As antigas Cidades-Estado da antiguidade (gregas, italianas, etc.) eram entidades geopolíticas, econômicas e militares independentes. Brasília (mais precisamente, o DF) guarda certa semelhança com elas: embora não seja independente, tem grande autonomia e tem atribuições constitucionais de município e estado, além de ser a capital nacional, sede dos Três Poderes da República Brasileira.

Pelas características de Brasília, acho que ela apresenta pelo menos dois grandes desafios para os comunistas.

O primeiro é a composição de sua classe trabalhadora: 50,4% dos trabalhadores são da área de serviços; 25,5% estão lotados na Administração Pública; 12,9% no comércio; 5,8% na Construção Civil e menos de 1% labutam na agricultura, em pequenas unidades familiares. Fora dessas estatísticas, temos um grande número de trabalhadores na informalidade, “uberizados” que se consideram “empreendedores” camelôs, e micro, pequenos e médios comerciantes.

Temos, portanto, uma população trabalhadora que, na nomenclatura marxista, podemos chamar de pequena burguesia, classe média (na maioria média baixa), sendo uma marcante exceção os operários os da Construção Civil.

O desafio é encontrar uma linguagem que dialogue com eles. Acho que demos um grande passo com as propostas de isenção do IR até 5.000 reais e redução dos que ganham até 7.000 reais, com a proposta do fim da escala 6×1, e com a reafirmação da soberania nacional, especialmente após o tarifaço imposto por Trump (pois Brasília, além de ser um ente que repercute o debate político nacional, é composta por pessoas vindas de todos os estados, muitos altamente prejudicados. Outras questões que mobilizam fortemente os brasilienses são creches, restaurantes comunitários e o transporte público, que deve ser de qualidade e gratuito. O informe apresentado recentemente pela Direção Regional na 23ª Conferência do PCdoB-DF detalhou cuidadosamente as lutas específicas do povo do DF a que devemos dar especial atenção e buscar dirigir.

Temos uma grande reserva na educação, os professores e a juventude estudantil, aos que devemos dar prioridade de atuação dentre eles.

O segundo grande desafio é política e ideológica. Nas eleições de 2018, Bolsonaro Peço que vocês me deem pelo menos 50% do Congresso e eu serei invencível teve 58,37% votos no 1º Turno, contra 11,8% de Haddad. No 2º Turno, conseguimos reduzir drasticamente essa diferença: Bolsonaro teve 55,13% e Haddad 44,87%, mais de quatro vezes a sua votação no 1º Turno. No entanto, pesquisa feita aqui há pouco tempo mostrou 62% de desaprovação do governo Lula, contra apenas 34,4% de aprovação.

Precisamos construir aqui uma sólida frente democrática e antibolsonarista, com o espírito com que nos lançamos no 2º Turno de 2018, que mostrou a viabilidade dessa frente no DF e sua capacidade de mobilização de massas. Cabe aqui um destaque especial e de honra ao movimento das mulheres do ELE NÃO, que protagonizou um dos maiores protestos contra a eleição de Bolsonaro, se não o maior já visto em Brasília

Principalmente, devemos concentrar esforços, além da reeleição de Lula, para que as forças progressistas elejam aqui pelo menos um senador e ampliem sua Bancada Federal e Distrital, pois essa será o eixo da estratégia bolsonarista que precisamos derrotar. Bolsonaro já disse a suas hordas: “Peço apenas que vocês me deem pelo menos 50% do Congresso e eu serei invencível”. E aqui no DF as forças de direita propalam que farão o governador e os dois senadores com facilidade. No caso dos senadores, devemos, em minha opinião, tentar articular uma solução de compromisso pelo menos entre os dois nomes mais viáveis dos partidos progressistas de oposição e concentrar os esforços em um deles.

Note-se também que a eleição de um deputado distrital do PCdoB já seria um grande salto político e organizativo, fornecendo-nos uma tribuna para repercutir melhor nossas lutas e propostas, e uma estrutura material muito superior. Por isso, acho que essa deve ser a nossa prioridade.

*Advogado, servidor público aposentado, militante do PCdoB DF