Investimento estrangeiro no Brasil atinge recorde

O investimento estrangeiro direto no Brasil acelerou em outubro e alcançou níveis recordes, segundo relatório divulgado pelo Banco Central. Os dados mostram que os ingressos líquidos de Investimento Direto no País (IDP) — que é o dinheiro que empresas estrangeiras trazem para produzir no Brasil, comprar companhias ou ampliar operações — cresceram 8,8% na comparação anual, somando US$ 10,9 bilhões, frente aos US$ 6,7 bilhões registrados em outubro de 2024.
No acumulado de 12 meses, o fluxo de IDP atingiu US$ 80,1 bilhões, o maior valor desde o início da série histórica. Esse dado é importante porque o IDP é considerado o investimento mais estável e confiável, diferente do capital especulativo que entra e sai rapidamente. Em termos simples: empresas estrangeiras estão apostando no futuro do Brasil e colocando dinheiro de verdade no país.
O desempenho reforça a percepção de maior confiança internacional na economia brasileira, em um cenário marcado pela expansão das exportações e recuperação gradual da demanda doméstica.
Por que esse aumento importa?
O IDP é uma espécie de “termômetro de confiança”. Quando cresce, significa que grandes grupos econômicos acreditam que vale a pena produzir no Brasil e que o ambiente de negócios oferece alguma previsibilidade.
Os dados do BC mostram que:
- A maior fatia veio da participação no capital, ou seja, compra de empresas, reinvestimento de lucros e abertura de novas operações.
- Só os lucros reinvestidos somaram US$ 3,5 bilhões, o que indica que empresas que já estão no país preferiram manter o dinheiro aqui, e não enviá-lo para fora — outro sinal de confiança.
Além disso, houve entrada de US$ 855 milhões em operações intercompanhia, que são transferências internas entre subsidiárias e matrizes. Quando esses fluxos são positivos, em geral significam expansão de atividade.
Confiança externa impulsiona participação no capital das empresas brasileiras
O patamar recorde de investimento direto reforça um movimento de diversificação da economia brasileira, com maior participação de capital produtivo externo em setores estratégicos. Analistas destacam que o cenário de estabilidade macroeconômica, câmbio competitivo e recuperação da indústria tem funcionado como fator de atração para multinacionais.
O vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou na segunda-feira (24) que o Brasil está a caminho de registrar um recorde de investimentos diretos neste ano. Até agora, o maior ingresso anual do país foi em 2011, com US$ 102,43 bilhões.
O relatório aponta que o avanço do investimento direto foi impulsionado sobretudo pela participação no capital, que somou US$ 10,1 bilhões em outubro — incluindo US$ 3,5 bilhões em lucros reinvestidos.
Reservas internacionais aumentam para US$ 357,1 bilhões
As reservas internacionais — o conjunto de ativos em moeda estrangeira que o Banco Central usa para garantir estabilidade em momentos de turbulência — fecharam outubro em US$ 357,1 bilhões, alta de US$ 521 milhões frente ao mês anterior.
O crescimento decorreu principalmente de:
- US$ 809 milhões em receitas de juros
- US$ 736 milhões de ganhos de preços
O paradoxo: contas externas deficitárias, mas financiadas
A melhora da conta financeira contrasta com o desempenho das contas externas. O déficit em transações correntes foi de US$ 5,1 bilhões em outubro — menor do que o registrado no mesmo mês de 2024, quando o saldo negativo chegou a US$ 7,4 bilhões. Ainda assim, o rombo acumulado em 12 meses está em US$ 76,7 bilhões (3,48% do PIB), pressionado pelo aumento do déficit em renda primária e pela alta nos gastos com serviços, especialmente viagens e propriedade intelectual.
Desta forma, mesmo com o crescimento da economia, o Brasil registrou déficit em transações correntes em outubro. Isso ocorre porque:
- aumentaram os gastos com viagens,
- subiram os pagamentos de lucros e juros para o exterior,
- e cresceu o déficit em serviços.
Mas, ao mesmo tempo, o país registrou:
- superávit comercial de US$ 6,2 bilhões,
- aumento das exportações (+8,9%),
- queda nas importações (-1,3%).
E, sobretudo, o déficit corrente é plenamente coberto pelo investimento estrangeiro direto, que entrou em volume muito maior.
Dito de outro modo: O Brasil gasta mais dólares do que recebe nas contas correntes, mas o investimento direto que entra compensa essa diferença com folga. A balança comercial, portanto, continua sendo o ponto de alívio.
Isso reduz a vulnerabilidade externa e melhora a avaliação do risco país.
A conta de renda primária — que inclui o pagamento de juros da dívida externa e a remessa de lucros e dividendos por empresas multinacionais — foi a que mais pesou negativamente no mês.
O déficit somou US$ 7,4 bilhões, alta de 12,7% em relação a outubro do ano passado:
- Juros pagos ao exterior: US$ 2,2 bilhões (+31,7%)
- Lucros e dividendos enviados: US$ 5,3 bilhões (ante US$ 5,0 bilhões em 2024)
O aumento dessas saídas de recursos reduz o saldo das contas externas mesmo com o bom desempenho comercial.
Atração de portfólio e reservas estáveis reforçam ambiente favorável
Além do investimento direto, o país registrou ingressos de US$ 3,2 bilhões em investimentos em carteira, com destaque para títulos de dívida, que responderam por US$ 2,5 bilhões do total. A entrada em ações e fundos somou US$ 761 milhões.
As reservas internacionais permaneceram estáveis, fechando outubro em US$ 357,1 bilhões, com leve aumento mensal de US$ 521 milhões — movimento resultante de receitas de juros e variações de preços dos ativos internacionais.
Por que o investidor está voltando ao Brasil?
Embora o déficit em transações correntes siga elevado, a entrada robusta de IDP — por natureza mais estável e de longo prazo — contribui para reduzir riscos externos e fortalecer a posição internacional do país.
Alguns fatores ajudam a explicar:
1. Estabilidade macroeconômica maior que a média global
Apesar de turbulências políticas, o investidor observa:
- inflação sob controle,
- juros em queda gradual,
- crescimento moderado porém estável,
- câmbio relativamente previsível.
2. Indústria em recuperação
Diversos setores — como energia, mineração, alimentos, tecnologia e agronegócio — voltaram a atrair grandes grupos internacionais.
3. Agenda ambiental e transição energética
O Brasil tem sido visto como líder potencial nas cadeias globais de energia limpa, o que abre oportunidades de investimentos de longa duração.
4. Reposicionamento do país nas cadeias produtivas globais
Com tensões internacionais entre EUA e China, o Brasil aparece como alternativa estratégica na América Latina.
O relatório do Banco Central revela um quadro de melhora da percepção internacional sobre o Brasil. O recorde de US$ 80,1 bilhões em 12 meses é mais que um número: é um sinal de que, apesar das incertezas globais, o país voltou a ser considerado atraente, estável e com potencial de crescimento.
Ao mesmo tempo, o déficit nas contas externas e a dependência crescente de serviços importados mostram que o Brasil precisa fortalecer políticas industriais, ampliar competitividade e diversificar sua economia.
Em resumo: O investimento bate recorde porque há confiança, mas sustentar esse movimento exige continuidade de políticas públicas, segurança jurídica e um ambiente econômico sempre dinâmico.
por cezar xavier




