Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Na passagem dos 50 anos do assassinato do jornalista Vladimir Herzog por agentes da ditadura militar, em 1975, a 47ª edição do prêmio jornalístico que leva o seu nome agraciou, nesta segunda-feira (27), reportagens em diversos formatos voltadas à defesa da democracia, dos direitos humanos e da justiça social.

“Neste ano, a cerimônia adquire um significado ainda mais profundo. São 50 anos do assassinato de Vladimir Herzog, o meu pai, no quartel do DOI-Codi (Departamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna, ligado ao Exército Brasileiro), disse Ivo Herzog, filho de Vlado, durante a cerimônia, realizada no Tucarena, em São Paulo.

Meio século depois, prosseguiu, “o Brasil segue aprendendo, dia após dia, que não há futuro sem memória, democracia sólida sem justiça, liberdade possível sem a coragem de enfrentar as verdades mais duras da nossa história”.

A premiação deste ano refletiu a preocupação dos organizadores com a defesa da democracia frente às iniciativas golpistas da extrema direita. Uma nova categoria com esse tema foi inserida nesta edição e teve como vencedores a reportagem “Os kids pretos: O papel da elite de combate do Exército nas maquinações golpistas”, do jornalista Allan de Abreu, publicada na revista piauí; e o documentário “8/1 – A democracia resiste”, de Henrique Picarelli e equipe, da GloboNews.

Também foram premiados trabalhos focados em outros temas, como a reportagem escrita “Trabalho infantil na indústria tech”, de Isabel Harari e Carlos Juliano Barros, da Repórter Brasil; o vídeo “Território em Fluxo”, do Brasil de Fato, feito por Iolanda Depizzol, Nina Fideles e equipe; e o livro-reportagem “Decaído”, de Sérgio Ramalho e Matrix Editora (a lista completa de vencedores pode ser lida abaixo).

No início da cerimônia, foram exibidas imagens do ato realizado no sábado (25), que reproduziu o protesto ecumênico ocorrido na Catedral da Sé em outubro de 1975, com mais de 8 mil pessoas, e que denunciou o assassinato (e não o suicídio, como a ditadura queria fazer crer) de Vlado.

O prêmio

O prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo foi criado a partir de uma das resoluções aprovadas no Congresso Brasileiro de Anistia, realizado em Belo Horizonte, em 1978, articulado e promovido pelo CBA (Comitê Brasileiro de Anistia).

“Foi de Perseu Abramo, à época diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo e representante da entidade no Congresso, a ideia de dar o nome de Vladimir Herzog ao prêmio que ali surgia”, diz o site oficial do prêmio.

O site também recorda que já em sua primeira edição, em outubro de 1979, o Prêmio Vladimir Herzog “estimulou a luta pela democracia: ajudou a chegada da Anistia, em agosto deste mesmo ano, e a mobilização pelas eleições diretas para Presidente da República, que só ocorreu 1989”.

Deste então, além de reverenciar a memória de Vlado, o prêmio reconhece o trabalho de jornalistas que colaboram na defesa e promoção da democracia, da cidadania e dos direitos humanos e sociais.

Atualmente, o prêmio é promovido por 18 instituições da sociedade civil, além da família Herzog: Associação Brasileira de Imprensa (ABI); Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji); Artigo 19; Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo; Conectas Direitos Humanos; Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP); Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj); Geledés; Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB Nacional); Instituto Vladimir Herzog; Instituto Socioambiental (ISA); Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo; Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo; Coletivo Periferia em Movimento; Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo; Sociedade Brasileira dos Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor) e União Brasileira de Escritores (UBE).

Lista de premiados

Veja abaixo a lista completa dos vencedores da 47ª edição do prêmio:

Categoria Arte
Vencedor: Diogo Braga
“Racismo Ambiental: A outra emergência”
Defensoria Pública do Estado do Ceará | Fortaleza/CE

Fotografia
Vencedora: Márcia Foletto
“Antes Que Ela Veja”
Jornal O Globo | Rio de Janeiro/RJ

Áudio
Vencedor: Vinicius Sassine e equipe
Raphael Concli, Daniel Castro, Gustavo Simon, Magê Flores
“Dois Mundos” – 1º episódio
Folha de S. Paulo | Belém/PA

Menção Honrosa: Igor Mello e equipe
Juliana Dal Piva, Cristiano Botafogo, Camila Mercatelli, Paula Villar, Gabriela Varella, Elenilce Bottari, Eder Ribeiro, Fred Lopes, Stela Nesrine, Amon Medrado – Trilhas sonoras, João Brizzi
“Projeto de Poder” – 4º episódio
ICL Notícias | Rio de Janeiro/RJ

Multimídia
Vencedor: Artur Rodrigues e equipe
Renan Porto, Fabio Leite, Rodrigo Freitas, Lilian Tahan, Otto Valle, Márcia Delgado, Olivia Meireles, Érica Montenegro, Juliana Garcês, Gui Primola, Lygia Lyra, Gabriel Lucas, Michael Melo, Italo Ridney, Caio Sales, Saulo Marques
“A Política da Bala”
Metrópoles | São Paulo/SP

Menção honrosa: Daniel Camargos e equipe
Fernando Martinho, Diego Junqueira, Paula Bianchi, Bruna Damin, Débora de Maio, Beatriz Vitória, Carlos Juliano Barros
“Ogronegócio: milícia e golpismo na Amazônia”
Repórter Brasil | Belo Horizonte/MG

Texto
Vencedora: Isabel Harari e equipe
Carlos Juliano Barros
“Trabalho infantil na indústria tech”
Repórter Brasil | São Paulo/SP

Menção honrosa: Angélica Santa Cruz
“Sorriso: Uma Biografia / Como uma mulher risonha e sem palavras virou um fato social total”
revista piauí | São Paulo/SP

Vídeo
Vencedora: Iolanda Depizzol, Nina Fideles e equipe
Vitor Shimomura, Camila Aguiar, Beatriz Drague Ramos, Gabriela Moncau, Gabriela Peres, Marco Antônio Vieira, Mãos Tagarelas, Isabela Gaia, Tatiana Solimeo, Cibele Lima, Carolina Apple, Monyse Ravena, Bruno Amorim, Igor Dutra, Jéssica Antunes
“Território em Fluxo”
Brasil de Fato | São Paulo/SP

Menção honrosa: Ana Passos e equipe
Vitor Gagliardo, Gabriel Penchel, Marcio de Andrade, Eric Gusmão, Caroline Ramos, Aleixo Leite, Wagner Maia, Maurício Azevedo
Mães de luta
TV Brasil – EBC | Rio de Janeiro/RJ

Livro-reportagem
Vencedor: Sérgio Ramalho
“Decaído”
Matrix Editora | Rio de Janeiro/RJ

Categoria Extra – Defesa da Democracia
Allan de Abreu
Os kids pretos: O papel da elite de combate do Exército nas maquinações golpistas
revista piauí
Henrique Picarelli e equipe
8/1 – A democracia resiste
GloboNews

Com agências