Por uma engenharia da militância
A tarefa urgente do revigoramento partidário exige que nós tenhamos uma militância aguerrida e bem formada. E que tenhamos em quantidade. Para alcançar esse objetivo é importante refletir sobre o processo de formação no partido, identificando suas potências, mas também suas fragilidades.
O partido tem feito um excelente trabalho na frente teórica, como podemos ver pelo destaque e reconhecimento crescentes da Fundação Mário Grabois e pelo papel cada vez mais central da Escola João Amazonas na vida partidária. Porém, os aspectos mais práticos da militância, esse espaço da aplicação da teoria, muitas vezes são aprendidos apenas pela observação e exemplo, de um modo não estruturado, sem método ou ciência. Se somos bons, muito bons, na teoria, mas me parece que ainda nos falta algo como uma “engenharia”, na falta de um nome mais descritovo, um conhecimento focado na aplicação da teoria na militância.
Como se cria, organiza e mantém uma Organização de Base? Como se disputa uma eleição sindical? Como se recruta novos militantes? Como se organiza uma base para pleitear uma política pública? Como se mapeia uma rede de apoiadores e suas diferentes possibilidades de contribuição? Como se monta uma rede de comunicação e divulgação?
Estas questões, muito práticas, são onde a teoria da organização partidária precisa se manifestar, mas a operação de tomar decisões e planejar ações a partir da teoria não é trivial e a formação de lideranças capazes é um processo árduo e demorado. Consolidar e sistematizar a sabedoria construída em mais de um século de atuação política nos ajudaria em muito a acelerar e melhorar a formação de quadros. Aplicar alguns elementos de planejamento estratégico à atuação de nossas bases e entidades poderia nos proporcionar grandes avanços no revigoramento partidário.
Há regularidades na realidade social. Em que pesem as singularidades de cada escola, cada unidade de saúde, cada periferia, podemos identificar esses espaços pelos seus nomes exatamente porque existem regularidades e recorrências que os unificam. Nos dedicarmos a criar métodos, flexíveis e adaptáveis, potencializa nossa capacidade de organização e mobilização.
É importante que os órgãos de organização e formação do partido deem as mãos para elaborar materiais de suporte para os militantes, focados nos aspectos mais práticos e cotidianos. Isso é algo que já fazemos nos ciclos eleitorais, muito voltados para as normas legais vigentes. E algo que faria uma grande diferença caso fosse feito para os aspectos mais políticos da militância.
É importante notar que nossos adversários já compreenderam o poder de uma formação voltada para a prática política, e vários cursos vendidos por políticos/influencers de extrema direita não se resumem ao conteúdo ideológico, mas se dedicam aos métodos para conquistar posições de poder em conselhos tutelares, câmaras de vereadoras, associações de moradores, etc. Alcançar a paridade de armas exige que realizemos o esforço de sistematizar e difundir nossos métodos de execução da tática política.
*Servidor público estadual. Filiado ao PCdoB em Porto Alegre-RS.