A população brasileira adere em peso às principais bandeiras de lutas dos movimentos sociais, como a redução da jornada de trabalho e a mudança progressiva na tabela do imposto de renda (IR). Pesquisas recentes mostram um amplo apoio a essas propostas, que estão no centro do Plebiscito Popular 2025, lançado nesta quinta-feira (10) pelas frentes Brasil Popular e Povo sem Medo.

De acordo com os organizadores, o plebiscito terá três perguntas:

  • Você é favorável à redução da jornada de trabalho sem redução salarial?
  • Você é favorável ao fim da escala 6×1 para as categorias de trabalhadores que não querem esse regime de trabalho?
  • Você é a favor de que quem ganhe mais de R$ 50.000 pague imposto para que quem receba de salário até R$ 5.000 não pague imposto de renda?

Conforme as pesquisas, os índices de apoio popular a essas propostas passam de 60% – e, em alguns casos, chegam a 76%. É o que aponta, por exemplo, o levantamento “Os Brasileiros e a Jornada de Trabalho”, feita pela Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados e divulgada no final de março.

Jornada mais digna

Desde 1988, o limite de jornada de trabalho no Brasil é de 44 horas por semana – um padrão acima da média das nações ricas e até dos países em desenvolvimento. A pesquisa Nexus aponta que 65% dos brasileiros são favoráveis a uma emenda à Constituição que reduza a jornada, sem impactar os salários. Apenas 27% são contrários.

O apoio a uma jornada mais digna sobe para 66% entre a população economicamente ativa e a 73% entre os desempregados. Porém, a aprovação mais destacada à proposta se dá na faixa dos jovens de 16 a 24 anos: 76% deles concordam com a redução da carga horária semanal.

Para Marcelo Tokarski, CEO da Nexus, o índice mais natural é o alcançado entre os desempregados. “Esse público trabalha com a perspectiva de que uma eventual mudança, se aprovada, criaria novas vagas de emprego por quem procura um espaço no mercado de trabalho brasileiro”, analisa Tokarski.

A Nexus entrevistou, presencialmente, 2 mil pessoas com idade a partir de 16 anos, em todos os estados do Brasil, de 10 a 15 de janeiro. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

Não à escala 6×1

Além de uma jornada semanal menor, os brasileiros defendem escalas diárias menos abusivas. As taxas pró-redução da jornada são similares às de quem defende o fim da escala 6×1, em que o empregado trabalha por seis dias seguidos na semana e folga apenas um.

Conforme a sondagem da Nexus, 63% apoiam a PEC (proposta de emenda à Constituição) que prevê o fim da 6×1 e a regulação da escala 4×3 (uma semana com quatro dias de trabalho e três de descanso). A exemplo do caso da jornada, o percentual cresce igualmente em três segmentos-chave: a população economicamente ativa (65%), os desempregados (72%) e os mais jovens (74%).

Existe um gap, no entanto, entre quem apoia tais avanços e quem acredita que, na prática, a vida dos brasileiros vai melhorar. Graças à propaganda alarmista do empresariado, só 42% dos entrevistados creem que redução da jornada trará impactos positivos ao País, enquanto 30% preveem impactos negativos. Para 22%, não haverá diferença. Ainda assim, 65% dos brasileiros associam menos dias de trabalho a mais qualidade de vida.

Na visão de Marcelo Tokarski, “há um certo ceticismo de que as coisas possam melhorar” – o que lança um novo desafio para os movimentos sociais, os partidos políticos e o conjunto do campo progressista: é preciso esclarecer e motivar ainda mais os trabalhadores, para que o apoio às mudanças se converta numa convicção efetivamente mobilizadora.

Imposto de renda

A imensa maioria dos brasileiros defende também uma reformulação na tabela do imposto de renda para pessoas físicas, de modo a isentar os mais pobres e taxar os super-ricos. De acordo com pesquisa Datafolha divulgada nesta quarta (9), 76% apoiam um imposto adicional e crescente para pessoas que ganham mais de R$ 50 mil por mês (R$ 600 mil por ano). É a chamada “tributação mínima para altas rendas”, que mira, acima de tudo, quem vive da distribuição de lucros e dividendos – e que, hoje, são isentos do imposto de renda.

Na outra ponta da tributação, há a proposta de zerar o IR de quem ganha até R$ 5 mil por mês. Segundo a pesquisa, 70% são favoráveis à isenção. Entre os brasileiros com 45 anos ou mais, a adesão vai a 80%. Entre funcionários públicos, chega a 81%. O Datafolha entrevistou 3.054 pessoas com mais de 16 anos, em 172 cidades de todas as regiões do País, nos dias 1, 2 e 3 de abril. A margem de erro máxima é de dois pontos.

Em março, o presidente Lula encaminhou ao Congresso Nacional um projeto de lei que prevê isenção total no imposto de renda, a partir de 2026, para pessoas que recebem até R$ 5 mil mensais. Hoje, somente quem ganha até R$ 2.259,20 não precisa pagar esse tributo.

Nas estimativas do governo, 10 milhões de brasileiros serão beneficiados pela medida, somando-se a outros 10 milhões que já se tornaram isentos entre 2023 e 2025. Esses 20 milhões de beneficiários representam 65% dos atuais declarantes do imposto de renda. O projeto do Executivo propõe ainda mais descontos (isenções parciais) para quem recebe entre R$ 5 mil e R$ 7 mil.