Cristina falou durante a inauguração do estádio Néstor Kirchner, em Quilmes | Foto: Cambio21

“Escutar o presidente Javier Milei dizer que há superávit fiscal após ter paralisado as obras públicas, de não ter pago os governos estaduais e universidades, de não ter pago nada, é uma mentira!”, afirmou neste sábado (23) a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner.

A líder peronista disse que decidiu falar durante o comício de inauguração do 21º aniversário da eleição presidencial de Néstor Kirchner, após ouvir Milei propor submeter o país ao “anarco-colonialismo”, e ao “sacrifício inútil do povo argentino”. Segundo Cristina, nada mais é do que uma política que “faz as pessoas passarem fome e aumenta o desemprego, com a qual não se pode chegar até o fim do mês”. O crescimento do desemprego, apontou a dirigente, “é o grande drama e o presidente precisa entender que necessita mudar de rumo nessa política”. Diante deste quadro, “acreditar que na Argentina o problema é o déficit é não entender o mundo”, acrescentou.

Para exemplificar a política de dois pesos e duas medidas adotadas pelos neoliberais, ela exibiu um filme sobre os US$ 103 milhões (mais de meio bilhão de reais) de benefícios fiscais entregues pelo governo Milei à empresa Mercado Livre, de Marcos Galperín. “É normal que o mais rico tenha essas isenções?”, questionou a líder peronista, asseverando que “esse dinheiro é suficiente para pagar os gastos de funcionamento das universidades e os hospitais”. “Se querem fazer da Argentina um país de onde se extraem suas riquezas, aí vou me declarar um avatar como a bandeira, para defendê-la. Colônia de novo, não”, sublinhou.

“Quando fomos governo recuperamos algumas empresas que haviam sido privatizadas pelo governo neoliberal de Menem. Recuperamos água e energia, porque não havia água em todos os bairros de Buenos Aires nem havia uma só linha de energia instalada e depois recuperamos a Aerolíneas Argentinas [estatal de aviação] porque o Estado pagava o combustível e os salários de todos os seus funcionários”, explicou. E recordou: “Também recuperamos a YPF (Yacimientos Petrolíferos Fiscales – a estatal de petróleo e gás), porque queríamos recuperar a soberania energética. Também recuperamos as aposentadorias”.

Hoje, na contramão de um projeto soberano, advertiu Cristina, Milei tem um “plano” baseado essencialmente na dilapidação/desnacionalização de quatro setores: petróleo, gás, mineração e o campo, estratégicos para a construção de um país alternativo. Por isso a dirigente condenou a tentativa dos neoliberais de adotarem “uma economia de caráter extrativista, para levar embora todos os recursos naturais, sem valor agregado e sem indústria”. “Isso me faz recordar a Argentina do Vice-Reino do Rio da Prata, mais que anarco-capitalista se parece a anarco-capitalismo e não concordamos com isso”, assinalou.

Quanto à educação, Cristina se contrapôs às insinuações feitas por Milei de que os peronistas “doutrinavam nas escolas”, porque se houvessem feito isso e investido mais na formação política “ele não seria presidente”.  

Ao lado de Cristina, a prefeita de Quilmes, Mayra Mendoza destacou “não haver melhor maneira de homenagear o presidente Néstor Kirchner do que com gestão, com trabalho e com obras”. Somando forças no palanque, o governador de Buenos Aires, Axel Kicillof e o prefeito de Avellaneda, Jorge Ferrares, destacaram a necessidade da defesa da soberania e do desenvolvimento com geração de emprego e renda.

Fonte: Papiro