Aos camaradas do meu glorioso Partido, ao qual dediquei os melhores anos da minha vida, e sigo contribuindo com a minha experiência.

O PCdoB é um partido cuja grande força reside em sua militância jovem — jovens que, muitas vezes, deixam o conforto de uma vida tradicional para lutar por um sonho de uma nova sociedade. Isso, por si só, não é novidade. Aqueles que mais anseiam pela mudança são, muitas vezes, os que têm mais tempo à frente para construí-la.

Mas então, o que mudou? O que nos faz repensar a nossa atuação?

A sociedade mudou. As perspectivas de vida mudaram. E isso tem grande relevância. Como diria Marx no Manifesto Comunista, “Tudo o que era sólido desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar friamente sua posição social e suas relações mútuas”.

Uma mudança decisiva foi a pandemia da COVID-19, que afetou profundamente os processos de socialização da juventude. Muitos dos jovens dirigentes começaram sua trajetória política no isolamento, longe do calor humano das assembleias, dos atos de rua, das vivências coletivas. Esse início solitário e virtual impactou a forma como eles se relacionam com a militância, com os espaços partidários e com a construção do coletivo. Não se trata de desinteresse, mas de uma outra forma de experiência, que precisa ser compreendida para que possamos acolher e construir juntos.

Além disso, somos uma sociedade cada vez mais adoecida mentalmente, em que o prazer — algo antes raro — tornou-se vício. Vivemos uma cultura viciada em dopamina. Temos acesso a uma avalanche de informações, mas pouco conteúdo real. Atingimos nosso maior nível de produtividade, mas seguimos em meio à escassez — de tempo, de afeto, de sentido.

Talvez alguns camaradas mais “práticos” se perguntem: “Mas o que eu tenho a ver com isso? Por que isso importa?”. Porque os comunistas não analisam apenas os efeitos — isso é coisa do positivismo. A nós cabe a análise do momento histórico a reflexão contínua sobre a realidade e nossas ações para nela intervir.

Dou um exemplo simples: os chamados “bebês reborns”. Fui instigado, por diversos conteúdos, a ver aquilo como mais um sintoma de uma sociedade doente. Mas, ao ser confrontado por uma amiga que me perguntou qual a diferença disso para adultos que se emocionam com guerras fictícias travadas em “uma galáxia muito, muito distante daqui”, percebi que eu estava apenas repetindo uma opinião que nem era minha. E esse é o ponto: precisamos exercitar a escuta, refletir com justiça e cuidado antes de julgar os sinais dos tempos.

A juventude que hoje doa os melhores anos de suas vidas ao PCdoB também convive em uma sociedade imediatista. Se o resultado não aparece em um minuto, se não gera engajamento, se não é a pauta do momento, se não é do jeito que quero — então, aparentemente, não importa. Esse é o ambiente em que vivem. Nossa juventude, como todas as juventudes militantes, está na contramão da lógica dominante. Estão tentando se

importar, tentando construir uma sociedade que ouviram falar, mas que parece cada vez mais distante.

Por isso, chamo os camaradas a refletirem: não é hora de julgamentos apressados nem de preconceitos disfarçados de experiência. É hora de uma análise generosa e dialética do nosso tempo.

Temos o desafio de transformar a sociedade. Mas quando se trata dos nossos, muitas vezes o que prevalece é a cobrança exagerada, a comparação injusta: “eles não fazem como fazíamos”, “vivem em congressos”, “não têm prioridade política”. Essa é a realidade dos novos tempos — tempos em que a própria forma de militância, a disponibilidade e os códigos de engajamento mudaram.

Estamos em um momento difícil do Partido. Precisamos nos reencontrar, reencontrar nosso caminho rumo ao futuro, sem perder nossa essência. Mostrar que somos mais do que uma ideia: somos uma legenda válida, com projeto, com proposta, capaz de disputar os rumos da sociedade. E nesses momentos de incerteza, é comum procurar culpados. A juventude sempre acaba sendo o bode expiatório mais fácil. Colocamos neles a responsabilidade pelos espaços esvaziados, pelo afastamento de quadros, mas evitamos discutir o porquê de tantas gerações não ocuparem mais seu lugar de direção.

Os novos tempos exigem uma nova escuta. Não cabe mais o “mas na minha época…”. Esse discurso nunca fez tão pouco sentido. Vivemos outra relação social, outra dinâmica, outras dores e outros desafios.

Se queremos dialogar com essa militância, precisamos refletir: o que devemos deixar “pra lá” e o que é importante “bater o pé”? Essas são perguntas sem respostas prontas, mas que exigem reflexão e abertura.

Nosso desafio, enquanto dirigentes e adultos da relação, é apresentar caminhos e construir pontes. Um diálogo em que não prevaleçam nossos dogmas, nem as certezas deles — mas sim, a disposição de ouvir, refletir e agir. Entender a realidade da nossa juventude é também entender o nosso tempo. E é só a partir disso que conseguiremos construir, de fato, uma perspectiva socialista para o futuro da nossa nação.

Jonivan de Oliveira é Secretário de Finanças e de Juventude do Comitê Estadual do PCdoB-PR