Belém inicia debates “O Futuro tem Partido” sobre clima e socialismo

Foi depois da tradicional chuva da tarde em Belém – aquela que, como dizem os paraenses, “lava o dia” – que se abriram os caminhos para o lançamento do ciclo de debates “O Futuro tem Partido”. Realizado na quarta-feira, 14 de maio, no Auditório Setorial Básico II da Universidade Federal do Pará (UFPA), o evento reuniu cerca de 200 pessoas em torno do tema “Capitalismo, crise climática e a alternativa socialista”.
Belém foi o ponto de partida simbólico dessa jornada. Capital amazônica e futura sede da COP 30, a cidade representa as contradições agudas entre a destruição ambiental e a resistência popular. O Norte do Brasil, frequentemente negligenciado no debate nacional, apareceu como protagonista e espaço de formulação de saídas políticas para um novo modelo de desenvolvimento.
A atividade contou com a presença de estudantes, militantes, dirigentes partidários e lideranças de movimentos sociais, vindos de diferentes partes do estado. Além da capital, caravanas vieram de Ananindeua, Abaetetuba, Castanhal, Marituba, Mojú, Capanema e Capitão Poço, reafirmando a vitalidade da juventude comunista e a capilaridade do projeto socialista no Pará.

A mesa foi composta por figuras com forte atuação política e acadêmica: Bruna Brelaz, presidenta do Conselho Nacional de Juventude e ex-presidenta da UNE; Rodrigo Moraes, vereador de Belém pelo PCdoB; Daniel Sombra, geógrafo e professor da UFPA; e Ellana Silva, socióloga e ex-presidenta da UJS, responsável pela mediação. Também participaram os dirigentes partidários Jorge Panzera (PCdoB/PA) e Lélio Costa (PCdoB/Belém).
Bruna Brelaz destacou que não é possível debater a crise ambiental sem enfrentar diretamente o modelo econômico que a provoca. Defendeu que uma transição ecológica justa exige colocar a vida no centro das decisões econômicas e políticas, e que o socialismo surge como alternativa concreta a um sistema que devasta os recursos naturais e aprofunda desigualdades. Ela celebrou a presença de jovens, enfatizando a disposição política de uma nova geração.
Rodrigo Moraes, por sua vez, foi direto ao ponto: afirmou que “não é possível humanizar o capitalismo” e que a lógica do lucro transforma tudo em mercadoria. Lembrou que as tragédias ambientais que se multiplicam no Brasil são consequência direta de um sistema predador, e defendeu que a atuação parlamentar precisa estar conectada com a luta de base, mobilizada e organizada.

Jorge Panzera reforçou a importância da COP 30 ser realizada em Belém como momento estratégico para dar visibilidade às lutas amazônicas. Ele foi enfático: “o capitalismo é um sistema predador do meio ambiente e da vida humana”. Panzera também alertou para o avanço do negacionismo, citando os incêndios em Portugal e na Espanha, e as enchentes no Rio Grande do Sul como demonstrações dramáticas da urgência da crise climática. Lélio Costa, destacou a importância da ciência e tecnologia para a construção de um projeto nacional de desenvolvimento.
Daniel Sombra, professor do Núcleo de Meio Ambiente da UFPA, sustentou que o capitalismo é o motor da destruição ambiental, e que o atual modelo de desenvolvimento gera colapsos sociais e ecológicos. Em sua intervenção, defendeu que “só existe preservação ambiental onde tem gente” – um rompimento com visões passadas que separavam natureza e humanidade.
Sombra também argumentou que a saída para essa crise passa por um novo paradigma de desenvolvimento, baseado na soberania popular e na articulação entre ciência pública e protagonismo social. A experiência chinesa e do Vietnã também foram destaque na fala do professor quando o debate se voltou para preservação ambiental e mudança da matriz energética.

A União Nacional dos Estudantes (UNE) foi lembrada ao longo de todo o encontro como espaço de formação de quadros políticos fundamentais para as lutas populares. A expectativa em torno do próximo Congresso da entidade, que acontecerá em julho, esteve presente nas falas como um momento estratégico para projetar as pautas da juventude.
O evento também contou com a presença de representações dos movimentos sociais, como Taísa (Unegro), o que contribuiu para tornar o debate ainda mais diverso e interseccional. A pauta ambiental foi tratada não apenas sob o ponto de vista ecológico, mas também social, racial e de gênero – compreendendo que são os povos mais vulnerabilizados que primeiro sentem os efeitos do colapso ambiental.
Ao longo das falas, foi consenso que a crise ambiental não é um fenômeno natural ou isolado, mas resultado direto da lógica destrutiva do capitalismo global. A juventude presente demonstrou maturidade política ao associar a questão ambiental à luta por um novo projeto de país, que enfrente as injustiças sociais e coloque a sustentabilidade no centro da agenda de transformação.
A mobilização e o entusiasmo político gerado pelo evento se traduziram em ação concreta: mais de 40 jovens se filiaram ao PCdoB durante o ciclo, reafirmando a atualidade do projeto socialista e o papel da juventude como vanguarda das lutas por um futuro melhor.
Com uma combinação de análise crítica, afirmação de identidade política e escuta ativa da base, o ciclo “O Futuro tem Partido” deu seu primeiro passo com força, coragem e esperança organizada. A jornada segue por todo o país, levando formação política, mobilização de base e um chamado à ação para jovens de todas as regiões.