Sou de uma geração que vendia o jornal Tribuna da Luta Operária (TLO) para conseguir aliados e, principalmente, recrutar lideranças para o Partido Comunista do Brasil. Com esse meio de comunicação, éramos vistos e ganhávamos a simpatia das pessoas que acompanhavam nossa atuação política. O jornal, lançado em 1979 e encerrado em 1988, não só servia para levar ao povo as nossas ideias, mas também como instrumento para organizar o Partido.

Nos anos 2000, havia uma reunião anual de secretários estaduais de comunicação em São Paulo para definir planos de propaganda. Num desses encontros, com a internet alcançando, cada vez mais, os lares e locais de trabalho do povo brasileiro, foi apresentada a proposta de um portal de notícias. Uma nova era da comunicação estava surgindo e não hesitamos em ajudar na construção do Portal Vermelho, o qual se tornou porta-voz da informação da esquerda brasileira, conquistando prêmios Ibest em 2004 e 2008.

O PCdoB havia entrado no campo de batalha da luta de ideias e da propaganda, prestando um grande serviço ao levar orientações políticas do Comitê Central para os Comitês Estaduais, Municipais e Organismos de Base. Tínhamos um instrumento de comunicação adequado ao momento histórico que vivíamos. Depois, contudo, o portal perdeu dinamismo, ficando defasado jornalística e tecnologicamente.

Com a chegada da era das redes sociais, com o Orkut (2004), Twitter (2006), YouTube (2007), WhatsApp (2009), Instagram (2010), Facebook (2011), e, mais recentemente, TikTok e Kwai, o Partido subestimou a utilização dessas plataformas e deixou de travar a batalha política e ideológica nessa arena virtual. Basta ver a página do PCdoB no X (antigo Twitter): estava sem postagem desde 27 de novembro de 2024, retornando em junho deste ano com uma frequência de uma vez por mês. Essa ausência é notável e preocupante.

Atualmente, a militância do PT e do PSOL trava debates diariamente contra a extrema-direita nas redes sociais e tem conquistado espaço, abordando temas como o IOF, a isenção de impostos para quem ganha menos de R$ 5 mil e a taxação dos mais ricos. Além disso, defendem a soberania do Brasil diante da ofensiva do imperialismo estadunidense por meio do tarifaço. Onde está militância do PCdoB nessa batalha?

Feita essa constatação, como quem militou na agitação e propaganda do PCdoB desde a clandestinidade, vejo que o Projeto de Resolução para o 16º Congresso avança no sentido de superar essa ausência da militância partidária nas redes sociais. Ele afirma que “O domínio dos instrumentos de comunicação sempre foi um elemento central para a disputa do poder político e ideológico” (Ponto 69) e reconhece a necessidade dos comunistas em lidar com as “Novas linguagens, formatos, suportes tecnológicos e plataformas” que “surgem e vão desafiando o Partido a adotar as melhores estratégias para comunicar suas posições”. Isso, segundo o documento, faz parte de “um trabalho mais estruturado no ambiente digital e a produção” (Ponto 142).

Mais adiante, o Projeto de Resolução do 16º Congresso é ainda mais enfático: “As tecnologias digitais hoje são muito mais do que meios de comunicação, elas organizam a vida social. Estar na internet, usar a internet não é responsabilidade apenas da comunicação. Há que se formar e estimular o engajamento da militância em torno dos conteúdos produzidos nacionalmente e o uso das redes como ferramentas da estruturação partidária”. Para atingir esse objetivo, a tese defende a criação de “um Sistema e uma Política Nacional de Comunicação, que reúnam os veículos de comunicação das áreas partidárias com atuação própria” (Ponto 143).

No subitem sobre A luta de ideias é decisiva para a disputa de hegemonia, o documento faz justiça ao trabalho efetuado pela Escola João Amazonas e pela Fundação Maurício Grabois, por meio da plataforma do YouTube, abordando temas políticos e teóricos relevantes para os problemas do momento, sejam nacionais ou internacionais. Enfatiza a necessidade de superar o que denomina de “falsa dicotomia entre a participação nas atividades e cursos versus a participação nas diversas lutas políticas” (Ponto 145).

O mundo da tecnologia tem avançado rapidamente e devemos estar preparados para acompanhar e enfrentar os novos desafios. Recentemente, utilizando a inteligência artificial, submeti nossas teses e pedi que identificasse nossos problemas de comunicação na era digital. Eis a resposta:

“A resolução do 16º Congresso do PCdoB destaca a defasagem do campo progressista na comunicação digital e a hegemonia da extrema-direita nas redes sociais, que atuam como um poderoso sistema ideológico. A manipulação de algoritmos, a disseminação de notícias falsas e o fomento a discursos de ódio são desafios cruciais que minam o debate público e fortalecem o neofascismo. Para reverter esse quadro e impulsionar o projeto nacional de desenvolvimento soberano, é imperativo que cada militante se torne um agente ativo na disputa de ideias e na propagação de nossa mensagem.”

Em concordância com a análise da IA, defendo que cada militante do PCdoB tenha uma conta nas principais plataformas digitais e dissemine as ideias e a política do Partido, seja as oriundas do Sistema Nacional de Comunicação, seja as que atendam às questões locais — do bairro, da frente de trabalho, das escolas e universidades, das mulheres, do combate ao racismo e à LGBTfobia, e demais lutas sociais. Para tanto, teremos que oferecer cursos básicos para os militantes comunistas, a fim de que possam utilizar as redes sociais, identificar as fake news, promover engajamento, combater os adversários políticos e ideológicos, e levar as propostas do Partido para essa massa de 144 milhões de brasileiras e brasileiros que usam redes sociais.

*Psicólogo e advogado, secretário de Finanças do Comitê Estadual do PCdoB da Paraíba, com militância em João Pessoa.