Feminismo Emancipacionista: A Revolução das Mulheres na Luta de Classes
O feminismo emancipacionista, adotado por mulheres comunistas, busca a emancipação feminina por meio da conquista de autonomia e de plenos direitos econômicos, políticos e sociais. Trata-se de uma das diversas vertentes do feminismo contemporâneo. Mas qual seria o seu principal diferencial?
A sociedade brasileira foi historicamente moldada sob bases patriarcais e machistas. Em um contexto como esse, uma mulher que rompe essas barreiras já realiza, por si só, um ato de resistência. Libertar-se das amarras sociais e dos costumes patriarcais impostos desde a infância, na maioria dos casos, é um gesto profundamente revolucionário. Como afirma Heleieth Saffioti (2004), a opressão de gênero está intrinsecamente conectada à exploração de classe, sendo, portanto, impossível tratar uma sem considerar a outra.
Embora a luta de classes seja o eixo estruturante do projeto comunista, é fundamental questionar: onde se insere a categoria “mulher” nesse processo de transformação social? Como o comunismo pode contribuir de forma efetiva para a libertação das mulheres? O feminismo emancipacionista busca justamente responder a essas perguntas, ao reivindicar a libertação das mulheres de forma abrangente e equânime, garantindo sua participação plena na vida social, econômica e política. Trata-se de um feminismo que não exclui os homens, mas os reconhece como parte da sociedade com a qual se deve construir coletivamente a emancipação humana, vez que a opressão da burguesa, é diferente da mulher operária.
As mulheres são peças-chave na emancipação da classe trabalhadora. Representamos mais da metade da população brasileira e, segundo o IBGE, somos 43% das chefias de família no país. Ainda assim, seguimos enfrentando desigualdades gritantes: recebemos salários menores, temos participação política reduzida nos parlamentos e nos cargos executivos, e ocupamos uma proporção irrisória nos espaços de liderança das grandes empresas. Além disso, seguimos sendo as principais vítimas da violência doméstica, da sobrecarga nos cuidados familiares e das renúncias profissionais impostas pela maternidade e pela divisão desigual do trabalho reprodutivo.
Angela Davis (2016) afirma que “quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”, evidenciando que a posição das mulheres negras na sociedade revela de forma contundente as contradições do sistema capitalista. As desigualdades de gênero, quando articuladas à exploração de classe e ao racismo estrutural, impõem às mulheres negras uma sobrecarga histórica e social que é funcional à manutenção das hierarquias econômicas e sociais. Nesse sentido, não é possível pensar as lutas de classe de forma isolada das opressões de gênero e raça, pois são justamente essas intersecções que sustentam a reprodução da força de trabalho em condições desiguais. A mulher negra ocupa, assim, uma posição estratégica na engrenagem do capital, sendo explorada não apenas economicamente, mas também submetida a violências simbólicas e materiais que garantem a perpetuação do patriarcado e do racismo como pilares do modo de produção vigente
Vivemos, atualmente, uma verdadeira endemia de feminicídios. O machismo é uma estrutura que atravessa todas as classes sociais, mas são as mulheres pobres, em especial as negras, as mais atingidas. Para essas mulheres, o acesso a redes de apoio, justiça e políticas públicas de proteção ainda é extremamente precário. Em consonância, Silvia Federici (2019) nos lembra que a violência contra a mulher é também uma ferramenta de controle social, necessária à manutenção das hierarquias capitalistas e patriarcais.
A emancipação das mulheres é, portanto, uma prioridade urgente para a construção de uma sociedade justa, democrática e verdadeiramente igualitária. Mais do que um projeto de gênero, trata-se de um imperativo para a plena realização da cidadania e da dignidade humana.
Referências Bibliográficas
- DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.
- FEDERICI, Silvia. O ponto zero da revolução: trabalho doméstico, reprodução e luta feminista. São Paulo: Elefante, 2019.
- SAFFIOTI, Heleieth I. B. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Expressão Popular, 2004.
- IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil. Disponível em: https://www.ibge.gov.br. Acesso em: set. 2025.
*Presidente municipal do PCdoB em João Pessoa/PB, professora, graduada em Letras pela UFPB, Universidade Federal da Paraíba. Mestre em Direitos, Pelo PPGDH, Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos, também pela UFPB.