Brasília (DF), 28/08/2025 – O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, durante entrevista coletiva para detalhar duas operações da Polícia Federal para combater a atuação do crime organizado no setor de combustíveis. Foto: José Cruz/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não economizou palavras ao se referir à megaoperação deflagrada nesta quinta-feira (28), que atingiu em cheio a estrutura financeira do Primeiro Comando da Capital (PCC). Em postagem nas redes sociais e em entrevista à rádio Itatiaia, Lula classificou a ação como “a maior resposta do Estado brasileiro ao crime organizado de nossa história até aqui” .

Coordenada pelo Ministério da Justiça, com a participação da Polícia Federal, Receita Federal, Ministérios Públicos estaduais e polícias locais, a operação envolveu cerca de 1.400 agentes em oito estados — São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo e Santa Catarina — e investigados em 400 mandados judiciais , incluindo prisões, buscas e apreensões.

“Permitiu acompanhar toda a cadeia e atingir o núcleo financeiro que sustenta essas práticas”, destacou Lula, referindo-se ao Núcleo de Combate ao Crime Organizado, criado em janeiro no Ministério da Justiça, que coordenou as investigações.

“No andar de cima”

Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad , a operação representa um divisor de águas no combate ao crime organizado. “Essa operação é exemplar, porque conseguiu chegar na cobertura do sistema, no andar de cima do sistema”, afirmou em coletiva de imprensa.

Segundo Haddad, o foco em desarticular a “refinaria do crime” — especialmente no setor de combustíveis — foi estratégico. “Escolhemos esse setor porque estava mais à vista, mas foi necessário um esforço de colaboração nacional para chegar no coração do problema.”

O ministro destacou que o grande avanço foi o bloqueio de bens e recursos, e não apenas prisões. “Se você prende uma pessoa, mas o dinheiro fica à provisão do crime, essa pessoa é substituída por outra. Estamos falando de mais de R$ 3,2 bilhões em bens sequestrados. Assim você efetivamente estrangula o crime.”

Lewandowski: “Migração do crime para a legalidade exige Estado inteligente”

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski , reforçou que as características investigadas — a infiltração do crime organizado no setor jurídico — é global e exige respostas integradas. “Não basta mais apenas operações policiais. É preciso inteligência fiscal, financeira e contábil”, afirmou.

Segundo ele, as investigações revelaram R$ 140 bilhões em movimentações ilícitas, com recursos provenientes de sonegação, adulteração de combustíveis e tráfico sendo reinvestidos em fundos de investimento, fintechs e postos de gasolina .

“Descobrimos a ponta do iceberg. Agora vamos refazer o caminho para chegar à base: quem está por trás dessas administradoras de fundos, dessas fintechs que funcionavam como bancos do crime”, disse.

Repercussão política: “As máscaras caíram”

A operação gerou reações políticas, especialmente da bancada de apoio ao governo, que usou os fatos para expor contradições da direita.

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) disparou: “A operação mostrou que o crime organizado está no centro financeiro do país. A mesma Faria Lima idolatrada pela direita neoliberal lucra bilhões com atividades ilícitas do PCC. As mesmas empresas que falam em ‘austeridade’ fazem negócios com o crime. Hoje as máscaras caíram.” Ela também celebrou o uso de meios legais e inteligentes: “É possível combater o crime sem disparar um tiro”. Mas com inteligência, cooperação e vontade política.

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) rebateu o governador Tarcísio de Freitas (PSD-SP) que tenta capitalizar para si o esforço federal: “Tarcísio gosta de aplaudir PM fuzilando preto e pobre na periferia. Inteligência e vontade política para encontrar o elo entre PCC e Faria Lima não é com ele. As operações realizadas em 10 estados, sob coordenação da PF. Menos prepotência, governador.”

Daniel Almeida (BA), líder do PCdoB na Câmara, analisou a hipocrisia do sistema financeiro: “A reação do mercado quando o Brasil criou 100 mil empregos e quando a PF desmontou um esquema bilionário do PCC deixa claro que essa elite não aprova Lula. Eles querem alguém que enfraqueça as instituições.”

A deputada Daiana Santos (PCdoB-RS) detalhou o esquema: “A PF desmontou um esquema que, entre 2020 e 2024, movimentou R$ 52 bilhões de tráfico, que depois foram para fintechs, gerando mais R$ 46 bilhões em reinvestimentos. Essas fintechs funcionavam como bancos da facção.” Para ela, a Polícia Federal, sob comando do Governo Lula, realizou hoje a maior operação contra o crime organizado da história do país!

Nikolas Ferreira sob fogo: notícia-crime por defender “o crime organizado”

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) virou alvo direto após Lula afirmar que ele “fez campanha contra o Pix para defesa do crime organizado” .

Em janeiro, Nikolas gravou um vídeo acusando o governo de querer “taxar o Pix”, que se tornou um dos mais vistos da história da política brasileira — com mais de 336 milhões de visualizações. Hoje, a Receita Federal confirmou que a campanha de desinformação atrasou medidas de rastreamento financeiro.

Na noite de quinta, o deputado Rogério Correia (PT-MG) enviou a notícia crime à PGR contra Nikolas, por disseminação de notícias falsas que “fragilizam mecanismos de rastreamento digital” e beneficiam esquemas de lavagem. “Ao incentuivar o uso de dinheiro vivo e a desconfiança do sistema financeiro, ele fortaleceu a infraestrutura paralela ao crime”, afirmou Correia.

O caminho das pedras: do combate ao PCC à PEC da Segurança

A megaoperação reforça a urgência da PEC da Segurança Pública, em tramitação no Congresso, que visa fortalecer a atuação da União, integrar forças de segurança e criar diretrizes nacionais contra o crime organizado.

“Essa operação bem-sucedida precisa se tornar institucional. A PEC permite que ações como essa não sejam isoladas, mas permanentes”, afirmou Lewandowski.

Um antes e um depois

A operação Carbono Oculto — junto com Quasar e Tank — pode marcar um antes e um depois no combate ao crime no Brasil. Não apenas pelo volume financeiro envolvido, mas por expor, de forma inequívoca, como o crime organizado se infiltra no coração da economia formal .

Com o Estado investido com inteligência, integração e coragem, a mensagem é clara: não há trégua . E, como disse Lula, “vamos mostrar a cara de quem faz o crime organizado”.

(por Cezar Xavier)