Mutirão do Plebiscito Popular 2025 na Praça da Piedade, no centro de Salvador Foto: Lorena Andrade

O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) fez um balanço positivo da participação dos comunistas no Plebiscito Popular por Justiça Tributária e Redução da Jornada de Trabalho, destacando seu papel de liderança na construção da campanha em diversos estados e a grande adesão espontânea da população. A ação tem sido associada ao processo de mobilização do 16º Congresso do partido, que ocorre em outubro em Brasília, que orienta a abertura das reuniões de base ao povo e a realização de coletas de voto junto à militância.

“A gente não via há muito tempo esse tipo de movimentação nas ruas. O povo está fazendo fila para votar, querendo participar. É um salto de qualidade na relação direta com o povo”, afirma Leonardo Guimarães, secretário de Movimentos Sociais do PCdoB no Rio de Janeiro. “As pessoas não reclamam de esperar, pelo contrário: tiram foto, postam nas redes e vêm votar já sabendo do plebiscito por causa da internet. Até bolsonaristas têm votado conosco em pautas como isenção para quem ganha até R$ 5 mil e tributação dos super-ricos.”

Segundo dirigentes comunistas, o plebiscito reacendeu o espírito militante nos territórios, servindo como ponto de encontro entre as bandeiras históricas do PCdoB e as demandas imediatas do povo. As experiências no Rio de Janeiro e na Bahia revelam o vigor da atuação comunista e o alcance das pautas populares no atual cenário político.

Rio de Janeiro: urnas em sindicatos, bares e livrarias

Leonardo Guimarães é secretário de Movimentos Sociais do RJ

No estado do Rio, o partido coordena uma operação que já distribuiu mais de 250 urnas físicas em cerca de 30 municípios, com presença marcante da militância nos bairros, sindicatos e universidades. Só no primeiro mutirão, concentrado na capital, estima-se que mais de 40 mil votos tenham sido coletados — número que deve crescer exponencialmente com a chegada do segundo mutirão.

As urnas se espalham por sedes partidárias, sindicatos, bares, centros culturais e até livrarias. “A banquinha virou ponto de referência. O povo sabe que sempre vai ter ali um espaço para falar de política, pegar um adesivo, votar. E agora, com o plebiscito, isso ganhou uma nova importância”, observa Leonardo. Segundo ele, mais de 200 mil cédulas já foram distribuídas, além de muitas impressas diretamente por apoiadores.

Com forte inserção entre os trabalhadores, o PCdoB levou urnas diretamente à base de categorias como Correios, saneamento e comércio. A pauta também incorporou uma questão específica do estado: a defesa da água como bem público, denunciando a continuidade da privatização da Cedae.

Bahia: engajamento da juventude, igrejas e universidades

Caio Botelho é secretário de Movimentos Sociais da BA

Na Bahia, a mobilização liderada pelo PCdoB já atingiu mais de 30 municípios com urnas abertas e tem como meta entrar o mês de agosto com 100 cidades mobilizadas, conforme explica Caio Botelho, secretário estadual de Movimentos Sociais. “Mesmo com expectativa alta, a adesão tem surpreendido. O povo está entendendo as pautas e querendo participar. Isso anima muito a militância”, relata.

A campanha tem contado com o engajamento de igrejas católicas — com urnas instaladas em até oito paróquias —, universidades públicas, como a UNEB e o IFBA, e movimentos sociais diversos, além de articulação com o Grito dos Excluídos, que ocorre em setembro. A articulação com centrais sindicais como CTB e CUT também tem garantido capilaridade às ações.

A Estação da Lapa, em Salvador, virou um dos principais pontos de mutirão, mas a força do movimento está principalmente na receptividade popular espontânea. “As pessoas que estão indo votar não são só militantes, são trabalhadores, estudantes, gente do povo mesmo que se anima com a proposta e quer dar sua opinião. Isso empolga a militância. Superou nossas expectativas. A adesão do povo ao plebiscito tem sido algo bonito de ver”, afirma Botelho. O contato direto com o povo, segundo ele, “mostra que o plebiscito tem função pedagógica e política. Apresenta o PCdoB como partido que está ao lado do povo, defendendo causas concretas”.

Conexão com o 16º Congresso: partido em movimento

O 16º Congresso Nacional do PCdoB, que está com o processo de organização em curso, vem sendo diretamente articulado ao plebiscito. Há uma diretriz nacional para que cada reunião de base seja também ponto de coleta de votos, reforçando a ideia de que mobilização e debate político devem caminhar juntos.

Tanto no Rio quanto na Bahia, dirigentes do PCdoB concordam que a campanha do plebiscito tem fortalecido o processo do 16º Congresso do Partido, ajudando a conectar teoria e prática, tese e povo.

Leonardo Guimarães enfatiza que a mobilização impulsionou também a campanha de filiação partidária: “Muita gente que vai votar também quer conhecer melhor o Partido. Estamos apresentando o PCdoB como força viva nos territórios.”

Na Bahia, Caio Botelho destaca que não é preciso desviar energia militante de uma atividade para outra. “Não são tarefas concorrentes. Ao contrário, caminham juntas. O plebiscito é uma forma concreta de apresentar o PCdoB ao povo.”

“No Congresso estamos discutindo uma campanha de filiação, uma campanha nacional por direitos. E o plebiscito é um exercício prático dessas diretrizes”, destaca Leonardo Guimarães. Caio Botelho acrescenta: “Levar o plebiscito para as reuniões de base amplia o contato com o povo e fortalece o partido nos territórios”.

Pautas com apelo popular e maioria social

Entre as bandeiras do plebiscito, duas ganham centralidade: a redução da jornada de trabalho para 36 horas semanais sem redução de salário, e a justiça tributária, com isenção para quem ganha até R$ 5 mil e tributação dos super-ricos.

Segundo os dirigentes, essas pautas dialogam diretamente com o cotidiano das pessoas. “Os jovens falam muito da ‘escala 6 por 1’ [referência à atual relação de trabalho entre jornada e folgas], enquanto a tributação dos super-ricos ganhou força com a derrota do governo na votação do IOF, que caiu na boca do povo como símbolo de traição”, explica Leonardo.

A campanha também recoloca o campo popular em posição de ofensiva, com as ruas mais receptivas a discursos transformadores. “O povo pode não usar os termos do marxismo, mas sabe que está sendo explorado. E quer mudança. É disso que se trata o plebiscito”, resume Caio Botelho.

Mobilização popular como resposta à crise e à direita

Tanto Guimarães quanto Botelho observam que o plebiscito tem oferecido à população um canal legítimo para expressar descontentamento com a atuação do Congresso Nacional, especialmente após episódios como a votação do IOF e os reflexos do tarifaço de Donald Trump.

“A ofensiva dos setores populares nas ruas está muito mais forte agora. Pela primeira vez em muito tempo, sentimos que mobilizar, panfletar, ocupar as ruas está mais fácil. Isso mostra que estamos em um momento de virada”, afirma o dirigente carioca.

Já na Bahia, Botelho reforça que “os temas do plebiscito — justiça tributária e redução da jornada de trabalho — são siameses: apontam para uma crítica direta ao capitalismo e tocam fundo no cotidiano do povo”.

Um laboratório político de base e massas

Combinando ação de massa, conscientização e presença territorial, o plebiscito se consolida como um laboratório vivo de ação política para o PCdoB, com impactos organizativos, pedagógicos e de visibilidade. O partido enxerga na campanha um motor estratégico para seu crescimento e reaproximação com o povo.

“O plebiscito não apenas denuncia injustiças, mas constrói esperança. E o PCdoB tem sido ponta de lança disso nos estados. É a militância em movimento, o partido na rua e com o povo”, conclui Leonardo.

(por Cezar Xavier)