Foto: Richard Silva

O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) elegeu, neste domingo (19), seu novo Comitê Central (CC), com 164 dirigentes, paridade de gênero e uma inédita presença de indígenas. Luciana Santos, ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação do governo Lula, foi reeleita presidenta do Partido.

As decisões foram tomadas no último dia do 16º Congresso, realizado no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, de 16 a 19 de outubro. A plenária nacional, com centenas de delegados nacionais e internacionais de 26 países, foi o capítulo final de um processo de debates — tendo como base um Projeto de Resolução Política — que mobilizou 43 mil militantes, de todos os estados, ao longo de 2025.

A abertura do Congresso, na noite da quinta-feira (16), contou com as presenças do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além de ministros e parlamentares de várias legendas, numa demonstração da amplitude defendida pelo partido como passo fundamental reeleger Lula, isolar e derrotar a extrema direita e fazer o Brasil avançar em seu projeto de desenvolvimento com justiça social, igualdade e respeito ao meio ambiente.

“Estamos dando um passo importante para ampliar o protagonismo das mulheres na política, apresentando uma proposta de nominata com paridade de gênero. Isso é um fato histórico e não é algo artificial. É fruto da persistência política da promoção das mulheres na luta de ideias e no nosso partido. É, ainda, um ganho para o nosso CC e para a política brasileira”, disse a presidenta Luciana Santos.

Como 1ª vice-presidenta, foi eleita outra mulher: a atual secretária de Organização, Nádia Campeão, ex-vice-prefeita de São Paulo durante a gestão de Fernando Haddad (2013-2016).

Na avaliação de Nádia, a paridade é necessária e justa: “Vai render bons frutos no futuro. Ainda há muita energia represada na atuação das camaradas, por vários fatores que dificultam a atuação política das mulheres no geral”. A paridade de gênero, com 50% de mulheres e 50% de homens, é consequência de uma diretriz aprovada no 15º Congresso, em 2021.

Sobre o processo congressual e a eleição do novo CC, Nádia salientou: “A gente está, desde o sábado (18), fazendo discussões, conversas e consultas (sobre a nominata). Isso foi feito num ambiente de muita tranquilidade, liberdade e troca de opiniões”.

Plenário do 16º Congresso. Foto: J.Lee Aguiar

Outro ponto importante do congresso foi a recomendação de que Comitê Central eleito crie uma comissão nacional para organizar a intervenção do partido na luta anticapacitista, ou seja, no combate ao preconceito contra pessoas com deficiência e pela ampliação de seu espaço político.

Até dezembro, as funções da direção executiva do partido estão mantidas e a primeira reunião do novo CC definirá como será a nova composição.

Lula 2026

Um dos pontos centrais do debate ocorrido ao longo de todo o processo congressual foi a necessidade de se formar uma frente ampla de forças políticas e sociais para garantir a reeleição de Lula em 2026 e isolar a extrema direita.

A importância do apoio dos comunistas na defesa desse projeto se refletiu na presença do presidente e de ministros na abertura do Congresso, na noite do dia 16. “Se eu for candidato, não é para disputar, é para ganhar. Não temos o direito de permitir que a extrema direita volte a governar este país”, reforçou o presidente.

Ele também questionou “como é que se explica uma figura politicamente grotesca como [Jair] Bolsonaro [PL] virar presidente da República?”. Segundo Lula, “não há democracia sem comida na mesa, sem salário, sem liberdade, sem universidade e sem direitos humanos”.

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Ainda na abertura, Luciana Santos reforçou o caráter estratégico da próxima eleição para que o Brasil possa seguir avançando: “Nosso país vive mais um momento crucial da nossa história. Temos diante de nós dois caminhos: ou seguimos pela via da soberania, do desenvolvimento e da democracia, ou retrocedemos ao autoritarismo e à submissão à extrema direita”.

O presidente do PT, Edinho Silva, por sua vez, enfatizou a longa aliança entre os dois partidos que, hoje, juntamente com o PV, formam a Federação Brasil da Esperança. “Em 1989, quando o presidente Lula disputou as eleições pela primeira vez, compondo uma frente (PT, PCdB e PSB), ele apresentou ao Brasil um projeto de país, e essa nossa construção perdura desde então”, celebrou. E completou: “O PCdoB é um parceiro histórico e continuará a ser na jornada de construção do Brasil dos nossos sonhos”.

Homenagens

O 16º Congresso do PCdoB também rendeu homenagens a comunistas que seguem na luta — como o ex-presidente do partido, Renato Rabelo, e a deputada estadual de São Paulo, Leci Brandão — e outros que partiram — como os históricos dirigentes Péricles de Souza, da Bahia, e Sérgio Rubens, oriundo do Partido Pátria Livre (PPL), incorporado ao PCdoB em 2019.

Um dos momentos mais emocionantes do Congresso foi o dedicado à homenagem aos 101 mortos e desaparecidos do PCdoB (86) e do MR8 (15), movimento que deu origem ao PPL. O PCdoB foi a organização política que mais vidas perdeu pelas mãos dos agentes da ditadura, dentro do universo total de 434 brasileiros oficialmente reconhecidos pela Comissão Nacional da Verdade.

Ato em homenagem aos mortos e desaparecidos. Foto: Richard Silva

O ato, realizado no dia 17, contou com as presenças da ministra Macaé Evaristo, dos Direitos Humanos e Cidadania, além de dirigentes e familiares de mortos e desaparecidos.

A homenagem também resultou numa exposição fotográfica no saguão do Centro de Convenções Ulysses Guimarães e na distribuição de livreto com resumos da biografia dos militantes assassinados. A plateia também recebeu fotos dos homenageados, levantadas no ato como forma de reafirmar a presença de cada um na memória do partido e do país.

A ministra Macaé Evaristo salientou que o ato de homenagem foi um momento importante “para a gente refletir sobre a luta e os desafios que ainda temos no nosso país quando a gente pensa na superação das estruturas autoritárias que ainda estão presentes dentro do Estado brasileiro”. 

Já a presidenta do PCdoB, Luciana Santos, disse ser indispensável “reconhecer e homenagear a vida e a luta de homens e mulheres que fizeram da coragem uma forma de amor ao Brasil”. E acrescentou: “A história nos conta que aqueles foram tempos duros, de dor e de sacrifício, mas mesmo perseguidos, torturados e assassinados, esses lutadores deixaram ao povo brasileiro um legado que muito nos orgulha”. 

Participação estrangeira

Refletindo sua tradição internacionalista, o PCdoB também recebeu dirigentes de 26 partidos de outros países, entre eles, China, Vietnã, Cuba, Palestina, Angola, Moçambique, Venezuela, Chile, Uruguai, Argentina, Índia, Grécia, Portugal e França.

“O PCdoB tem uma larga e longa tradição de internacionalismo e de solidariedade internacional, e o Congresso Nacional do PCdoB sempre é uma expressão disso. Dessa vez não foi diferente: o 16º Congresso também foi muito internacionalizado, com pautas em destaque como a solidariedade ao povo palestino pelo fim do genocídio; a solidariedade ao povo cubano e o fim do bloqueio a Cuba, além de uma aproximação bastante forte com o Partido Comunista da China”, disse a secretária de Relações Internacionais, Ana Prestes.

Ato político de abertura. Foto: Richard Silva

Na cerimônia de abertura do Congresso, Wang Jialei, do Departamento Internacional do Comitê Central do Partido Comunista da China, leu mensagem encaminhada pelo partido: “Ao longo dos103 anos desde sua fundação, o PCdoB trilhou um caminho de lutas árduas e conquistas notáveis, expandindo-se de 73 membros iniciais para ceca de 400 mil filiados atuais e tornando-se um partido comunista de significativa influência na América Latina e Caribe”, dizia a nota.

Em outro momento dedicado às falas dos delegados, na sexta (17), Hisham Mashhour Saleem Alqam, representante da Frente Popular pela Libertação da Palestina, denunciou o projeto de Israel, cujo objetivo é dizimar e expulsar o povo palestino de suas terras.

Apesar disso, e do poderio militar israelense, Alqam destacou que haverá “resistência até a vitória”. Ele também reformou que a Palestina tem recebido solidariedade em todo o mundo: “São muitos os que levam a bandeira palestina pelas ruas, que defendem a Palestina livre. Somos milhões de palestinos.”

O presidente da Comissão de Relações Internacionais do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), deputado Roy Daza, declarou haver “uma escalada na política de agressão dos Estados Unidos neste momento, uma escalada muito perigosa que tivemos que enfrentar e que estamos enfrentando nas diferentes frentes que esta batalha envolve”.

Representando o Vietnã, o embaixador Bui Van Nghi, representante do Comitê Central do Partido Comunista do país, transmitiu saudações de “solidariedade proletária internacional e congratulações ao evento” e destacou o papel histórico e a relevância política do PCdoB na luta pela soberania nacional, pelos direitos do povo trabalhador e pela construção do socialismo no Brasil.