Revigorar e Reposicionar o PCdoB: as lições dos Planos de Estruturação Partidária (PEPs) – Parte 1
1. Introdução – Contextualização Política e Desafios Atuais
O Projeto de Resolução Política (PRP) do nosso 16º Congresso afirma, no seu diagnóstico de fundamentação das diretrizes, que o contexto atual da luta pelo socialismo é marcado por:
i. Crise sistêmica do capitalismo, com baixo crescimento nas economias centrais, aumento da desigualdade, precarização do trabalho e domínio do capital financeiro e do rentismo;
ii. Financeirização extrema, em que instrumentos financeiros especulativos superam o PIB global, e as grandes corporações passam a comandar a produção e o fluxo de capitais, reduzindo o papel do investimento produtivo;
iii. Transformações tecnológicas profundas, impulsionadas pela Quarta Revolução Industrial (inteligência artificial, big techs, plataformas digitais), levando a mudanças no mundo do trabalho e ampliando a exploração, a fragmentação e a informalidade entre trabalhadores;
iv. Agravamento da crise climática, resultado da lógica destrutiva do capitalismo, afetando desproporcionalmente os países periféricos, enquanto as nações ricas resistem em adotar as medidas necessárias;
v. Ascensão da China socialista e de novos polos, deslocando o centro do dinamismo econômico mundial e acelerando o processo de multipolaridade, com destaque para o protagonismo do BRICS; e,
vi. América Latina e Caribe sob disputa entre projetos progressistas e ofensivas conservadoras, com ações imperialistas, ameaças externas e o desafio de retomar a integração regional.
Conclui que diante desse cenário, o Brasil continua a enfrentar o velho dilema da encruzilhada histórica, ou seja, precisa consolidar a reconstrução nacional, proteger a democracia, combater as violações do período anterior e articular novas respostas de desenvolvimento soberano e justiça social frentes aos desafios externos e internos.
Destacando que ao fim e ao cabo duas tarefas tornam-se centrais para superar a crise e os impasses decorrentes, sendo elas: a. Garantir nova vitória da aliança liderada por Lula em 2026, e, b. Promover mudanças estruturais profundas, por meio de um bloco estratégico reunindo a esquerda, forças populares e patrióticas.
2. Partido rumo a um novo ciclo – Resistência, Revigoramento e Protagonismo
A parte III do PRP – “Partido da resistência, da luta do povo e do socialismo” propõe revigorar e reposicionar o PCdoB para um novo ciclo de acumulação de forças, aumentando sua influência política, assumindo de forma mais nítida a perspectiva estratégica de ruptura, as reformas estruturais e a revolução brasileira.
Essas iniciativas estabelecem o papel do PCdoB de polo unificador das forças de esquerda e progressistas, favorecendo a implementação de ações abrangentes e transformadoras.
Ao destacar seus feitos em 103 anos de história, desses 60 na ilegalidade, e de atuação contínua, o Partido monta um auto retrato ao se definir como revolucionário, proletário, patriótico e internacionalista.
Ressalta que há novos desafios a serem enfrentados, dentre eles o crescimento do neofascismo, as transformações tecnológicas e comunicacionais, a crise climática, profundas mudanças no modo de produção que afetam a consciência e condições dos trabalhadores e das trabalhadoras.
E adverte para concepções que rebaixam o papel estratégico do Partido, como a ofensiva ideológica da extrema-direita, as regras institucionais restritivas e tendências que enfraquecem a forma partido.
Por fim, salienta a necessidade da aplicação dos três vetores de acumulação de forças: 1. Institucional; 2. Social; e, 3. Ideológica que lhe assegure expansão e influência.
3. Os Planos de Estruturação Partidária (PEPs) – O que aprendemos e apreendemos (*)
A construção/organização do Partido Comunista, vai além de paixão, debates acalorados, mobilizações de rua etc., que são importantes. Envolve o cuidar “mais e melhor” e de forma cotidiana da sua estrutura orgânica e humana, ajustando rotas, avaliando as avarias, sempre olhando para o seu objetivo final.
Se assemelha muito mais ao funcionamento de uma “startup” cuidadosamente planejada, pautada por estratégia clara, metas objetivas e transparência rigorosa diante das próprias dificuldades.
Com base nesse entendimento, o PCdoB entre o final dos anos 1990 e começo dos anos 2000, elaborou e executou planejamentos estratégicos nomeando-os de Planos de Estruturação Partidária (PEPs). Tive a felicidade de ter participado de todos eles, como secretário estadual de organização do Partido no Rio Grande do Norte.
Na parte 2 (final) elencarei 5 lições dos Planos de Estruturação Partidária (PEPs) que considero centrais e são, ao meu sentir, pilares para o “Revigorar e Reposicionar” o PCdoB nessa quadra política de uma, ainda, defensiva estratégica em mundo fraturado, incerto e perigoso.