Prisão de Carla Zambelli é o maior símbolo (até aqui) da derrocada bolsonarista
A deputada bolsonarista Carla Zambelli (PL-SP) – que estava foragida na Itália desde o final de maio – foi presa em Roma na tarde desta terça-feira (29). Ela responde por uma condenação no Brasil a dez anos de cadeia por invasão criminosa ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A informação de sua captura foi confirmada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Quem informou às forças policiais o endereço de Zambelli na capital italiana foi o deputado italiano Angelo Bonelli (Verde e Esquerda), que detalhou a denúncia no X (ex-Twitter). A deputada foi encontrada no apartamento onde estava morando, nos arredores do Vaticano, e não resistiu. A prisão contou com o apoio da Polícia Federal brasileira.
A pedido do governo Lula, o nome da brasileira estava na lista de foragidos da Interpol. Ela deve ser extraditada e cumprir pena no Brasil em regime fechado. Não cabe mais recurso. Além disso, a prisão tende a apressar a perda de seu mandato e dificultar ainda mais sua situação jurídica.
Em janeiro de 2023, ao lado do hacker Walter Delgatti, Zambelli adulterou ilegalmente informações no sistema do CNJ. Delgatti, que havia se notabilizado em 2019 por protagonizar a Vaza-Jato, está preso. Segundo a PGR (Procuradoria-Geral da República), o objetivo da bolsonarista era desmoralizar o Judiciário com falsos alvarás de soltura e mandado de prisão.
A deputada buscava se reabilitar junto ao núcleo duro do bolsonarismo, que não a perdoava pelo episódio em que Zambelli, com uma arma em mãos, ameaçou o jornalista Luan Araújo nas ruas do Jardins. Filmada pela imprensa, a perseguição ocorreu em 29 de outubro de 2022, na véspera do segundo turno, e foi apontada pelo próprio Bolsonaro como uma das causas de sua não reeleição.
Uma vez condenada, Zambelli perdeu os direitos políticos e ficou inelegível por oito anos. Antes da Itália, ela tentou se instalar nos Estados Unidos. A preferência pelo país europeu ocorreu porque Zambelli tem cidadania italiana.
Se sua extradição for confirmada, a parlamentar se cristalizará como maior símbolo (até aqui) da derrocada bolsonarista. Ela foi um dos nomes que emergiram na política com a onda de extrema direita que, em 2018, levou Jair Bolsonaro à Presidência da República. Naquela eleição, Zambelli teve 76.306 votos e se tornou deputada federal por São Paulo.
Com um mandato abertamente voltado a pautas extremistas e defesa irrestrita do governo de destruição de Bolsonaro, a parlamentar foi reeleita quatro anos depois com 946.244 votos – a terceira maior votação para a Câmara em todo o Brasil. Seu desempenho, por si só, garantiu mais duas vagas para a bancada do PL-SP.
Sem Zambelli, a extrema direita perde um importante cabo eleitoral e vai desidratar nas eleições parlamentares de 2026. Os holofotes hão de continuar sobre a deputada até a prisão do próximo bolsonarista graúdo – ou, melhor ainda, do próprio ex-presidente.