Foto: Ricardo Stuckert

Uma nova pesquisa reforça que os ataques de Donald Trump à soberania brasileira e sua escolha por taxar produtos brasileiros em 50% — supostamente em represália ao processo contra Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado — têm trazido frutos políticos positivos para o governo Lula. A cartada mais recente do presidente dos Estados Unidos uniu boa parte da população, empresariado e governo na busca por uma resposta equilibrada e ativa.

Esse cenário fica claro no levantamento da Genial/Quaest, publicado nesta quarta-feira (16) — assim como já havia mostrado pesquisa divulgada na terça-feira (15), feita pela Atlas/Bloomberg. Entre outros pontos, os entrevistados opinaram sobre quem estava fazendo o que é mais certo nesse embate — o atual presidente brasileiro ou seu antecessor, Jair Bolsonaro.

“Na disputa entre os dois lados, Lula e o PT venceram a batalha da opinião pública contra Bolsonaro e seus aliados, pelo menos até aqui. A maior parte dos brasileiros defende que Lula está se saindo melhor que Bolsonaro (44% a 29%)”, apontou Felipe Nunes, CEO da Quaest, em suas redes sociais. Para 15%, nenhum dos dois está correto e 12% não souberam dizer.

Cabe destacar que, no universo dos que se dizem sem posicionamento político, a maioria demonstrou apoio ao presidente: eles somam 37%, ante 20% dos que apontaram Bolsonaro e seus aliados e 23% dos que escolheram “nenhum dos dois”.

Maior aprovação

Os números apresentados apontam, ainda, para um crescimento na aprovação ao governo Lula, que passou de 40% em maio para 43% agora, enquanto a desaprovação caiu de 57% para 53%.

Da mesma forma, a avaliação positiva do Executivo federal aumentou dois pontos percentuais desde aquele mês, ficando em 28% agora, mesmo percentual dos que o julgam regular. Os que consideram negativo, por sua vez, saíram de 43% para 40%.

Ao analisar esses dados, Felipe Nunes, chamou atenção, para o fato de que “a melhora na popularidade se deu principalmente fora das bases de apoio tradicionais do governo”.

Ele cita que, “enquanto nas outras regiões não houve variação na aprovação, no Sudeste a diferença negativa passou de -32 pp (pontos percentuais) para -16 pp”. Isso porque, em maio, 64% desaprovavam o governo nessa região, contra 56% agora. Por outro lado, a aprovação saltou de 32% para 40%.

Além disso, houve um significativo avanço na aprovação dos que têm ensino superior completo: o índice era de 33% há dois meses, passando para 45% agora. No caso da desaprovação, despencou de 64% para 53%.

Outro recorte relevante da pesquisa diz respeito à classe social. “Não foi nem entre os mais pobres, nem entre os mais ricos que captamos mudanças na aprovação; foi nos setores de renda média: a diferença, que era de -19 pp, passou para -9 pp de maio para cá”, observou Nunes. Nesse estrato, que vai de quem ganha de dois a cinco salários mínimos, a aprovação saiu de 39% para 43%, enquanto a desaprovação foi de 58% para 52%.

Entre os que ganham até dois salários mínimos, os índices continuam próximos: a desaprovação era de 51%, caindo para 49%, enquanto a aprovação se manteve em 46%.

A maior desaprovação está entre os que recebem mais de cinco salários mínimos, mas ainda assim houve uma variação positiva para o governo: estes somavam 64% e passaram a 61%; já a aprovação subiu de 33% para 37%.

Visão sobre Trump

Outra dado incômodo para os bolsonaristas trazido pela pesquisa diz respeito à visão dos brasileiros sobre Donald Trump. Quando questionados se ele “está certo ou errado ao impor taxas por acreditar que há uma perseguição a Bolsonaro no Brasil”, a grande maioria, 72%, o classificam como errado, contra 19% que o acham certo e 9% que não sabiam ou não quiseram responder.

Entre aqueles que “não têm posicionamento”, 77% acreditam que Trump está errado e apenas 10% dizem que ele está certo (13% não sabiam ou não responderam). “O tarifaço contra o Brasil conseguiu unir a esquerda, os lulistas e os moderados (sem posicionamento); mas dividiu a direita e os bolsonaristas. Ou seja, empurrou o ‘centro’ para o colo do Lula”, avalia Nunes, ao tratar desses dados.

Além disso, 63% acreditam ser incorreta a posição do presidente dos EUA de que a relação comercial entre os países seria injusta, ante 25% que acreditam no contrário.

A pesquisa também aferiu se Trump tinha ou não o direito de criticar o processo em que Bolsonaro é réu. E mais uma vez, a maioria foi contra a posição do republicano: 57% responderam que ele não tem esse direito, contra 36% que acreditam que ele tem.

Economia

Outro aspecto investigado pela pesquisa para aferir a aprovação do governo diz respeito ao andamento da economia. Nesse quadro, também houve melhoras. No entanto, como as variações não foram tão altas, a hipótese é que o episódio “Trump X Brasil” pode ter influenciado mais a opinião geral — até porque a pesquisa foi feita entre o dia 10, logo após a carta de Trump, e 14 de julho.

Segundo o levantamento, para 46%, a economia brasileira piorou nos últimos 12 meses (eram 48% em maio); os que acreditam que melhorou somam 21% (eram 18%) e para 30%, ficou do mesmo jeito, percentual igual ao de dois meses atrás. Também houve leve melhora na percepção sobre o preço dos alimentos nos mercados: para 76%, ele subiu (ante 79% em maio); para 8%, caiu (um ponto a menos do que antes) e para 14% ficou igual (estes eram 12%).

Justiça tributária

Outro tema que a pesquisa trouxe à tona foi o debate recente sobre justiça tributária, as tentativas do governo neste sentido e as reações do Congresso para barrar iniciativas sobre o tema.

Quando questionados sobre se ficou sabendo da “agenda de justiça tributária do governo”, 56% disseram que não e 43% que sim. Mas, quando a pergunta foi sobre se o governo deve ou não aumentar o imposto dos mais ricos para diminuir o dos mais pobres, 63% dizem que deve, contra 33% que acham que não.

A pesquisa, realizada entre 10 e 14 de julho, ouviu 2.004 pessoas, com entrevista feita pessoalmente por meio de questionários estruturados. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais e o nível de confiança é de 95%.