, advogado, mestre em Antropologia e Sociologia pela PUC-SP e ex-vereador de Tel Aviv e Jaffa (2008–2013). Membro do Comitê Central do Partido Comunista Israelense e da central sindical Histadrut, Goldring traz uma perspectiva rara: a de um judeu comunista que atua ativamente contra o governo de Netanyahu e em defesa dos direitos do povo palestino — inclusive dentro das fronteiras de Israel.

Na conversa, ele fala sobre a história e a atuação do PC de Israel, a convivência entre judeus e árabes no partido, o enfrentamento ao governo de extrema direita de Benjamin Netanyahu e o apoio à causa palestina. Goldring analisa ainda o isolamento internacional de Israel, o papel do Mossad e os impactos da Lei do Estado-Nação, que nega cidadania plena a 20% da população árabe do país.

Assista a íntegra da entrevista:

História e resistência: o PC israelense antes do próprio Estado

Fundado em 1919, o Partido Comunista Israelense nasceu antes da criação do Estado de Israel e sempre se posicionou contra o sionismo como projeto colonial. Goldring explica que, desde os anos 1930, o partido mantém uma revista diária em árabe — Al-Ittihad — e outra em hebraico, além de publicações culturais que ajudaram a preservar a identidade palestina sob ocupação. Hoje, a atuação eleitoral pela frente Hadash, reúne comunistas, nacionalistas árabes e setores progressistas judeus.

Parlamento sob ataque: deputados comunistas perseguidos

Apesar de ter apenas dois deputados no Knesset (parlamento israelense) — Ayman Odeh e Ofer Cassif —, o partido enfrenta constante assédio político. Ambos já foram suspensos por discursos em defesa de Gaza, e há ameaças reais de ilegalização da legenda. Goldring denuncia que o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, ex-líder de um grupo terrorista de extrema direita, agora comanda a polícia e promove uma intervenção autoritária contra a esquerda.

“Apartheid institucionalizado”: ​​a realidade dos palestinos em Israel

Embora 20% da população israelense seja árabe-palestina, a chamada “Lei do Estado-Nação”, aprovada em 2018, consagra a exclusão legal: apenas os judeus têm direito à autodeterminação no território. Goldring classifica o regime como apartheid e defende que os palestinos dentro de Israel sejam reconhecidos como minoria nacional, com direitos coletivos, não apenas indivíduos.

Gaza, Cisjordânia e a farsa da “guerra contra o Hamas”

O convidado desmonta a narrativa oficial: os ataques em Gaza e a escalada na Cisjordânia não visam apenas o Hamas, mas sim a limpeza étnica contínua promovida por colonos com apoio do exército. “A retórica cobre um projeto colonial mais amplo”, afirma. Ele lembra que Netanyahu, por anos, financiou o Hamas como forma de enfraquecer a Autoridade Palestina — e agora usa o 7 de outubro como pretexto para um genocídio.

Solução de dois Estados: utopia ou necessidade revolucionária?

O Partido Comunista Israelense defende a criação de um Estado palestino soberano com base nas fronteiras de 1967, a retirada total dos assentamentos e uma Jerusalém dividida em duas capitais . Goldring rejeita a ideia de que Israel seja “o Estado dos judeus”, propondo, em vez disso, um país binacional e democrático onde judeus e palestinos têm igualdade plena de direitos — sem privilégios étnicos ou religiosos.

Internacionalizar a luta, internacionalizar a esperança

Diante do isolamento crescente de Israel no cenário global, Goldring vê uma janela de oportunidade: “O que era um problema local virou uma causa mundial”. Ele conclama por embargo de armas, apoio à unidade palestina (especialmente entre Fatah e Hamas) e solidariedade internacional com os movimentos de base israelenses que, mesmo sob repressão, seguem nas ruas contra a guerra e o fascismo.

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Por Cezar Xavier