A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, acompanhou, neste domingo (9/11), a inauguração do Espaço Chico Mendes, no Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém (PA). A iniciativa integra as atividades paralelas à COP30 e foi concebida como um ambiente de aprendizagem, intercâmbio e reflexão sobre a relação entre natureza, cultura e sociedade, fortalecendo soluções coletivas para o enfrentamento da crise climática. Foto: Fernando Donasci/MMA

Em entrevista concedida em Belém, onde ocorre a abertura da COP30, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou ao Estadão que o Brasil está preparado para liderar pelo exemplo na agenda climática, apesar das críticas à exploração de petróleo na Margem Equatorial.

Segundo ela, o aval do governo à operação da Petrobras na região reflete os “desafios e contradições” enfrentados por todos os países no processo de transição energética.

“Você dificilmente vai encontrar um país que não esteja vivendo desafios e contradições na transição energética”, disse.

Marina defendeu que parte dos lucros do petróleo seja usada para financiar energias limpas, como o hidrogênio verde, a eólica e a solar.

Brasil já iniciou transição energética, afirma ministra

Para Marina, o Brasil parte de uma posição de vantagem: 45% de sua matriz energética é limpa, e 90% da matriz elétrica vem de fontes renováveis.
Ela reforçou que o governo Lula tem como meta transformar a Petrobras em uma empresa de energia, e não apenas de petróleo.

“Não é possível abandonar combustíveis fósseis por decreto, porque haveria um colapso energético global”, afirmou.

A ministra sustentou que o país já começou a construir as bases de uma economia verde, com queda de 50% nos incêndios florestais e redução do desmatamento pelo terceiro ano consecutivo.

Críticas ao Senado: ‘decisão é uma regressão’

Marina foi dura ao comentar a aprovação, pelo Senado, de novos incentivos para termelétricas a carvão — decisão tomada poucos dias antes da conferência climática.

“Foi um sinal na contramão dos esforços que precisam ser feitos. É um absurdo que algo com essa complexidade seja votado em seis minutos”, criticou.

Ela classificou a medida como “regressão, e não contradição”, e disse que decisões desse tipo dificultam o enfrentamento das mudanças climáticas.

Licenciamento e influência de lobbies

A ministra também criticou mudanças nas regras de licenciamento ambiental, incluídas na mesma medida provisória, que, segundo ela, favorecem grandes empreendimentos hidrelétricos e de mineração.

“São interesses que põem vidas em risco e caminham na contramão da sociedade”, afirmou.

Questionada sobre a atuação de lobbies empresariais durante a COP30, Marina respondeu que a ética e o interesse público devem prevalecer sobre os interesses privados.

Fundo Florestas Tropicais e ambição climática

Marina celebrou a criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), já operacional com mais de US$ 6 bilhões em compromissos. O objetivo é financiar pagamentos por áreas de floresta protegida e serviços ecossistêmicos, destinando 20% dos recursos a povos indígenas e comunidades tradicionais.

“Estamos trocando a lógica da doação, do pires na mão, pela do investimento”, afirmou.

Compromisso com o fim dos fósseis

Para que a COP30 seja considerada um sucesso, Marina defende um “espírito de mutirão” entre os 198 países participantes. O foco, diz ela, deve ser elaborar um mapa global para o fim dos combustíveis fósseis e do desmatamento.

“Precisamos criar um mapa para chegar ao fim do desmatamento e do uso de combustíveis fósseis. É difícil? É. Mas possível”, concluiu.

A ministra reforçou que o Brasil quer usar a conferência para ajudar o mundo a atacar tanto as causas quanto os efeitos da crise climática, consolidando sua liderança no debate internacional sobre a transição justa e sustentável.

(por Cezar Xavier)