Inflação pode ter recorde de queda em Lula 3, mas percepção popular é oposta
Ao final de 2026, o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderá ser encerrado com a menor inflação acumulada das últimas décadas, considerando as medições feitas desde os ano FHC. A projeção é de que os quatros anos tenham um índice pouco maior do que 19%, um novo recorde sobre a menor taxa obtida, também pelo presidente, de 22% entre 2007 e 2010.
Há ao menos dois cálculos que embasam essa perspectiva. Um deles, feito com base nos dados do Boletim Focus, projeta uma inflação de 19,73% ao longo de toda a atual gestão; o outro, feito pelo economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), a pedido do jornal Folha de S.Paulo, estima que o patamar será ainda menor: 19,11%.
O movimento de queda inflacionária tem sido frequente. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), do IBGE, ficou em 0,18% em outubro — ante 0,48% em setembro, puxado, especialmente, pela queda no preço dos alimentos pelo quinto mês consecutivo. No acumulado de 12 meses, ficou em 4,94%, abaixo dos 5,32% observados no mesmo período encerrado em setembro. Em agosto, o país teve deflação de 0,11%.
“O senhor (presidente Lula) vai terminar seu terceiro mandato com a menor inflação acumulada da história do Brasil. E o mais importante, presidente, é que o senhor está batendo o seu próprio recorde, porque antes deste mandato, o senhor já tinha batido esse mesmo recorde no segundo mandato”, declarou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no final de outubro, corroborando essa perspectiva.
Descompasso
Apesar desse desempenho positivo, há certo desencontro entre o que os dados mostram e o que as pesquisas retratam sobre a opinião pública, embora tenha havido melhoras nessa percepção. Uma delas, feita pela Apex Partners e divulgada em setembro, aponta que 52% avaliam negativamente a atuação do governo no controle da inflação. Outra pesquisa, a Radar Febraban, indica que em setembro 80% disseram acreditar que os preços aumentaram.
O professor Marco Antonio Rocha, do Instituto de Economia da Unicamp, explica como essa noção se processa no dia a dia dos brasileiros. Considerando que a inflação é um movimento de aceleração, diz, “a redução do índice significa que os preços vão crescer a uma velocidade menor e não que eles estejam caindo. Eles vão permanecer no patamar que eles já alcançaram”.
Essa situação, pondera, “cria uma espécie de descompasso no que a população entende como inflação e naquilo que a inflação é enquanto fenômeno econômico”. E continua: “por isso que o índice baixar, em um primeiro momento, não causa uma sensação de conforto na população”.
Outro elemento que o professor cita é o efeito da inflação de alimentos sobre os hábitos de consumo e sobre a memória da população. “Por motivos óbvios, os alimentos não são bens de fácil substituição, como acontece, por exemplo, com produtos supérfluos ou itens duráveis, cujo consumo pode ser substituído ou postergado”, diz.
Após meses de altas consecutivas — puxadas, entre outros fatores, pelos efeitos da crise climática, aumento dos custos de insumos agrícolas (fertilizantes e energia) e por fatores externos como a guerra na Ucrânia e a valorização do dólar —, o grupo formado por alimentação e bebidas tem experimentado quedas consecutivas desde junho. No acumulado daquele mês até outubro, a redução foi de 0,98%, de acordo com o IBGE.
“A sensação que a população teve, no final das contas, é de que estava perdendo a capacidade de consumo e em termos de memória isso é facilmente transferido para a ideia de que existe uma pressão inflacionária geral”, pondera Rocha.
Para controlar a inflação, o remédio amargo comumente usado é o aumento da taxa de juros. No caso brasileiro, a mais recente reunião manteve a Selic em elevadíssimos 15%, e a tendência é que continue assim até o final do ano.
No caso da composição dos preços dos alimentos, Rocha destaca que a taxa de juros tem pouca incidência para baixar a inflação diretamente. “O que ela faz é reduzir o consumo e forçar certa queda ou uma elevação mais moderada do preço de outros componentes que são mais relacionados com a taxa de juros, como investimentos e parcelas financiadas”.
Ele completa explicando que a Selic “não atinge diretamente a causa do problema” e “acaba tendo um custo muito alto para a sociedade como um todo, para o crescimento econômico e o investimento das empresas — que é um componente importante inclusive da competitividade brasileira.




