Funcionários trabalham na montagem de fritadeiras a ar em uma fábrica em Ningbo, China, no início deste ano.

O Partido Comunista da China (PCCh) iniciou nesta segunda-feira (20), em Pequim, a Quarta Sessão Plenária do 20º Comitê Central, um dos encontros mais decisivos de seu ciclo político. O evento tem como foco a elaboração das propostas do 15º Plano Quinquenal (2026–2030), documento que orientará o desenvolvimento econômico e social da segunda maior economia do mundo nos próximos cinco anos.

Diferentemente da tradição — em que o debate sobre o plano ocorre na quinta sessão plenária —, a antecipação reflete o atraso da Terceira Sessão, realizada apenas em agosto de 2024, e a necessidade de ajustar o planejamento à nova conjuntura econômica global.

O secretário-geral do PCCh e presidente da China, Xi Jinping, apresentou o relatório do Birô Político e o documento-base do plano a cerca de 200 membros do Comitê Central. As deliberações se estendem até quinta-feira (23), e o texto final deverá ser submetido à aprovação do Congresso Popular Nacional em março de 2026.

A meta: modernização socialista até 2035

A sessão ocorre num período estratégico: o quinquênio de 2026 a 2030 antecede a meta de alcançar a “modernização socialista básica” até 2035, marco central da estratégia de longo prazo de Xi Jinping. O plano deverá reforçar a inovação tecnológica, a modernização industrial e o fortalecimento da economia real, com ênfase em setores como inteligência artificial, novas energias, biotecnologia e computação quântica.

Além disso, o documento deve propor mecanismos para sustentar o crescimento de alta qualidade, combater desigualdades regionais e consolidar uma estrutura de bem-estar social mais ampla, com foco em educação, saúde e seguridade.

Continuidade das reformas estruturais até 2029

A nova etapa de planejamento se conecta diretamente às metas aprovadas na Terceira Sessão Plenária de 2024, que definiu mais de 300 medidas para aprofundar as reformas até 2029, quando a República Popular da China completará 80 anos.

Essas medidas incluem a criação de “forças produtivas de nova qualidade”, estímulo a indústrias do futuro e reformas no sistema financeiro para ampliar o financiamento à inovação.
Também há uma clara mudança de paradigma: investir em pessoas — capital humano — torna-se prioridade ao lado do investimento físico, reforçando a aposta em educação e inclusão social como motores da produtividade.

Inovação e segurança nacional no centro da estratégia

Em editorial, a agência oficial Xinhua destacou que o novo plano quinquenal deve integrar desenvolvimento e segurança, buscando um equilíbrio entre crescimento econômico e estabilidade política. O foco, segundo o texto, será colocar a inovação tecnológica no centro da estratégia nacional, fortalecer o consumo doméstico e garantir autossuficiência em setores críticos, como semicondutores e energias limpas.

Xi Jinping reafirmou que “a modernização da China exige um desenvolvimento de alta qualidade com o povo no centro das políticas”. Essa ênfase no bem-estar social e na soberania tecnológica consolida a visão de Xi de uma China autossuficiente, segura e menos dependente do Ocidente.

Um modelo de planejamento com impacto global

Desde 1953, os planos quinquenais têm sido a espinha dorsal da governança chinesa. Originalmente inspirados no modelo soviético, eles evoluíram a partir dos anos 1980 para integrar crescimento econômico e progresso social, refletindo a adaptação do socialismo chinês à economia de mercado.

A prática, mantida até hoje, contrasta com modelos ocidentais de curto prazo e reforça o papel do Estado como coordenador estratégico. Como aponta à CNN o analista Neil Thomas, do Instituto de Políticas da Sociedade Asiática, “os planos quinquenais definem o que a China quer alcançar e mobilizam todos os recursos do Estado para isso”.

Com o novo plano, Pequim sinaliza que pretende responder aos desafios globais com mais centralização, inovação e planejamento, reafirmando o protagonismo de Xi Jinping e o caráter de longo prazo do projeto socialista chinês.

Perspectiva: entre a prudência e o controle

O 15º Plano Quinquenal marcará o início de uma nova fase da era Xi, em que o país busca reconciliar estabilidade política, autossuficiência tecnológica e coesão social diante de um ambiente internacional mais hostil. Enquanto o Ocidente enfrenta impasses políticos e desaceleração industrial, a China aposta na disciplina do planejamento centralizado como instrumento de força.

Por Cezar Xavier