Nossa solução: dados e comunicação aliados à produção de conteúdo

Para enfrentar os desafios impostos pelas Big Techs e suas estruturas excludentes, propomos uma abordagem estratégica baseada na aliança entre dados, comunicação e a produção de conteúdo. A ideia é infiltrar-se entre os algoritmos, usar sua linguagem, método e plataforma, como forma de tecnopolítica, subvertendo suas regras para garantir que nossas mensagens cheguem ao público certo. Trata-se de hackear os meios e transformar a produção de conteúdo em uma guerrilha comunicacional para democratizar o acesso à informação, um direito humano básico.

A produção de conteúdo nas redes sociais está intrinsecamente ligada à semiótica, à análise de dados e à comunicação afetiva e efetiva. Antes de avançar para exemplos, é importante entender a semiótica aqui como a interpretação dos signos – sejam eles visuais, sonoros ou textuais – e como esses elementos afetam as percepções e emoções dos sujeitos. Isso não se trata de uma “receita de bolo”, mas de uma estratégia que exige uma leitura detalhada das demandas sociais e culturais em constante transformação, articuladas por especialistas.

Essa análise de dados, entretanto, não é apenas técnica, mas profundamente política. Como argumenta Vladimir Safatle, os afetos moldam as relações sociais e políticas, movendo corpos e subjetividades. Afetos como o medo, a esperança ou a raiva estruturam práticas sociais e influenciam o imaginário coletivo. Por isso, a comunicação revolucionária deve mobilizar afetos, conectando-se genuinamente às pessoas, não apenas como consumidores, mas como sujeitos políticos.

A análise de dados não se resume a indicar horários para postagem ou identificar as redes sociais mais usadas. Ela representa uma ferramenta essencial para compreender as nuances da sociedade contemporânea, especialmente em um país tão estratificado como o Brasil. Para criar estratégias eficazes, precisamos ir além das métricas superficiais e explorar como os dados nos permitem acessar as múltiplas camadas da realidade social, cultural e emocional que compõem o ambiente digital.

No contexto das redes sociais, cada indivíduo é impactado por múltiplos fatores: idade, gênero, cor, localização, classe social, preferências culturais e até afetos específicos. Esses elementos não apenas definem quem é o público-alvo, mas também o que ressoa com ele, o que o mobiliza e o que desperta seus sentimentos mais profundos. Nesse sentido, a análise de dados nos dá acesso a informações fundamentais sobre as dores, interesses e desejos de grupos específicos. Essa compreensão nos permite criar conteúdos que não apenas informam, mas que se conectam de forma genuína e profunda com diferentes públicos.

A relevância dessa abordagem é evidente quando consideramos que a internet é composta por bolhas de conteúdo. Essas bolhas não são apenas reflexo de algoritmos, mas de realidades sociais que se manifestam no ambiente digital. Pessoas que compartilham a mesma dor, o mesmo contexto ou a mesma luta tendem a formar comunidades virtuais, e é justamente nesse ponto que os dados se tornam uma ferramenta estratégica. Eles nos permitem compreender essas bolhas em sua totalidade, não apenas para penetrá-las, mas para criar conteúdos que dialoguem com elas de maneira significativa.

Por exemplo, uma pessoa que vive em um bairro periférico, utiliza predominantemente o Facebook, pertence a uma determinada faixa etária e consome conteúdos relacionados à luta por direitos sociais pode ser impactada por um conteúdo que não seria eficaz em outro grupo social. O papel da análise de dados é identificar essas dinâmicas e transformar essas informações em estratégias de criação de conteúdo altamente segmentadas. A semiótica, aqui, desempenha um papel essencial: ao decodificar os signos e símbolos que geram afeto e identificação, conseguimos adaptar nossa linguagem, estética e narrativa para dialogar com os diferentes públicos.

Essa abordagem não deve ser confundida com a manipulação de dados que vimos em casos como o da Cambridge Analytica. Pelo contrário, trata-se de um uso ético e consciente dessa ferramenta, que tem como objetivo a mobilização social e a promoção de uma comunicação democrática. É um método para reverter a lógica que a extrema-direita utiliza, empregando os mesmos mecanismos de segmentação, mas com um propósito emancipador.

Com base nos dados e na semiótica, construímos narrativas que emocionam e inspiram ação. Essa abordagem exige não apenas habilidades técnicas, mas também um entendimento sensível das relações humanas e sociais. O marketing digital revolucionário, ao contrário do que a palavra “marketing” pode sugerir, não busca simplesmente vender ideias. Ele busca afetar. É sobre criar conexões autênticas, mobilizar subjetividades e transformar as estruturas de pensamento que sustentam o status quo.

A análise de dados como um espelho da sociedade digital

A análise de dados não é uma oposição às pesquisas tradicionais, mas uma ampliação delas. Ela permite acessar as complexidades das dinâmicas digitais de uma forma que métodos tradicionais não alcançam. Essa profundidade é crucial em uma sociedade como a brasileira, onde a desigualdade e a diversidade tornam qualquer tentativa de comunicação em massa um grande desafio.

Por meio dessa prática, podemos identificar quais temas têm maior apelo em diferentes segmentos da sociedade e como moldá-los para que sejam compreendidos e absorvidos por cada público de maneira distinta. Mais importante ainda, podemos adaptar nosso conteúdo para que ele toque as pessoas não apenas em um nível racional, mas também em suas emoções e afetos, gerando impacto e criando um senso de pertencimento.

Ao compreender a realidade digital brasileira e suas bolhas, conseguimos produzir conteúdos que transcendam as limitações das redes sociais. Em vez de nos comunicarmos com uma massa homogênea, reconhecemos a heterogeneidade dos públicos e desenvolvemos narrativas que se conectam com eles em suas especificidades. Essa é a força da análise de dados aplicada à criação de conteúdo: transformar informações brutas em estratégias que constroem pontes entre pessoas e narrativas, promovendo mudanças significativas na sociedade.

Por fim, essa abordagem exige um rigor teórico e técnico que combine ciências sociais, tecnologia, comunicação e arte. Trata-se de uma estratégia que vai além da simples disseminação de informações; é um processo de transformação social que utiliza o potencial das redes para desafiar estruturas de poder, gerar reflexão e inspirar ação. Essa é a nossa guerrilha: usar as ferramentas do inimigo para criar consciência coletiva e transformar realidades.